Expressões artísticas modernas e pós-modernas
Por: Rodrigo.Claudino • 3/4/2018 • 1.453 Palavras (6 Páginas) • 298 Visualizações
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Tarsila do Amaral, Abaporu. 1928
Pode-se observar, nos espaços utilizados pelo pós-modernista Charles Moore em Piazza d’Ítália (Nova Orleans, Lousiana, 1979), um bombardeio de estímulos à visão e ao estar, caracterizados por uma plasticidade do espetáculo e pela valorização de elementos que levam o visitante a uma sensação de fantasia, surpresa, efemeridade ou teatralidade. Projetada para ser um espaço público de encontro em uma área estratégica que necessitava de revitalização urbana, a praça adota cores exaltantes, elementos fragmentados (característica típica pós-modernista), um chafariz que remete ao mapa da Itália e iluminação por tubos de neon, de modo que o arquiteto concebe à praça uma cenografia teatral. Além disso, a “performance” e a teatralidade pretendidas pelo arquiteto são percebidas mais claramente quando há a participação do visitante com o meio: sua antiforma é percebida na vivência, possuindo pouco significado quando se toma distância. Ao utilizar elementos teatrais e o chafariz que remete à Itália, por exemplo, o arquiteto utiliza-se da metonímia para que o visitante associe tais elementos a algo maior (no caso, o teatro e a Itália).
A combinação de referências e elementos sem qualquer vínculo entre si leva o usuário da praça a uma “viagem ilusória” distante da realidade corrente, como se a ficção substituísse a função. Dessa forma podemos identificar a obra como supérfula, sem espaço para grande profundidade, acompanhada de uma quebra de tradições anteriores. Ao projetar uma praça que possui inúmeros estímulos visuais e pouco ou nenhum objetivo de gerar críticas e reflexões por sua obra, o arquiteto busca comunicar-se com o visitante por meio da forma, da estética, muito mais do que por um pensamento crítico.
A obra de Tarsila do Amaral, Abaporu (pintada em 1928), é uma clássica pintura do modernismo brasileiro e despertou o início do Movimento Antropofágico: seu nome, por exemplo, é de origem tupi-guarani, que significa "homem que come gente" (canibal ou antropófago). O Movimento consistia na eliminação da cultura estrangeira, que seria incorporada à realidade brasileira para dar origem a uma nova cultura transformada, moderna e representativa da nossa, brasileira. Com base na inspiração do movimento na figura podemos perceber uma visão teleológica, característica do modernismo que visa um projeto futuro para o país. A cabeça pequena, para alguns críticos, simboliza o brasileiro pouco crítico e pouco auto-consciente, e a grandeza das mãos e pés simbolizam os trabalhadores, sofridos, enquanto que o sol é símbolo da rotina dolorosa do homem do campo.
A obra de Tarsila do Amaral está repleta de metáforas e simbolismos, todos de alguma maneira retratados no quadro. A enorme profundidade presente em Abaporu, que acaba por gerar uma rigorosa crítica, se dá por um vasto domínio da técnica por parte da artista, por meio de um projeto que visou contar uma narrativa, como fica evidente nas mãos e pés da personagem retratada no quadro. Além disso, para compreender a crítica e realizar a leitura pretendida, é necessário criar distância da obra: caso contrário, não se percebe a desproporcionalidade presente entre os membros da figura retratada. Não só isso, o aproximamento demasiado da obra pode confundir personagem com observador, de modo que a aproximação pode fazer com que o segundo “leia a obra com a cabeça do primeiro”, ou seja, com a cabeça pequena e fechada retratada no quadro.
Da mesma maneira que é possível estabelecer comparações entre Frank Lloyd Wright e Hélio Oiticica podemos comparar Charles Moore com Tarsila do Amaral. Com base nesta análise, o simbolismo e profundidade de Abaporu fica evidente em oposição ao que a construção de Charles Moore, puramente estética, representa. A obra de Tarsila do Amaral utiliza-se da estética para atingir algo maior, ou seja, gerar uma reflexão e uma crítica, enquanto que a Piazza d’Italia utiliza-se da estética pela própria estética, procurando de modo geral, criar estímulos majoritariamente visuais.
Ao passo que em Piazza d’Itália o elemento predominante é a fantasia, na obra de Tarsila do Amaral é feito um retrato abstrato da realidade a partir da percepção da artista. A fantasia de Moore é dada por meio da combinação de diversos elementos avulsos, enquanto que no quadro da artista brasileira todas as cores e formas foram estudados e selecionados para passar uma imagem principal e atingir a crítica pretendida pela autora. Apesar de apresentarem objetivos distintos, observa-se que ambos os artistas possuíam enorme domínio da técnica e do meio com o qual trabalham, de modo que, à sua maneira, cada um conseguiu atingir o objetivo pretendido.
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