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A CONCEPÇÃO DE AMOR EM AGOSTINHO

Por:   •  4/12/2018  •  7.059 Palavras (29 Páginas)  •  531 Visualizações

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Quando Deus criou o mundo e todas as coisas, em um determinado momento foi criado também os anjos, quando Deus diz: faça-se a luz e a luz foi feita, pode-se dizer que essa luz era então a criação dos anjos, os mesmos são participes da luz eterna (AGOSTINHO, A cidade de Deus, XI, IX).[12] Assim na origem da cidade de Deus, primeiramente aparece a sociedade dos anjos.[13]

Quando Deus cria a sociedade dos anjos, o mesmo não menospreza a origem do ser humano, sendo que a origem da sociedade dos homens vem logo após a sociedade dos anjos. Sendo que a criação da sociedade dos anjos, os mesmos apontariam o homem para o caminho reto e bom, para o caminho da perfeição, que se dá através do mundo inteligível, isto é, para o céu. Sendo o céu lugar onde viveremos a perfeição, perfeição esta que já se deve buscar na cidade dos homens, essa perfeição será buscada pelos homens que a Deus se voltarem com sinceridade, porém, a plenitude da perfeição do homem será alcançada somente no juízo final, no seu encontro cara a cara com Deus. [14]

Ao falar da criação do homem Agostinho nos diz:

Já é hora, segundo penso, de falarmos da origem criacional dos membros, recrutados entre os homens mortais para se unirem aos anjos imortais, da Cidade que agora peregrina mortalmente na terra ou descansa nas secretas moradas das almas daqueles que já renderam tributo à morte, com se fez, quando se tratou de anjos. O gênero humano origina-se de um só homem, o primeiro que Deus criou, segundo o testemunho da sagrada escritura, que goza de maravilha autoridade, não merecida, no orbe da terra e em todas as nações, e predisse com inspiração divina, entre outras verdades, que haveriam de crer nela. (AGOSTINHO, XII, IX).[15]

Então, nasce a partir desse momento o primeiro ser humano, Adão, após vem a mulher, Eva. Os dois foram criados conforme a vontade de Deus, prometidos para a cidade celeste, porém, os dois passaram a viver na cidade celeste a partir do momento que amarem somente a Deus e não cometerem pecados, fugindo da vontade de Deus. Porém, os dois são livres, e, a partir desta liberdade podem pecar.[16]

1.1.3 A origem da cidade terrena

A intenção da cidade dos homens se volta a criação de divindades. Essas divindades não correspondem à cidade de Deus, pois, as mesmas são fantasiosas como criações humanas, e também como culto e profissão de crenças em deuses que amam o erro, sendo que esses deuses não conduzem à vida eterna.[17] Isso significa que Deus nunca criou espíritos maus, porém, os mesmos são dotados de liberdade e a maldade se deu pela liberdade deles: Quando Deus criou os mesmos, eles foram bons (AGOSTINHO, A Cidade de Deus, XI, XI).[18]

A primeira vista podemos, perceber a veracidade da realidade existente como sociedade dos anjos: de anjos maus, foram criados para serem bons; e, dos anjos que chamamos de bons, que começaram a ser trevas (AGOSTINHO, A Cidade de Deus, XI, XI).[19]

Quando se fala da cidade de Deus, da cidade dos homens, cidade de anjos bons e dos maus, logo surge-se um questionamento: Perante tudo o que foi exposto em relação a cidade de homens e anjos, existe quatro cidades ou sociedades? Agostinho explica que não, são realmente duas cidades ou sociedades, sendo duas humanas e duas angelicais, mas apenas duas cidades, dos homens bons e maus, homens ou anjos (AGOSTINHO, A Cidade de Deus, XII, I).[20]

O homem foi criado livre, podendo decidir todos os seus atos, sem a interrupção de Deus. Na origem do mundo, o primeiro homem a ser criado foi adão, o qual desobedeceu a Deus, atraído por sua mulher, que, por sua vez, fora seduzida pela serpente, comendo, assim, do fruto proibido. A mulher de Adão deu origem a duas crianças; Caim e Abel. Eles oferecem, então, sacrifícios a Deus, conforme o costume religioso da época. Deus se agradou mais do sacrifício de Abel, o que provocou inveja no seu irmão Caim que, por vontade livre, tira a vida de Abel. Nasce, assim, a cidade dos homens.[21]

A cidade dos homens nasce por causa da inveja que se estabelece na vontade do homem, Caim. O homem não é dotado apenas de inteligência, mas, também de emoção, relacionamentos. O homem é pessoa que precisa ouvir e admitir que é instigado ao transcendente. Quando Caim, por sua própria vontade, tira a vida de seu próprio irmão, por causa de egoísmo, inveja, logo percebe-se que Caim ama a si próprio.[22]

1.2 Amor segundo Agostinho

Agostinho viveu durante nove anos, uma vida de erros e desencontros, que teve início aos dezenove anos e foi até aos vinte e oito. O filósofo era cercado de paixões, deixa-se seduzir pelas mesmas e, ao mesmo tempo, também seduzia, era enganado e enganava. Buscava, em certos momentos de sua vida, aplausos, vanglória, jogos florais e vivia paixões desordenadas (AGOSTINHO, Confissões, IV, 1).[23]

Santo Agostinho, em seu pensamento ético sobre o amor, tem como centro o amor caritas, palavra de origem latina que significa caridade. A caridade é o amor cristão que move a vontade e a busca efetiva do bem de outrem.[24] O filósofo ainda salienta que o que se leva a Deus é a “Caritas”, que é amor a Deus.[25]

Por isso firma:

A caridade consiste principalmente num peso interior que atrai a alma para Deus. Por outro lado, se diferencia de todas as outras modalidades de “amor”, pelo fato de referir-se exclusivamente a seres pessoais. O amor a uma pessoa difere do amor a uma simples coisa. Amamos as coisas em atenção à nossa própria pessoa, a cujo serviço elas perdem sua existência, como sucede com uma iguaria que se ama e se consome. O amor puro, sincero e generoso a um ser pessoal, ao contrário, visa a pessoa como tal, e em si mesma. O que não quer dizer que a caridade não atende também seu próprio bem. Amar sinceramente a outrem significa amá-lo como a nós mesmos, o que só é possível num plano de igualdade: quer elevando-o ao nosso nível, quer elevando-nos ao plano da pessoa amada.[26]

Agostinho afirma que o amor é sentimento universal. Além de ser um sentimento universal é também um meio indispensável para guiar a alma em busca do encontro com Deus. A grande dificuldade do amor é o homem descobrir como fazer o amor ser amado e levá-lo a um encontro pessoal com Deus e salvar a própria alma.[27]

Para Agostinho, existem dois tipos de amores: amor às coisas e amor à pessoa. Quando se trata do amor à pessoa, que é então o amor caritas, como já citado acima, o filósofo divide em três tipos: amor à pessoa de Deus, amor pelo próximo e o amor a

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