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CONTRIBUIÇÕES DA PSICANÁLISE NA VIVÊNCIA DE ESTÁGIO: TRIAGEM E PLANTÃO DE ESCUTA

Por:   •  28/9/2018  •  4.363 Palavras (18 Páginas)  •  310 Visualizações

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Na psicanálise, algo se torna urgente a partir do momento em que a angústia irrompe. Para Lacan (1963/2005), o que se apresenta nos momentos de urgência é a impossibilidade simbólica. Para ele a angustia é um afeto que não se articula numa cadeia significante. No momento de urgência “não se trata de dar simbolização à angustia, mas sim, possibilitar algo da ordem de uma construção, de uma invenção singular.” (AZEVEDO, 2016, p. 46)

Segundo Azevedo (2016) o analista deve trabalhar a partir da noção de inconsciente atemporal, conceituado por Freud no texto “O inconsciente” de 1915, e do conceito de tempo lógico de Lacan no texto “O tempo lógico e a asserção de certeza antecipada” de 1945, possibilitando assim uma abertura a uma nova temporalidade, o tempo do sujeito que não o da urgência.

Freud aponta (1915/1996) que o inconsciente apresenta como característica a ausência de temporalidade, os conteúdos do inconsciente não se organizam no tempo. O termo atemporal referente ao inconsciente esta ligado ao tempo do sujeito, que é um tempo lógico, subjetivo.

Para Lacan (1964/2008) o Inconsciente é articulado como algo que pulsa, e nesse pulsar o sujeito pode advir. O que vemos na urgência, segundo Azevedo (2016, p.59) é um “curto-circuito” nesse pulsar. O corte tem então, função de atravessar o Real que está posto na situação de urgência, de forma que proporcione um deslocamento subjetivo que vise uma saída criativa. O que esta em questão é:

“Abrir um espaço de criação para o sujeito, onde ele será convidado a inventar um modo de se haver com o insuportável, uma invenção singular que possa dar contorno ao real avassalador que se apresenta no momento da sua entrada em emergência.” (CALAZANS E BASTOS, 2008, p. 642)

No texto “O tempo lógico e a asserção antecipada” Lacan (1945/1998) afirma que há três tempos no percurso analítico: o instante de ver, o tempo de compreender e o momento de concluir. Segundo Azevedo (2016) o instante de ver pode ser definido como o instante de clarão, ou seja, há apenas a constatação do que se pode ver no momento, não há subjetivação. O tempo de compreender é o tempo de hesitação, de adiantamento e elaboração, enquanto que o momento de concluir é quando a pressa e urgência levam à conclusão.

Para Lacan (1945/1998), o tempo de compreender é o tempo de meditação, tempo de formular uma hipótese. E logo após esse movimento é chegado o momento de concluir, ou seja, de concluir o tempo de compreender. Sendo assim, para Azevedo (2016) O trabalho do psicanalista nos espaços de urgência é possibilitar que um contorno possível possa advir da palavra. Ainda segundo Azevedo (2016, p. 66):

“O tempo de compreender é marcado pela possibilidade de construir sobre si uma hipótese, uma resposta singular a partir daquilo que se perdeu diante da urgência do instante de ver. Esse tempo, a partir da oferta de escuta do analista pode fabricar uma sutura na cadeia de significante. (...) Pode-se concluir então que dois tempos são fundamentais para que o sujeito possa se situar. Pois é sempre num segundo tempo que o sujeito poderá ressignificar o primeiro.”

Entretanto, é somente no terceiro tempo que pode-se perceber a dimensão e função da pressa, da urgência. Para Lacan (1945/1998), o momento de concluir é quando o ato se antecipa ao próprio sujeito, ele denominou de tempo do Sujeito de “uma certeza antecipada” (p.288).

O trabalho do analista no plantão de urgência subjetiva é criar condições para que o sujeito possa emergir, para que o sujeito possa de forma singular constituir um sintoma propriamente dito, uma vez que o que esta em cena em primeiro lugar na urgência, não é o sintoma e sim a angústia.

A urgência pode ser tomada como algo impossível de suportar. Situa-se no momento de crise, marcada pela ausência de um marco significante que produz um efeito de mortificação no sujeito. Segundo Calazans e Marçal (2011) o trabalho da urgência subjetiva trata-se de um trabalho preliminar para criar condições de operar psicanaliticamente. O dispositivo de urgência introduz um tempo de pausa, por essa razão é imprescindível modalizar o tempo na urgência.

Segundo Azevedo (2016, p. 80), o trabalho do psicanalista na urgência subjetiva consiste em “fazer uma escansão temporal entre o tempo do instante de ver e o momento de concluir para que o sujeito possa se apresentar no lugar de sujeito”.

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- MÉTODO

Métodos e técnicas de pesquisa:

Os atendimentos que embasaram esse artigo foram realizados durante a vivência do estágio de Triagem e Plantão Psicológico em uma clínica escola de uma universidade particular do sul de Minas Gerais (MG). Foi optado por este método de pesquisa qualitativa a partir da analise de discurso, visando proporcionar uma articulação entre teoria e prática a fim de elucidar as contribuições da psicanálise na vivência do estágio.

O propósito do estágio é realizar o atendimento de todos daqueles que chegam até a clínica escola, independente de idade, sexo, raça ou crença pessoal, promovendo uma escuta atenta e empática, a fim de diminuir a angústia e fazer surgir nos pacientes em que este for o caso, o desejo de prosseguir no tratamento.

Descrição do objeto de pesquisa:

Os dados bibliográficos foram coletados a partir de leituras das obras de autores psicanalistas que esclareçam a respeito do tema, e a partir também de artigos científicos que deem embasamento consistente em relação aos conceitos trabalhados e esclareça de forma satisfatória algumas das contribuições da teoria psicanalítica na vivência do estágio.

Os casos trabalhados no artigo foram selecionados ao fim do estágio, ou seja, segundo semestre de 2016, tal seleção se deu a partir da leitura dos relatórios escritos ao fim de cada atendimento no intuito de selecionar os casos com maior potencial de contribuir de forma clara e precisa à pesquisa. Foram analisados apenas casos cujo paciente, ou responsável, tenham assinado o termo de consentimento livre e esclarecido, respeito assim o código de ética e permitindo o uso do material coletado em atendimento para fins acadêmicos e/ou de pesquisa.

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Descrição do objeto de pesquisa:

O objeto da pesquisa

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