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O Desejo Triangular de René Girard

Por:   •  8/1/2018  •  1.180 Palavras (5 Páginas)  •  269 Visualizações

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Vale lembrar outra característica da mediação externa, “admira e imita abertamente sem temer deles nenhuma rivalidade (1972, p. 24)”, entenda-se ‘deles’ como mediadores. Essa relação é clara no caso de Quixote e Amadis – seu herói, o melhor exemplo de modelo de cavalaria que não existe fisicamente para disputar nada com o sujeito Quixote. Com isso, Cervantes é mestre na mediação externa enquanto que para Stendhal, Proust e Dostoiévski lhes caberia o título de os três grandes romancistas da mediação interna, cada um em seu domínio privilegiado. São estes domínios:

“(...) a vida pública e política que é minada em Stendhal através do desejo emprestado. Em Proust, o mal se difunde na vida privada, à exceção do círculo familiar. Em Dostoiévski, o próprio círculo íntimo é contaminado. No próprio seio da mediação interna se pode opor a mediação exogâmica de Stendhal e de Proust à mediação endogâmica de Dostoiévski” (1972, p.29).

Os triângulos do desejo estabelecidos nos três romancistas apresentam um caminhar cujos frutos do próprio desejo são cada vez mais amargos, visto que nem mesmo o círculo familiar está livre da vaidade, do ciúmes, da inveja e do ódio. É nesse sentido que Dostoiéviski revela uma força dissolvente da mediação interna no seio do núcleo familiar de uma forma crua, alienada e até mesmo profana para o imaginário ocidental.

No universo dostoievskiano a distância entre modelo e discípulo chega a seu mínimo na mediação familiar, como é o caso da relação pai e filho, de irmão e irmão, de marido e mulher, ou de mãe e filho. Por isso, a categorização de mediação endogâmica seria um tipo de mediação interna cujo desejo triangular se instaura no microcosmo familiar e faz do mediador um rival detestável. Nesse âmbito, o verdadeiro triunfo da obra dostoievskiana está no posicionamento do mediador na cena, cabendo a este o primeiro plano e ao objeto o segundo. Tal “(...) composição do romanesco reflete, enfim, a hierarquia verdadeira do desejo” (1972, p. 31).

Somente os verdadeiros romancistas revelam a natureza imitativa do desejo, por essa razão, nomes como Cervantes, Flaubert, Stendhal, Proust e Dostoievski são referências, já que desvendam a verdade do desejo em suas grandes obras romanescas. E, por isso, suas obras distinguem-se como gênero romanesco e não como romântico, tendo em vista que “(...) o gênero romanesco está presente quando a verdade dos Outros se torna a verdade do herói, isto é, a verdade do próprio romancista” (1972, p.27).

De fato ler essas obras seria imprescindível a fim de, como sujeitos modernos, nos reencontremos no tempo e aceitemos a verdade da qual a maior parte dos homens passa a vida inteira fugindo, “(...) reconhecer que nós sempre copiamos os Outros a fim de parecermos originais aos olhos deles e diante de nós mesmos. Reencontrar o tempo é abolir um pouco de nosso orgulho” (1972, p. 26).

Referências Bibliográficas

GIRARD, René. Mentira romântica, verdade romanesca. Paris: Grasset, 1972.

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