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Estudos Sobre os Agrotóxicos

Por:   •  7/5/2018  •  4.947 Palavras (20 Páginas)  •  291 Visualizações

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Raquel Rigotto (2011), por exemplo, ressalta o uso descontrolado de agrotóxicos no Brasil[1] e destaca o elevado número de internações provocadas pela exposição a essas substâncias químicas e acentua os casos de contaminação que ocorrem em áreas de grande expansão de monocultivos. Em estudos realizados principalmente na região do Baixo Vale do Jaguaribe, no Estado do Ceará, no qual se plantam frutas, principalmente para exportação, a autora, juntamente com uma equipe composta por profissionais de diferentes áreas do conhecimento, destaca a existência de diversas formas de produção, com formas distintas de viver, produzir e de se relacionar com os agrotóxicos. Em suas pesquisas a referida autora ressalta o fato de que as pessoas com casos de intoxicação aguda não chegam a procurar as unidades de saúde, se contaminam durante o trabalho “e muitas vezes chegam no hospital e não são compreendidos e acolhidos na sua condição de trabalhadores expostos aos agrotóxicos” (2011, p. 33), destacando o fato de que o diagnóstico não é feito, o que deixa de lado a correlação trabalho-exposição. Na perspectiva dessa autora, isso evidencia a dificuldade que muitos profissionais da área da saúde têm em reconhecer os casos de contaminação por agrotóxicos, pois além de não estarem preparados para fazer esse reconhecimento, carecem de estrutura e material necessários para esse tipo de identificação. Rigotto também destaca alguns dos principais sintomas descritos na literatura e que são associados aos agrotóxicos. Os principais são: fraqueza, alterações neurológicas, leucemia, irritação, depressão, instabilidade, cânceres, tremores, dentre outros (RIGOTTO, 2011).

Silva et. al. (2005), analisam os danos que os agrotóxicos provocam à saúde de agricultores de regiões hortifrutigranjeiras, cafeeira e canavieira do Estado de Minas Gerais, a partir do processo e das relações de trabalho no contexto da agricultura brasileira. Segundo esses autores os principais locais de exposição a esses produtos são os locais em que são produzidos, na comercialização, nos setores agropecuários, dentre outros. E também destacam que além destes, “(...) as famílias dos agricultores, a população circunvizinha a uma unidade produtiva e a população em geral, que se alimenta do que é produzido no campo” (p. 5) acaba por se contaminar por essas substâncias.

Em estudo realizado por Fonseca et.al. (2007) sobre o contexto das percepções e ações de trabalhadores que manejam os agrotóxicos na produção de flores ornamentais em Barbacena, Estado de Minas Gerais, ressaltam-se os elementos que constituem e influenciam a forma de manejar os agrotóxicos, destacando o alto uso desses produtos, bem como as diferentes formas de exposição desses trabalhadores aos seus efeitos. Como se trata de um trabalho sobre percepções, os autores enfatizam a percepção do risco do que os agricultores chamam de cheiro do agrotóxico. Na compreensão desses agricultores “o agrotóxico deixa um resíduo no ar sob a forma de cheiro que permanece durante certo tempo e contamina” (FONSECA et. al. 2007, 45), o que enfatiza um processo de subjetivação compartilhado coletivamente e que “marca” o trabalhador. Portanto, fica claro que não é apenas durante o processo de aplicação que o trabalhador e demais indivíduos podem contrair algum tipo de mal advindo do agrotóxico, mas também depois de realizada a aplicação, pois o agrotóxico fica no ar e ganha corpo, uma forma, por meio do que é reconhecido socialmente como cheiro. Esse cheiro é uma situação problema dentro do grupo, pois é invisível e pode marcar o trabalhar, contaminando-o, invadindo seus poros e se alojando em determinados órgãos, como o fígado. Como será descrito posteriormente, o fígado é compreendido por diferentes grupos sociais como um dos principais órgãos que é afetado pelos efeitos dos agrotóxicos, por, dentre outros motivos, ser considerado um órgão sensível, que logo consegue “detectar a presença” do agrotóxico no organismo humano e que, portanto, reflete esse processo de adoecimento.

O trabalhador marcado, na concepção do grupo estudado por Fonseca et. al. [c](2007), “é capaz de contaminar outros indivíduos”, o que, na prática, desencadeia formas de estigma e preconceito, pois ninguém vai querer correr o risco de se aproximar do indivíduo marcado, sabendo que pode contrair os males provocados por tais substâncias. Essa marca sugere um processo de poluição simbólica, pois o indivíduo é um agente que carrega o mal, o que é considerado pelo grupo como algo prejudicial, que deve ser evitado. Fazendo uma analogia forçada, o indivíduo se assemelha a um dalit, que dentro do contexto indiano é um indivíduo impuro, cercado por algum tipo de força que incomoda os demais membros da sociedade e que necessariamente, deve ser afastado dos demais membros do grupo social.

O agrotóxico e sua relação com bebidas [d]

Uma situação apontada por Fonseca et. al. (2007) é a crença no efeito protetor do leite e de bebidas alcoólicas que funcionam como bebidas purificadoras que podem limpar o organismo de elementos que podem contaminá-lo e que, portanto, podem alterar as funções orgânicas. Nesse sentido, bebidas são usadas como espécies de amuletos, pois detém um tipo de poder que pode impedir e/ou quebrar os males que os agrotóxicos podem provocar no corpo humano. Na comunidade Nova Paz, localizada no município de Tailândia, no Estado do Pará, estudada por Chaves e Magalhães (2014), agrotóxicos são utilizados no dendezeiro e em outros cultivos. Ali, os colonos tomam leite antes da aplicação de agrotóxico, pois este é considerado uma bebida que ajuda o organismo a controlar os possíveis efeitos que os agrotóxicos podem provocar no corpo. Em um sentido contrário a este, o estudo realizado por Chaves (2016) em São Vicente, uma vila rural, localizada no município de Moju, no Estado do Pará e também integrada ao monocultivo de dendezeiro, o leite é, considerado por muitos aplicadores de veneno e por outros moradores da referida vila, uma bebida que ajuda a potencializar os efeitos dos agrotóxicos no organismo e não a combatê-lo. Releva-se, portanto, diferentes construções sociais sobre o leite e seu sentido sobre os efeitos provocados pelos agrotóxicos.

Igualmente a Fonseca et al. (id.), destaca Gomide (2005) a utilização de determinadas bebidas que, no imaginário social dos agricultores de dois municípios localizados no sudeste do Estado do Piauí, servem como proteção contra os males que podem advir dos agrotóxicos ou mesmo apaziguadores de seus efeitos. Nesse sentido, a cachaça é utilizada como um uma bebida que protege o trabalhador durante o

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