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Análise Imagética: "O Eclipse" (Michelangelo Antonioni, 1962)

Por:   •  18/4/2018  •  873 Palavras (4 Páginas)  •  252 Visualizações

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filme são dedicados à esse ruído que nos cerca, à tudo que perpassou a existência do casal (e a nossa) nas últimas duas horas, e que continua existindo, uma existência viva, na sua ausência. O mistério que nos prende ao filme ainda persiste, e se adapta à uma nova indagação - se antes queríamos saber os rumos da relação, ansiávamos pela estagnação que a definiria permanentemente, agora colocamos a relevância da sua própria existência em em questão, diante de uma nova perspectiva.

A falta de explicação para o desaparecimento do casal nos incita a procurar por vestígios dele, de algum dos padrões dessa relação, de qualquer coisa que remeta à essas duas pessoas, na paisagem urbana. O homem e a mulher da imagem que analisamos haviam acabado de apontar, neste mesmo plano, para um avião (que cruza o céu no plano anterior). A personagem de Vittoria é marcada pela afetação por várias coisas aparentemente banais do ambiente à sua volta, as que costumam fugir ao radar das outras pessoas, se encantando de uma maneira tão sincera que remete ao infantil. Ao passo que se fascina facilmente pelas coisas, sua linguagem corporal e colocação em cena revelam um desconforto muito grande, tanto em relação ao espaço quanto à presença masculina.

A aparição humana do pescoço para cima, nesta imagem, é uma das maneiras nas quais Vittoria é enquadrada. Ela evoca o sentimento de sufoco, de engasgo, da personagem como um sentimento compartilhado, causado pela cidade que ao mesmo tempo que é comum à todos, seu lar, é também estranha e intimidadora. A pequenez das pessoas nos planos ultra abertos também reforça esse sentimento. Elas sempre cruzam o quadro ou são cortadas por ele, tanto em seu interior (através dos enquadramentos sobrepostos, marca registrada de Antonioni) ou quanto pelas margens do quadro, existindo em fora de campo. O uso exarcerbado do fora-de-campo em "O Eclipse" reafirma que o que presenciamos é só um recorte de tudo o que existe, apenas um ponto de vista sobre um determinado aspecto da vida de determinado personagem, frisando a multiplicidade de todas as outras escolhas possíveis. Isso faz com que o filme transborde para fora da tela, para fora de suas estruturas (visíveis e tangíveis), adentrando o território do espectador em sua desterritoraliedade, e, paradoxalmente, nos cedendo espaço de sobra para que projetemos nossas próprias questões na imagem.

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