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INFÂNCIA PERDIDA O INÍCIO EM ARROIO GRANDE

Por:   •  6/7/2018  •  8.777 Palavras (36 Páginas)  •  318 Visualizações

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Se para um homem, não eram pequenas as dificuldades, para uma jovem viúva os problemas eram muito maiores. As viagens de compra e venda, o comando sobre os peões, a vigilância contra intrusos tarefas exclusivas para homens que uma mulher da época não poderia executar. Para sorte de Mariana, ela pertencia a uma família influente na região, pode suprir algumas dificuldades enfrentadas pela viúva.

Por algum tempo Mariana desenvolveu um papel triplo: mãe – dona-de-casa – fazendeira. Ela resolve colocar o filho Irineu para estudar, o que não foi bem visto na região, pois não consistia numa atividade útil.

Após 3 anos nesse papel a jovem viúva cede às pressões familiares e aceita um novo casamento com João Jesus e Silva, mas para isso teve que renunciar aos próprios filhos, já que o novo senhor não queria os filhos de um outro pai na estância.

A solução veio rapidamente: casou sua filha Guilhermina de onze anos com José Machado e Silva, o menino Irineu teria ido morar com a avó se o irmão de Mariana, José Batista de Carvalho não aparecesse na cidade. Esse irmão havia tomado outro rumo na vida, era um comandante de navio de um dos grandes comerciantes do Rio de Janeiro.

João Batista de Carvalho veio com a idéia de levar o sobrinho para seguir uma vida parecida com a sua. Mariana aceitou a proposta do irmão. Ao menos Irineu usaria o que sua mãe tinha lhe ensinado o que naquela terra valia tão pouco.

1.2. A VIAGEM AO RIO DE JANEIRO

Antes mesmo de sua mãe se casar, o pequeno Irineu Evangelista de Souza deixou sua casa rumo ao Rio de Janeiro. Partiu com um grupo à cavalo. Sua família e fazenda tornaram-se apenas uma lembrança. Após deixar a cidade a pequena tropa seguiu viagem até o navio de João Batista.

Houve uma curta escala em Rio Grande para que o tio de Irineu supervisionasse o embarque das mercadorias e verificasse o estado do navio. Nesse ínterim, um menino de nove anos sobe ao navio e dali para frente era apenas o mar até o seu destino o que levaria pouco mais de um mês.

O dia da chegada de Irineu foi cheio de novidades, já que o menino acostumado à vida na fazenda não imaginara um dia ver uma cidade grande, imensamente maior que as vilas gaúchas.

Irineu desembarca junto com seu tio na baía de Guanabara no Rio de Janeiro em 1823. Assim que pisou em terra firme, o menino Irineu não sabia o que olhar primeiro, já que o largo do Paço tinha de tudo: desde o palácio do imperador, que ali se localizava, até escravos que por ali perambulavam.

Para aquele menino que ainda não conseguia diferenciar as coisas da cidade, havia muito mais para se olhar. Havia um grande número de pessoas, formando uma multidão de tipos desconhecidos. Depois de passar por tantas pessoas, aquele menino deslumbrado se aproximava de seu ponto final, passando pela Rua Direita[2].

Levado por seu tio, entrou na casa de número 155, sede dos negócios de João Rodrigues Pereira de Almeida. Pelos próximos anos, João faria papel de pai e senhor do jovem Irineu.

2. A DESCOBERTA DO COMÉRCIO

Arroio Grande – viagem – Rio de Janeiro. Um menino acostumado à vida do campo se vê agora na cidade, pronto para um novo tipo de vida e para o seu primeiro emprego.

2.1. O PEQUENO IRINEU SE TORNA CAIXEIRO

Enquanto tentava se acostumar com o ambiente repleto de mercadorias, Irineu foi sendo apresentado aos seus novos companheiros de trabalho que não mostraram surpresa com a chegada de um garoto de apenas 9 anos de idade, surpreso e acanhado, pois se encontravam em uma época que um menino de 7 anos era considerado um “rapaz” e aos nove anos já era uma idade considerada boa para se tornar um caixeiro. Era comum jornais publicarem anúncios como este:

“Quem tiver para arrumar um rapaz pequeno, vindo do Porto, e se houver algum que tenha prática no negócio de molhados, dirija-se à Rua do Conde, número 39”[3].

Se colocarmos essa situação nos dias atuais avaliaremos a infância como uma fase da vida totalmente distinta da vida adulta, o que não ocorria na época, pois era normal crianças assumirem responsabilidades dos mais velhos, também era normal moradia se misturar com local de trabalho, foi o que aconteceu com Irineu que passou a viver no emprego. De noite como muitos caixeiros dormia em cima das mercadorias e durante o dia usava o balcão como mesa de refeições[4]. Era algo tão comum que até nas leis[5] regulamentavam moradia no emprego como parte dos ganhos dos caixeiros. Às vezes o “benefício” da moradia era mais importante que o próprio dinheiro. Também era comum os caixeiros receberem seus salários após um longo período de treinamento, nesse meio tempo eles só recebiam moradia e refeição.

Algum tempo depois de deixar Irineu aos cuidados do comerciante, o tipo partiu para um longa viagem. Irineu aprender o ofício como todos, fazendo o que os mais velhos mandaram. Conhecendo o pessoal, conheceu também os seus primeiros problemas pois não eram muito comum trabalharem no comércio nativos do Brasil, pois a Coroa evitava de todos os meios que os habitantes trabalhassem no comércio para evitar assim que a Colônia controlasse as atividades comerciais.

Na tradição de trazer garotos europeus Saint-Hilaire[6] notou forte preconceito. Assim que começou a comprar as primeiras tarefas externas, levando e trazendo recados para negociantes vizinhos, foi aí que ele percebeu o preconceito que os brasileiros do comércio sofriam.

Naquele momento, “independência” poderia significar comércio para os brasileiros. Logo nas primeiras décadas do século XIX, o comércio somava as atividades de indústrias, finanças e serviços e tudo, que ainda se entende por comércio.

Na época em que Irineu chegou ao Rio de Janeiro os caixeiros portugueses e os nativistas brigavam sem parar nas ruas, pois toda vez que os adversários da independência precisavam de gente para lutar, juntavam os seus caixeiros.

Para vencer as barreiras deste preconceito Irineu optou responder a tudo com trabalho e estudos, sem se meter nas brigas que não lhe diziam respeito.

Existia uma relação de dependência entre comerciante e caixeiro que no caso de Irineu atuava a seu favor já que Irineu era um caso raro de dependência atenuada, pois o garoto era sobrinho do capitão de um dos navios de Pereira Almeida.

Após vencer a etapa de adaptação o garoto Irineu havia enfrentado os preconceitos e progredido na carreira, ele agora queria cair nas

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