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O Conceito de Saúde e Doença pode Ter Variadíssimas Interpretações

Por:   •  19/2/2018  •  1.628 Palavras (7 Páginas)  •  412 Visualizações

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A medicina tradicional foi contrariada, devido à correlação que se fez entre o feiticeiro e o médico tradicional. Os doentes e os próprios profissionais de saúde tradicionalistas falavam em situações distintas como referido pelo estudo feito por Menezes no bairro de Polana-Caniço, zona suburbana da cidade de Maputo, “Há diferença entre curandeiro e feiticeiro. O curandeiro cura e o feiticeiro mata. O feiticeiro conhece remédios para matar. Enquanto nós, os curandeiros, curamos porque é essa a nossa obrigação (…) os espíritos obrigam assim, senão castigam”.

Verificamos também que nestas sociedades algo nómadas as relações familiares é muito sustentada, relacionando-se a feitiçaria e o médico tradicional a um certo “status” social. As pessoas acabam por estar cada vez melhor informadas começando assim a opor-se de certa forma à feitiçaria, em contrapartida da procura de uma vida melhor.

A assistentes de nascimento, a quem costumamos chamar de parteiras tradicionais são exemplo de profissionais da saúde, caracterizam-se pela sua idade avançada, já com netos e com experiencias em cuidados de partos e pós parto. Para os médicos tradicionais “ter saúde é ter uma boa vida”, ou seja, é necessário existir um equilíbrio essencial num individuo, estar bem com a família, e com a comunidade em geral, ter casa, estar alimentado, ter emprego, ter proteção das forças malignas, quer elas sejam naturais ou “enviadas”.

O olhar que se tem a partir de um gabinete burocrático ou de um hospital leva a que se aceite com facilidade que a maioria das plantas utilizadas pelos tinyanga (terapeutas supostamente possuídos pelos espíritos) poderá possuir princípios ativos com eficácia de cura ao olhar dos critérios farmacológicos da biomedicina. Os conceitos que evolvem as práticas dos tinyanga tendem a ser vistos como que uma ganga de superstição, feitiçaria e magia, ou na melhor das hipóteses, de técnicas de manipulação psíquica, que estraga os saberes “verdadeiros” e com o qual a medicina dificilmente poderá compactuar muito menos ainda legitimar. Os tinyanga, desejam de forma individual e associativamente que as suas práticas sejam reconhecidas e legitimadas através do poder científico e politico.

Os avanços globais registados na saúde pública não podem descurar o facto de que a saúde e a doença não se distribuem da mesma forma entre a população. Estas desigualdades de saúde estão relacionadas com padrões socioeconómicos, tais como, a classe social, o género, a raça, a idade e a localização geográfica. É de salientar a importância relativa das variáveis individuais (como o estilo de vida, o comportamento, a dieta e os padrões culturais) versus fatores estruturais ou ambientais (tais como, a distribuição da riqueza e da pobreza). O clima, a poluição, a qualidade da agua, o tipo de “alojamento, os padrões de trabalho e desemprego e os níveis globais de privação variam dentro do mesmo País. Estas variações refletem-se na saúde da população (silva, Luisa, 2004).

Em modo de síntese, existe uma consciência cada vez maior de que não são apenas os médicos que detêm o saber e a compreensão sobre a doença e a saúde. Todos estamos em posição de interpretar e definir o nosso bem-estar através do entendimento do nosso corpo e sobretudo através das escolhas que fazemos da vida quotidiana em termos de dieta alimentar, exercício físico, padrões de consumo e estilos de vida em geral. Estes novos trilhos a serem seguidos do senso comum em relação á saúde em conjunto com as críticas à medicina científica estão a contribuir para algumas transformações profundas no sistema de prestação de cuidados de saúde assim como no conceito de doença, nas sociedades modernas e também na sociedade como a Moçambicana embora com alguma dificuldade, por se confrontar sempre com muito obstáculos e antigos.

Não poderia concluir sem falar da criação da AMETRAMO, designada de Associação de Médicos Tradicionais de Moçambique, fundada em 1982, tendo obtido reconhecimento legal em 1988. Esta associação surge como fruto de grandes lutas e de certas políticas existentes na comunidade Moçambicana.

“A AMETRANO tem que ficar bem organizada, e todas as pessoas tem que saber que (a organização) existe. Temos de trabalhar com outros médicos (biomedicina) para resolver problemas, para ajudar, para fazer essa ligação. Se não, não funciona. Nos quando vemos que não resolve o problema, quando a doença não sai, tem casos que manda no hospital Eles (médicos modernos) não fazem isso”. (Menezes, 2004:101)

Bibliografia:

- Menezes, M.P.G., (2004) “ «Quando não problemas, estamos de boa saúde, sem azar sem nada»: para uma conceção emancipatória da saúde e das medicinas “in Santos, B.S.S. e Silva, T.C (Org) Moçambique e a Reinvenção da Emancipação Social. Maputo, editor: Centro de Formação Jurídica e Judiciaria. Págs. 77-110.

- Menezes, M.P.G., (2004). Maciane F. Ziamba e Carolina J. Tamele: “os percursos e as experiencias de vida de dois médicos tradicionais moçambicanos” in Santos, B.S.S. e Silva, T.C. (Org) Moçambique e a Emancipação Social. Maputo, editor: Centro de Formação Jurídica e Judiciaria. Pags.111-144.

- Silva, Luisa Ferreira, Sócio-Antropologia da Saude, Sociedade, Cultura e Saude/Doença, Universidade Aberta. Lisboa, 2004.

- Carmo, Hermano (2001). Problemas Sociais Contemporâneos. Lisboa, Universidade Aberta.

Net grafia:

- Granjo, P. (2009) Tese de doutoramento. Saude e doença em Moçambique. Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa, Portugal.

Disponível em:

http://.scielo.br/pdf/sausoc/v18n4/02.pdf

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