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Ossos do Ofício: A precarização das condições de trabalho nos jornais impressos de Mossoró

Por:   •  4/12/2017  •  18.228 Palavras (73 Páginas)  •  277 Visualizações

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O centro desse trabalho passa pela discussão acerca da precarização das condições de trabalho no jornalismo impresso de Mossoró. A partir de uma avaliação objetiva da situação das redações e do relato de profissionais acerca do dia-a-dia de trabalho empreende-se um debate político e social visando localizar o jornalista e trabalhador em meio à crise dos meios de comunicação. As agonias, dificuldades, humilhações e desrespeitos que os profissionais são impostos todos os dias em seu ambiente de trabalho são discutidas em paralelo com uma análise sobre as motivações que levam o trabalho jornalístico a ser tão precarizado e quem de fato ganha com isso. Nesta perspectiva é relevante analisar os segundos e terceiros empregos de jornalistas, fontes de sobrevivência para uma categoria que se acostumou aos atrasados de salários e não pagamento de direitos.

Atrelado a isso, vem a discussão acerca do assédio moral, prática corriqueira e violenta nos espaços de trabalho, que atinge uma série de trabalhadores e trabalhadoras das redações de Mossoró. Através de gritos, humilhações, piadas e xingamentos, mas também através da própria precarização das condições de trabalho e a suas imposições aos profissionais das redações. Faremos um recorte especial sobre o assédio moral que recai sobre as mulheres, por entender que qualquer tipo de violência que atinja a classe trabalhadora, vai atingir as mulheres de forma mais acentuada, já que vivemos em uma sociedade extremamente machista, que carrega consigo os traços do patriarcado.

Por fim, vamos observar a presença do sindicato dos jornalistas nas redações de Mossoró, a impressão dos profissionais sobre sua atuação e a visão de seus dirigentes acerca da situação estrutural das redações de Mossoró. Tal análise vem com o objetivo de localizar esse trabalhador jornalista, na tentativa de entender o porquê de seu comportamento, o afastamento das lutas e as possibilidades para uma nova realidade para a categoria.

1. MOSSORÓ E SEUS TRÊS JORNAIS IMPRESSOS

Mossoró, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE)[1], é uma cidade que possui população estimada de 259.815 habitantes, distribuídos em uma zona terrestre de aproximadamente 2.099,360 quilômetros quadrados. É um município localizado no oeste potiguar, na faixa geográfica do país conhecida como semiárido. Sua economia, historicamente, é baseada na fruticultura, na produção salineira e especialmente na extração de petróleo.

Até 1772, Mossoró não passava de uma simples fazenda. A sua fundação data da construção da Capela de Santa Luzia, por Antônio de Souza Machado, agraciado com a patente de Sargento-mor pelo Governo da Capitania do Ceará-Grande. Por esse motivo, a data da provisão para construção da Capela e a da Fundação de Mossoró se fundem numa só. Tendo constituído suficiente patrimônio para edificação da igrejinha, solicitou o nosso fundador, permissão para tal. Em provisão datada de 5 de agosto de 1772, o Padre Inácio de Araújo Gondim, vigário colado da Freguesia de Santo Amaro de Jabotão, visitador geral dos sertões do norte, concedeu a licença pedida e autorizou o Rev. Cura João de Paiva a benzer a primeira pedra (ROSADO, 2006, pag. 28)

Podemos dizer que o passar dos anos elevou Mossoró de uma simples fazenda a grande município, de destaque entre as cidades da região, destaque este que lhe rendeu até a alcunha de “capital do oeste potiguar”. O município é polo no semiárido do Rio Grande do Norte, tendo grande preponderância socioeconômica, cultural e simbólica sobre as outras cidades menores que se localizam em sua proximidade.

Diante desta realidade, pode-se dizer que os meios de produção da notícia em Mossoró, os veículos de comunicação, consequentemente passaram a ter um reconhecimento e uma importância, por parte de milhares de pessoas das mais diversas cidades do interior do Rio Grande do Norte, que através das páginas dos jornais impressos, das informações veiculadas nas rádios e até mesmo nas notícias propagadas nos canais de televisão local, recebiam e recebem conteúdo diário. Tal abrangência parece ter sido fundamental para o crescimento dos grupos de comunicação do município, visto que se comparados aos de outras cidades do interior do estado (leve-se em consideração o porte das cidades), as empresas locais são bem maiores, mais reconhecidas e bem-sucedidas.

É necessário voltarmo-nos agora para os jornais impressos da cidade e suas redações, visto que são nosso objeto de pesquisa. Jornal O Mossoroense, Gazeta do Oeste e Jornal De Fato são os três periódicos diários com circulação em Mossoró e região no presente momento. Representantes do jornalismo impresso mossoroense em sua era, as três empresas empregam dezenas de profissionais, entre jornalistas, diagramadores e fotógrafos são palco da produção de parte das notícias divulgadas todos os dias, no país e em suas circunvizinhanças. Separados por anos de diferença de fundação e linhas políticas e editoriais hoje bem definidas, os jornais impressos da cidade serão, neste trabalho, o cenário de análise que viabilizará a observação da precarização das condições de trabalho, sua influência na produção da notícia e um confronto silencioso e cada vez mais importante entre os setores comerciais das empresas de comunicação e os trabalhadores da redação.

1.1 O Mossoroense

O Jornal O Mossoroense é o mais antigo entre os periódicos em atividade na cidade de Mossoró. Sua fundação se confunde com o surgimento da imprensa no município, visto que foi com o até então semanário, que a capital do oeste potiguar teve seu primeiro veículo impresso de notícias. Fundado por Jeremias da Rocha no ano de 1872, com atuais 142 anos, o periódico é hoje um dos jornais em circulação mais antigos da América Latina. O pesquisador Cid Augusto Rosado, hoje por acaso, chefe de redação do O Mossoroense conta parte da história do surgimento do O Mossoroense em sua obra “Escóssia”:

Em 17 de outubro de 1872, com o apoio de José Damião de Souza Melo e Ricardo Vieira do Couto, Jeremias da Rocha fundou o Jornal O Mossoroense, órgão do partido Liberal destinado a combater os conservadores, chefiados na cidade pelo Vigário Antônio Joaquim (p.108).

O jornal de Jeremias, semanário de quatro páginas, nasceu no primeiro período do jornalismo brasileiro, que se estendeu de 1808, com o surgimento da Gazeta do Rio de Janeiro, pertencente ao governo monárquico e do Correio Braziliense ou Armazém Literário, de Hipólito da Costa, até o ano de 1880

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