Os Narradores Itinerantes
Por: Jose.Nascimento • 12/10/2018 • 1.414 Palavras (6 Páginas) • 322 Visualizações
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“À medida que reconstrói essas memórias, relembra momentos, fatos que revelam a intensidade com que foram vividos. Ao mesmo tempo, é notável a maneira como as transforma em linguagem oral” (p. 55 – 56).
“Por outro lado, algumas vezes observa-se que esses padres, visitadores de antigas marcas, criam em seus relatos uma série de quadros representativos do passado como memória, estabelecendo uma proximidade com o que Benjamin denomina cronista [...] Nesse sentido, seus relatos de memória orais apontam ainda para o exercício de reviver experiências, acontecimentos, fatos, possibilitando ao ouvinte transportar-se para o cenário, o contexto reinventado” (p. 56).
“Nesses relatos, a tônica dominante da forma de contar é um exercício de avaliação constante do passado revisitado, em que ao ouvinte é dada apenas a possibilidade de antever uma teia de redes valorativas” (p. 56).
“Esse relato projeta a vivência da pobreza a que estes padres eram submetidos em seu trabalho missionário, que aponta uma prática cultural de respeito às diferenças” (p. 57).
“Esse fragmento de memória revela um sinal de uma prática comum entre setores pobres da sociedade. As pessoas “no meio do caminho”, ao morrer, não deixam marcas, apenas sinais nas memórias dos seus contemporâneos. Dessa forma, com o tempo e as mudanças nas práticas sociais, vão sendo completamente esquecidas” (p. 58).
“A senhora que declinava intenções de transformar a passagem pela casa dos padres em permanência estava rompendo com um pacto, pois mesmo essa casa situava-se como mais um lugar nesse conjunto amplo de práticas sociais” (p. 58).
“Um último aspecto a destacar na história dessa senhora é a preocupação que demostrava com a morte ou, mais propriamente, com a forma como seria sepultada. Embora caminhasse só pelas estradas, não desejava uma morte de indigente. Essa possível contradição de alguém que vivia como indigente, mas desejava morrer como pessoa surpreendeu Jaime e concorreu para que este acontecimento, entre os inúmeros vividos em Xiquexique, se tornasse uma memória recorrente desse período” (p. 58).
“Registra Benjamin [...] citando Pascal, que “ninguém morre tão pobre que não deixe alguma coisa atrás de si. Em todo caso, ele deixa reminiscência, embora nem sempre elas encontrem um herdeiro”” (p. 58).
“Mas esses homens que se apresentam marcados de sabedorias eternas souberam também colocar-se no lugar de aprendizes, e como artesãos ir moldando suas vidas [...] Através de conversas, situações vividas, de desafios cotidianos, foram tecendo histórias suas e dos outros, as quais se constituem como que em anéis que vão sendo transmitidos a todos os que se dispõem a ouvi-los” (p. 61).
“A vivência diária no bairro nos legou algumas familiaridades com os portuários e as mulheres. Surgiu então a primeira dificuldade para a realização do trabalho de reconstrução da memória oral das mulheres. Conversavam, marcavam dia e hora para gravar suas entrevistas, mas não compareciam. Foi então que uma delas comentou: “As mulheres têm muito receio de dar entrevistas gravadas. Geralmente quem faz isso são jornalistas. E estes no outro dia publicam coisas que nós não dissemos.” No entanto, apesar desse temor algumas mulheres concordaram em relatar sua história de vida” (p. 63).
“A criança trabalhadora que ressurge das memórias de Gilda narra o seu lento apaixonar-se pelo filho do usineiro [...] Essa literatura me ajudou a construir uma ponte entre o mundo social em que Gilda estava inserida e a forma como rememora seu agir e seu pensar” (p. 64 – 65).
“Nesse cenário teórico é que situo a memória do antigo morto reconstruída por Manoel Serafim, que institui outra forma de recepção à notícia da violenta repressão ao movimento social rural materializada no assassinato do líder camponês. A reportagem no jornal, em lugar de produzir em Manoel Serafim uma representação de medo ou mesmo de consideração pelo infortúnio de que foi alvo o amigo e líder, gera um sentimento de admiração; por se saber próximo de alguém que aparece no jornal como se fosse “uma grande pessoa”. E a dor da perda se materializa em imaginação poética capaz de esfriar o sol” (p. 70 – 71).
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