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Trabalho Pichon Riviere

Por:   •  22/11/2018  •  4.568 Palavras (19 Páginas)  •  261 Visualizações

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– Fabiane Minozzo e Ileno Izídio da Costa – Universidade de Brasília, Brasília/DF, Brasil.

3- SÍNTESE

3.1 - PICHON-RIVIÈRE, A DIALÉTICA E OS GRUPOS OPERATIVOS: IMPLICAÇÕES PARA PESQUISA E INTERVENÇÃO.

Enrique Pichon Riviere foi um psiquiatra suíço, que se nacionalizou argentino após a migração de sua família para o país quando ainda criança. Formou-se médico psiquiatra e inquietou-se com a forma que pacientes considerados loucos eram tratados na época, percebendo então a necessidade de criar uma abordagem que levasse em conta fatores físicos e psíquicos de cada indivíduo.

Um dos conceitos centrais da obra pichoniana, que traz luz à sua forma de compreender a vida, os grupos e a vida dos grupos é o de dialética. Sendo assim, a primeira pergunta não poderia ser outra: afinal, o que é a dialética? Bornheim traz sua definição: "a dialética seria aquilo que faz possível todo discurso, embora permaneça em si mesma o não dito, algo de refratário a qualquer empenho de explicitação".

Para nos apropriarmos melhor do conceito, em direção ao seu uso na obra de Pichon-Rivière, é importante trazer outros conceitos-chave tais como: totalidade, contradição, mediação e as leis da dialética.

 TOTALIDADE: o conhecimento é sempre a busca da totalização, sendo que qualquer objeto que se possa perceber ou criar é sempre parte de um todo e, portanto, interligado a outros objetos, fatos ou problemas.

 CONTRADIÇÃO: Cada síntese é constituída de contradições e mediações concretas. Para que a apreensão e o conhecimento do real se aprofunde, é preciso ir além das aparências, além da dimensão imediata dos fenômenos.

 MEDIAÇÃO: Para pensar a mediação, devemos considerar que os aspectos da realidade humana não podem ser compreendidos isoladamente.

 LEIS DA DIALÉTICA:

1. Lei da conexão entre fenômenos: Compreende-se a natureza não como uma acumulação acidental de objetos, de fenômenos separados, isolados e independentes uns dos outros, mas como um todo unido, coerente, em que os objetos, os fenômenos estão ligados organicamente entre eles, dependem uns dos outros e condicionam-se reciprocamente (Stalin, conforme citado por Haguette, 1990).

2. Lei do movimento universal e do desenvolvimento incessante: Em uma concepção que se contrapõe ao pensamento aristotélico, a dialética olha a natureza não como um estado de repouso e de imobilidade, de estagnação e de imutabilidade, mas como um estado de movimento e transformação contínuos, de renovação e desenvolvimento incessantes, em que sempre nasce e desenvolve-se qualquer coisa, desagrega-se e desaparece qualquer coisa.

3. Lei da passagem de quantidade à qualidade. O processo de desenvolvimento é resultado da passagem de mudanças quantitativas latentes e graduais a mudanças qualitativas evidentes, que se verificam por saltos.

4. Lei da interpenetração dos contrários: Os objetos e fenômenos da natureza encerram contradições internas. Todos eles têm um lado positivo e um lado negativo, um passado e um futuro. A luta desses contrários, entre o velho e o novo, o que morre e o que nasce, é o conteúdo interno do processo de desenvolvimento da conversão de mudanças quantitativas em mudanças qualitativas.

Para este trabalho, em consonância com o esquema conceitual, referencial e operativo de Pichon-Rivière, é importante ressaltar que o termo dialética se refere tanto à natureza do ser humano quanto ao seu pensar. Traz, portanto, uma ambiguidade fundamental do humano: transcendência X contingência. A primeira consiste neste sistema aberto da condição humana, de sua característica de inacabamento dinâmico e transformação contínua. Tal transformação projeta-se na contingência, na mediação. O homem é sempre um sujeito histórico, socialmente datado e marcado. Assim, o homem transcende a si mesmo, vivenciando a transformação do sujeito humano na história e da história humana do sujeito. Ressalta-se que a dialética é o diálogo das coisas entre si, das coisas com o Homem, do Homem consigo mesmo e do Homem com o outro.

Pichon é considerado um dos fundadores da Psicologia Social, construiu todo o seu pensamento e sua teoria a partir de uma visão dialética da realidade. Assim, seus construtos, conceitos e reflexões são permeados pela ideia de movimento e transformação contínua dos sujeitos, de seus vínculos e de seu modo de operar na realidade. O autor traz suas contribuições em relação ao processo de psicanálise e ao vínculo analista-analisando.

Sua maior contribuição, situa-se no âmbito dos processos grupais, onde propõe um modo de compreender a estrutura e o funcionamento dos grupos, como também modos de intervenção objetivando instrumentalizá-los para a aprendizagem e para a transformação.

A teoria pichoniana é bastante rica e complexa, podendo ser abordada em diversos aspectos e dimensões. Para os propósitos deste trabalho, porém, optou-se por um recorte das ideias do autor no que se refere à sua compreensão dialética da realidade, ou seja, da dialética como sistema de conhecimento filosófico e científico, que além de ser pano de fundo, traduz-se em construtos de sua teoria. Pichon-Rivière fala, então, da dialética do sujeito e dos grupos.

Entre tais construtos encontram-se as contradições que Pichon-Rivière considera inerentes a todo grupo, resumindo-as em cinco pares contraditórios universais:

 Velho X Novo;

 Necessidade X Satisfação;

 Explícito X Implícito;

 Sujeito X Grupo;

 Projeto X Resistência à mudança.

Para o autor, todo grupo possui uma tarefa, sendo que a tarefa central do grupo é analisar sistematicamente as contradições, e para isto, analisa-se o aqui-e-agora no grupo, os fenômenos e interações, os processos de assunção e atribuição de papéis (Gayotto, 2002).

O processo grupal, bem como o processo de aprendizagem, se dá por meio de um permanente movimento de estruturação, desestruturação e reestruturação, que pode ser representado por um cone invertido, sendo este um esquema de vetores (direção e sentido) que verifica a operatividade no grupo, constituído pôr vários vetores na base dos quais se fundamenta a operação no interior do

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