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Trabalho Etnografico Sobre o Ritual do Santo Daime

Por:   •  17/3/2018  •  2.553 Palavras (11 Páginas)  •  362 Visualizações

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1 – TEMPO, ESPAÇO E PRIMEIRAS IMPRESSÕES

No dia 15 de março de 2016, por volta das 18:30h chegamos ao Centro de Iluminação Cristã Raimundo Irineu Serra com muita curiosidade, o que já é de se esperar ao visitar algo no qual não é muito difundido na cidade como ocorre com outras religiões. Vale lembrar que antes de visitarmos a igreja, preenchemos uma ficha chamada de ficha de anamnese, que serve para saber principalmente se o visitante sofre de algum distúrbio mental, se utiliza drogas ou toma algum remédio controlado. Uma das pesquisadoras, a Dayanne, já havia visitado o centro outras vezes, porém neste dia havia sido diferente, pois nunca tinha ido com o intuito de observar tudo o que envolvia o trabalho espiritual. Neste dia o tempo colaborou conosco, pois a noite estava muito bonita, com uma lua admirável. Nós estávamos vestidas de acordo com algumas normas da instituição, nada de roupas escuras e nem mostrando ombros, colo ou barriga. A Aline estava vestida com um vestido azul claro abaixo dos joelhos e um casaco branco e a Dayanne com um vestido longo branco. Os modelos e cores de roupas se repetiam a cada pessoa que ia chegando, as mulheres utilizavam saias e vestidos de cores claras e os homens calças brancas e camisas claras. Branco, amarelo, verde e azul se via por toda parte. A farda utilizada no dia era a branca – que na verdade possuía muitos detalhes verde escuro e várias fitas coloridas vindo dos ombros e se estendendo até os joelhos, no caso das mulheres – e, era a vestimenta que predominava no dia, assim como em todos os trabalhos, já que o número de fardados é geralmente maior que o de visitantes.

O trabalho começaria às 20:00, porém chegamos mais cedo para observar o máximo de coisas possíveis. Assim que chegamos, tratamos de nos acomodar próximo à entrada da igreja. Ficamos sentadas em frente à um dos quartos que acomodam os visitantes, próximo à cozinha, e uma posição estratégica para conseguir ver quem chegava. As pessoas que frequentam o Centro de Iluminação são as mais variadas possível em relação ao seu meio social. É possível encontrar médicos, advogados, estudantes, artesãos, ex viciados, entre outros. A faixa etária também é bastante diversificada, onde encontramos idosos, jovens e até mesmo crianças. O mais interessante no meio de toda essa diversidade é ver que todos se tratam com o mesmo respeito, com um nítido sentimento de irmandade.

Depois que boa parte dos participantes do trabalho havia chegado, pedimos autorização ao dirigente do trabalho, Hugo Fonseca Neto, para ver o ambiente onde ocorreria o ritual mais de perto. Com a autorização do mesmo, nos dirigimos primeiro ao túmulo do fundador da igreja em São Luís, o Padrinho Daniel Serra. Logo após visitamos o Congá, que é uma espécie de altar onde se tem várias representações da doutrina, como imagens, Cruz de Caravaca, o Santo Rosário, imagens do Mestre Irineu e Padrinho Daniel Serra e etc. A Cruz de Caravaca é uma cruz com dois braços, assim como o Santo Cruzeiro e o Santo Rosário tem grande importância para a doutrina do Santo Daime e é tida como um símbolo de fé redobrada. A cruz principal se localiza em frente ao espaço onde ocorrem os trabalhos espirituais e os daimistas a “saudavam” sempre que entravam no salão.

2 – O RITUAL E AS SENSAÇÕES

Por volta das 20h00min o trabalho espiritual se iniciou. Na mesa central do salão ficavam os dirigentes do CICEBRIS, entre eles Dona Otília Serra e Maria Serra, esposa e filha e de Daniel Serra, respectivamente. Hugo Fonseca Neto era quem dirigia o trabalho. Mais atrás da mesa ficavam os cantadores e cantadoras que, apesar de todos cantarem os hinos, eram quem puxavam. Os fardados ficavam mais próximos à mesa e nas margens os não fardados. Um fato interessante foi observado: as mulheres e os homens ficam separados, do lado esquerdo as mulheres e do lado direito, os homens. De frente para a Cruz de Caravaca ficava a “banda” do Centro, que são os fardados que tocam os instrumentos – violão, sanfona, guitarra, entre outros. – que conduziam o hinário.

O salão onde ocorrem os trabalhos espirituais possui um teto que se assemelha com um arraial: várias bandeirinhas de todas as cores que iam do centro às extremidades do telhado. Também havia alguns filtros do sonho. No centro do salão há uma grande mesa, onde pudemos observar porta-retratos com fotos do Mestre Irineu, taças de água, recipientes com a bebida do Santo Daime, rosários, maracás, dentre outros objetos. Logo na entrada do salão, se encontra uma mesa onde todos os presentes nos trabalhos devem assinar logo quando chegam. Nesta mesma mesa é onde os daimistas fazem contribuições em dinheiro para a manutenção do espaço em si. No fundo do salão fica os banheiros e dois dormitórios, um de cada lado, pois os homens não podem adentrar o espaço das mulheres e vice-versa. Dividindo os quartos, encontra-se uma espécie de cozinha, que é onde é distribuída a bebida.

O ritual começou, assim como em toda a sua extensão, com muita música. A “orquestra”, o som de muitos maracás e todos cantando a uma só voz formaram lindos hinos, que saudavam o Mestre Irineu, a doutrina e a natureza. Alguns hinos traziam também alguns ensinamentos, como o que dizia que “é preciso confiar em si mesmo para ser pela doutrina resguardado”. O bailado também dava um brilho todo especial. Todos dançando de um lado para o outro em pequenos passos, onde seguimos também. Sempre após o fim de um hino todos paravam o bailado e de chacoalhar o maracá em uma bela sincronia. Neste momento, o Senhor Hugo puxa algumas saudações, como: “viva a rainha da floresta”; “viva a madrinha Otília”, e os outros respondem com um fervoroso “viva”.

A felicidade no rosto de todo os participantes do trabalho é nítida, predominando um ar de calmaria e conforto. Após alguns hinos, há a parada onde será servida a bebida sagrada Ayahuasca. Homens e mulheres formam a fila, cada um de seu lado. Resolvemos não tomar a bebida para podermos analisar mais claramente o resto do ritual, pois a mesma traz alguns efeitos, que são tidos pelos daimistas como um aumento da consciência de si mesmo. Depois de tomado o Santo Daime, há um pequeno intervalo para descanso e logo todos voltam ao salão pra continuar o bailado. A partir desta etapa do ritual a ordem começa a diminuir um pouco, pois os efeitos da bebida começam a serem sentidos e algumas pessoas sentem a vontade de vomitar, de ir ao banheiro ou beber água, ou mesmo de ficar sentados por um momento, já que depois de tanto bailado é natural que o cansaço comece a chegar. No espaço do salão há algumas cadeiras exatamente

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