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O SUBÚRBIO NA BELLE ÉPOQUE EM “CLARA DOS ANJOS”

Por:   •  3/7/2018  •  1.577 Palavras (7 Páginas)  •  231 Visualizações

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O romance Clara dos Anjos começou a ser escrito em 1904, embora não passasse nessa época do roteiro, nasceu da intenção de Lima Barreto de escrever uma grande obra sobre a história da escravidão negra no Brasil. O livro só foi concluído entre 1920 e 1922 e Lima Barreto não o viu publicado.

A escrita de Barreto, de vanguarda, era apontada como autobiográfica demais por tratar de um universo pessoal, abordando questões e dilemas próprios. O Rio de Janeiro retratado em Clara dos Anjos era o mesmo do cotidiano do escritor, morador do subúrbio, de família humilde que dizia-se vítima do preconceito racial e lamentava por não haver reconhecimento de sua formação intelectual e capacidade produtiva. O crítico Sérgio Buarque de Holanda, no prefácio do romance Clara dos Anjos, (1996, pg.07) escreveu: "A obra deste escritor é, em grande parte, uma confissão mal escondida, confissão de amarguras íntima, de ressentimentos, de malogros pessoais, que nos seus melhores momentos ele soube transfigurar em arte."

Os dilemas do subúrbio inseridos na narrativa de Clara dos Anjos, as reformas urbanas e a sociedade que ele representou nada mais são do que a realidade vivida por ele no século XX.

Lima Barreto relata o cotidiano da família da mulata, filha de Joaquim, um humilde carteiro e de Engrácia, uma simples mulher que cuidava do lar. Clara, que sempre fora preservada pelos pais e mal saia de casa, então é seduzida por um rapaz de uma condição social um pouco melhor que a dela e que no conto se chama Júlio Costa, um cantor de modinha, filho de um funcionário da prefeitura.

Através da personagem Clara, Lima Barreto mostra como era a condição social da mulher negra e pobre no espaço urbano brasileiro.

“Clara dos Anjos inaugura uma linhagem pouco trilhada de romances urbanos cariocas que trazem para a literatura, como sujeito, os excluídos da cidade, a marginália, os moradores de regiões distantes do centro e áreas pobres como as favelas.” (RESENDE, 2004)

Apesar de pobre, Clara possuía boa educação, ao contrário de Júlio que mal sabia escrever e ganhava a vida com práticas ilegais, fora os trocados que recebia da mãe superprotetora. Ao fim do conto, Júlio consegue o consentimento de Clara para pular a janela de seu quarto e após algum tempo, a moça descobre que está grávida.

Depois de conversar com a mãe, Clara vai até a casa de Júlio, fala sobre sua gravidez e pretensão de casar com ele, entretanto, é humilhada pela mãe do rapaz, num misto de racismo e preconceito social. Ao fim, Clara toma consciência da sua condição de inferioridade social, dizendo a mãe que não era nada na vida.

Pelo contexto da época, pode-se entender bem o que Clara quis dizer em sua fala final no conto. Nesse período a vida em família voltava-se principalmente para as camadas mais privilegiadas da população. Já as jovens dos segmentos mais populares, negras, mestiças, eram menos protegidas e estavam sujeitas à exploração sexual, como aconteceu com outras jovens vítimas de Júlio Costa, que jamais foi punido por tê-las deflorado.

“Não é preciso, portanto, mencionar todos os capítulos desse romance para que se chegue a uma consideração [...] de que Lima Barreto contempla o imaginário social que se forma pela base de pessoas comuns, conseguindo, assim, revelar a busca por uma sociedade igualitária, embora se mostre esfacelada e caótica perante o olhar do autor.” (SILVA, p. 136-144)

Em Clara dos Anjos, o autor não separa a obra literária dos acontecimentos reais, narrando a situação das famílias cariocas no início do século XX, atentando para a maneira de agir de alguns grupos sociais – como a família de Júlio com relação à Clara por ser mulata e pobre.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:

BARRETO, Afonso Henriques de Lima. Clara dos Anjos. São Paulo: Saraiva, 2002., p. 74.

CARVALHO, José Murilo de. Os bestializados. São Paulo: Companhia das Letras, 1987

ENGEL, Magali (org.) Crônicas Cariocas e Ensino de História. RJ: 7 Letras, 2008

FURTADO, Fabiana Câmara. Perfis da Belle Époque brasileira. Uma análise das figuras femininas de Lima Barreto. 132 f. Dissertação (Mestrado em Teoria da Literatura) – Universidade Federal de Pernambuco. Recife, 2003.

HOLANDA, Sérgio Buarque de. Prefácio. In: BARRETO, Afonso Henriques de Lima. Clara dos Anjos e outras histórias. 14ª. ed. Rio de Janeiro: Ediouro, 1996

LEFEBVRE, Henri. Espaço e política. Tradução de Margarida Maria de Andrade e Sérgio Martins. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2008.

RESENDE, Beatriz & VALENÇA, Rachel. Toda Crônica. Lima Barreto 1919-1922. Apresentação e notas de Beatriz Resende; organização de Rachel Valença. Rio de Janeiro: Agir, 2004

SEVCENKO, Nicolau. História da Vida Privada no Brasil: Da Belle Époque à Era do Rádio Vol.3. São Paulo: Companhia das Letras, 1998.

SEVCENKO, Nicolau. Literatura como missão: tensões sociais e criação cultural na Primeira República. 2. ed. São Paulo: Companhia das Letras, 2003.

SILVA, Adriana Carvalho. A Leitura

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