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O Cortiço e os Cortiços Cariocas

Por:   •  21/2/2018  •  3.575 Palavras (15 Páginas)  •  235 Visualizações

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3. POSITIVISMO E DETERMINISMO:

O Positivismo é uma doutrina filosófica, sociológica e política criada por Auguste Comte (1798 – 1857) que surgiu no início do século XIX. Em uma definição concisa, tem-se que o mesmo representa os valores e a existência humana com explicações humanas, afastando assim a religião, teologia e metafísica. Para Comte, toda sociedade humana passa por três estágios básicos até que no último chega na sociedade dita como evoluída. Primeiramente, a sociedade vive em um estado teológico, em que a crença no sobrenatural se mostra mais forte, a compreensão se dá através da imaginação. Num segundo estágio, há as explicações pela metafísica, em que há a crença na natureza porém não há explicações científicas, apenas a observação e por último, segundo Comte, o estágio em que a sociedade moderna se encontra, o estágio positivo, em que prevalece explicações comprovadas cientificamente, ou seja, as leis científicas imperam nesse contexto.

Cada proposição enunciada de maneira positiva deve corresponder a um fato, seja particular, seja universal. Isso não significa, porém, que Comte defenda um empirismo puro, ou seja, a redução de todo conhecimento à apreensão exclusiva de fatos isolados. (CIVITA (org.), 1978, p.18)

O livro “O Cortiço” foi escrito em 1890, no Brasil, as ideias positivistas estavam em voga. Um exemplo disso é que no ano anterior, havia sido proclamada a república no Brasil, em que o lema foi “Ordem e Progresso”, ligação clara com o positivismo e uma das máximas de Comte: “O amor por princípio e a ordem por base; o progresso por fim”. Na obra de Aluísio Azevedo, pode-se perceber também que Deus não é citado, normalmente populações mais pobres possuem grande fé, sendo esse mais um exemplo do cientificismo positivista que o livro possui.

Já a teoria determinista refere-se a seu nome: o ser é determinado a ter um comportamento por conta de seu meio. Esse meio pode ser geográfico, econômico, histórico etc. No caso da obra analisada, percebe-se que o determinismo a ser mais considerado (estuda-os separadamente, porém, normalmente há mais de um caso aplicado ao mesmo tempo quando se faz análises utilizando do determinismo) é o determinismo econômico conjugado ao determinismo geográfico. As pessoas que vivem no cortiço são pobres, por isso se submetem àquela situação. A convivência no local, segundo Aluísio, transforma essas pessoas. O maior exemplo é Jerônimo, que ao ir morar no cortiço, teve seus valores transmutados e de homem digno, apaixonado pela mulher, transformou-se num adúltero bêbado que é capaz de assassinar um homem por paixão.

Ao analisar que uma obra pode ter influência dessas duas correntes em um primeiro momento pode-se mostrar contraditório, porém, deve-se levar em conta que o determinismo faz uma análise sociológica sobre uma região, e no positivismo, Comte analisa as várias ciências e considera a Sociologia como a ciência mais avançada e que todas caminham para chegar ao nível de complexidade da mesma.

4. VIDA EM UMA HABITAÇÃO COLETIVA DE PESSOAS POBRES (CORTIÇO) NO RIO DE JANEIRO NO SÉCULO XIX E INÍCIO DO SÉCULO XX:

O enredo principal do livro se passa na cidade do Rio de Janeiro, no século XIX, em um Brasil escravocrata, em um conjunto de residências unificadas conhecidas por ser um cortiço. Normalmente, cada família aluga um cômodo, dividindo banheiro e áreas comuns como cozinha, copa, área de serviço e quintal.

As casas transformadas em cortiços possuíam péssimas condições: antigas e má conservadas. Os pequenos quartos abrigavam muitas pessoas, dormiam no chão e apertadas, animais também ficavam confinados a tão tenro espaço.

Enquanto as portas surgiam cabeças congestionadas de sono; ouviam-se amplos bocejos, fortes como o marulhar das ondas; pigarreava-se grosso por toda a parte; começavam as xícaras a tilintas; o cheiro quente do café aquecia, suplantando todos os outros; trocavam-se de janela para janela as primeiras palavras; os bom dias; reatavam-se conversas interrompidas à noite; a pequenada cá fora traquinava já e lá dentro das asas vinham choros abafados de crianças que ainda não andam. (AZEVEDO, 2009, p.33)

Essa população dos cortiços brasileiros normalmente é composta por portugueses que buscavam trabalho na capital e por negros e mulatos, escravos alforriados. Há também uma divisão visando o trabalho: haviam os trabalhadores, aqueles que trabalhavam regularmente, porém recebiam miseravelmente, não tendo condições de se mudar para uma melhor área e os vagabundos, aqueles que viviam de “bicos”, trabalhavam apenas quando era estritamente necessário para sua sobrevivência. Frisando que mesmo vivendo de forma democrática, muitas vezes haviam conflitos de interesses entre os grupos, ou próprio preconceito de um para com o outro, “xenofobia” (no início do século, o termo ainda não havia sido cunhado) e racismo eram comuns.

O comando do local também não era feito pelo Estado ou pela sua representação legal: as polícias. No cortiço, a lei era o mais adaptado, voltando ao darwinismo social. Essa pessoa só se aplacava ao ver o proprietário do local, que não vivia ali, logo, não estava sempre presente.

Uma vez que a ação da polícia era percebida pelos moradores não como medidas de proteção, mas como punição e perseguição, perguntamos: como era feita a justiça entre os moradores? Através da justiça popular, que não ocorre por meio de dispositivos legais, mas de táticas que a subvertem em busca do atendimento imediato das necessidades dos populares. (MONTEIRO, 2012, p.16)

5. VIDA EM UMA HABITAÇÃO DE PESSOAS POBRES NO RIO DE JANEIRO NO SÉCULO XXI:

Atualmente, no Rio de Janeiro, há dois tipos considerados de habitações sociais: uma legalizada pelo Estado, casas e edifícios de habitação social, em que o Estado vende apartamentos ou casas a preço baixo para a população (exemplo: Minha Casa Minha Vida) ou as comunidades, também conhecidas como as favelas.

As favelas são casas construídas de forma ilegal perante o Estado em uma área que na época não era considerada pelo mesmo. Sua configuração social remete aos cortiços, as famílias tem uma vida em comunidade muito densa e também, muitas vezes, há um poder próprio que expugna o poder estatal (exceto onde as Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs) montaram suas bases).

A polícia também tem dificuldades para entrar e muitas vezes, há uma relação de troca de favores entre esse poder e a polícia.

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