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Ensaio de Arte, Estética e Ação Educativa

Por:   •  7/5/2018  •  2.185 Palavras (9 Páginas)  •  314 Visualizações

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No teatro, cinquenta por cento de um espetáculo são realizados sob a responsabilidade do público. Por sua natureza e comportamento, o perfil de uma montagem teatral pode ser traçado. Não se pode negar que a predisposição dos espectadores a um espetáculo vai determinar toda a sua trajetória, deixando explícita a importância desse elemento para a construção do fenômeno teatral. A não existência do público resulta na aniquilação do teatro. A única coisa que todas as formas de teatro têm em comum é a necessidade de público: no teatro o público completa o processo criativo. Nas outras artes, é possível ao artista usar como princípio a ideia de que trabalha para si próprio. Por maior que seja seu sentido de responsabilidade social, dirá que seu melhor guia é o próprio instinto – e se fica satisfeito contemplando sozinho o seu trabalho acabado, e é muito provável que as outras pessoas também fiquem. No teatro isto é modificado pelo fato de que o último olhar solitário ao objeto acabado é impossível – até que a plateia esteja presente, o objeto não está acabado. Portanto, dessa relação de dependência que há entre uma montagem teatral e seu público, vemos o quanto o comportamento dos participantes do processo é transformado pela ação de um sobre o outro.

A comunicação teatral se dá, então, pela troca de informações efetuada entre o ator e o espectador; e essa interação, esse diálogo, nos dias de hoje, chega a ser tamanho, que o espectador não se contenta em ficar sentado na plateia. Ele deseja fazer parte do processo, acrescentando, alterando e, se possível, se tornar inerente ao processo dentro do teatro. O público sempre teve sua parcela de importância na história do teatro. Mesmo quando quieto, parecendo um mero observador, ele participa da construção do espetáculo das mais variadas formas, através das palmas, da gargalhada e da vaia; e tudo isso acontece porque todo ser humano tem dentro de si um “instinto de plateia”. Desde crianças somos acostumados a ouvir e a contar histórias. Esse sistema faz parte do jogo da comunicação, por isso ficamos seduzidos diante de uma boa narrativa, dos contadores de histórias e dos repentistas da feira.

Estão, aí, as listas dos livros mais vendidos e os altos índices de audiência das telenovelas para comprovarem o quanto o homem tem dentro de sua constituição a força que o impele para, em determinado momento, desligar-se de sua vida cotidiana e individual para deixar-se se inserir em um tempo mítico. Dentro dessa áurea mítica, o espectador se torna coautor do espetáculo e passa a desempenhar várias funções. Cada membro da plateia está impregnado de suas próprias experiências culturais e humanas. Há uma diversidade de diferenças que formam o público: o estrato social, a idade, o sexo, a renda per capita; porém, todas as desigualdades são reduzidas a zero, quando cada um passa a vivenciar o espetáculo, fazendo parte da “alma coletiva”. A apresentação chega da mesma maneira para todos, mas cada integrante do público a decodifica de acordo com sua concepção de vida e sua experiência e atitude estética. Os sinais emitidos do espectador funcionam, para os artistas, como termômetro, influenciando em sua forma de interpretar. Mas existe um ponto em que a plateia deixa de transmitir sinais protocolares e passa a manifestar, de corpo presente, suas impressões sobre o espetáculo, e é quando isso acontece que o público se transforma também em ator. Essa metamorfose evidenciada no teatro contemporâneo busca, de maneira exaustiva, a integração do espectador e o seu comprometimento, eliminando, assim, a postura considerada passiva. Exercendo papéis através de comportamentos, a plateia se faz presente de acordo com as tendências estéticas, moda ou improvisos. Este comportamento pode ser semelhante mesmo em espetáculos de natureza diferentes, como, por exemplo, uma montagem política ou melodramática. O que vai determinar essa característica é o grau da paixão que está no espectador. Embora as regras tendam a colocar os espectadores no mesmo nível, vários sinais demostram o seu grau de atenção, entrega emotiva ou desinteresse crítico, deixando a certeza de que cada indivíduo que vai ao teatro busca emoções, alívio e entendimento da sua própria alma, da sociedade e da vida.

O público-ator ou espectador-participante é caracterizado por um comportamento de transgressão. Ele se apresenta como um elemento de tensão dentro do fazer teatral, colocando o artista em uma situação de prontidão, pois sua força como espectador está em exercer, livre de amarras, seu papel, como em um jogo. Para este tipo de público não há as regras de etiquetas. A sua manifestação é determinada pela aventura que o faz derrubar qualquer barreira de contato com o palco. Os espectadores, quando assumem seus papéis e ocupam seu espaço dentro do jogo da comunicação teatral, contribuem para a realização do espetáculo. Assim, no espaço da representação, os espectadores resguardam o “instinto de plateia” do ritual de ir e estar no teatro, confirmando que as raízes deste estão plantadas no público, que é responsável pela energia e pela vida do teatro. A agitação do cotidiano leva o indivíduo a buscar um momento de relaxamento, e o espetáculo serve como elemento de uma regeneração social. Quando inserido no fenômeno teatral, o espectador assume seu papel na apresentação, negando o corre-corre do dia-a-dia. As regras de vivência em sociedade, neste momento, são deixadas para trás e o comportamento adquire um clima de festa ou de transgressão. Envolvido por esta magia, o público não se sente intimidado, ficando com a emoção e o potencial para a ação à flor da pele.

O teatro passa a ser um espaço para o estabelecimento da interação entre artistas e público. Essa comunhão presente na representação do espetáculo tira o homem de um contato com o perigo real, deixando-o isolado no campo da imaginação. Neste universo mágico, os sonhos são realizados e a realidade é mascarada. Dessa forma, o sentido do espetáculo é dado pelo espectador, enquanto ele busca explicações para suas necessidades individuais. Assim, o público encontra um solo fértil para os experimentos de sua imaginação e, através de atos espontâneos, torna-se um participante integral. Pensando nesta relação, convém lembrar a relevância de Bertolt Brecht, como acentuador deste papel crítico do espectador, com um jogo de sensibilidade que leva ao espectador a decifrar signos de seu tempo, cruzando elementos sociais e individuais, quando articula cena e discurso, massificação de informações e resultando em um novo aspecto da experiência estética do público. Pensando nisso, há a retirada do mutismo do espectador do seu

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