Assexualidade em Foco: Estudo Etnográfico do Fenômeno Assexual e Seus Desdobramentos Socioculturais na Contemporaneidade
Por: Salezio.Francisco • 24/4/2018 • 8.677 Palavras (35 Páginas) • 437 Visualizações
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REVISÃO DE LITERATURA[pic 1]
Sou assexual, muito prazer...
Saiba que sou uma criatura...
Querendo lutar e vencer...
Neste planeta de loucura!
Muito prazer, sou assexual...
Não se assuste não lhe farei mal!
Não sou um bicho- papão na floresta...
Nem um E.T. perdido numa festa!
Eu não vou disputar a sua parceira...
E nem tentar roubar o seu marido!
Minha alma não é traiçoeira...
E não deixa um coração partido!
Eu não seduzirei a sua esposa...
Nem iludirei o seu inocente filho...
Não irei ao bordel da mariposa...
E nem tirarei o trem do devido trilho!
Minha alma é pura, leve e etérea...
Não espalharei doença venérea...
Apenas o pólen da mais doce flor...
Porque o meu vício é o mais puro amor!
Eu trabalho duro e levanto muito cedo...
Eu não sei o porquê de tanto medo!
Sou assexual, muito prazer...
Você diz que não sou normal...
Porém, isto é bom para valer...
Pelo menos não sou banal...
E faço o universo acontecer...
Não preciso de sexo para viver.
G. Martines
II. Cultura e Antropologia
Neste trabalho, serão incluídos os princípios da etnografia, abarcando o campo de investigação, amplamente utilizado em pesquisas antropológicas, com o propósito de compreender as sociedades e culturas. A etnografia representa um dos ramos da ciência da cultura que se preocupa com a descrição das sociedades humanas, (LÉVI-STRAUSS, 1967, p. 14) definindo-a de modo mais preciso e objetivo. Para ele, a Etnografia "consiste na observação e análise de grupos humanos considerados em sua particularidade, e visando à reconstituição, tão fiel quanto possível, da vida de cada um deles" (MARCONI & PRESOTO, 2009, p. 5).
A abordagem da Etnografia contemporânea propõe uma nova postura por parte do pesquisador, muito além de um simples caráter técnico. O pesquisador passa a perceber a necessidade de efetuar sua pesquisa de campo como parte integrante da mesma, ou seja, de observador direto e teórico, não se limitando somente em analisar a coleta dos respectivos dados, mas também, em observar e compreender o que faz a singularidade de determinada cultura. Precursores como Franz Boas, Margareth Mead, Ruth Benedict, passaram a analisar as diversificações sociais humanas, utilizando-se das ferramentas científicas, como observação direta, classificação e investigação rigorosa, com o intuito de entender a natureza humana, sua filiação social e o comportamento destas em seu modo de vida cotidiano.
Franz Boas (1858-1942) e Bronislaw Malinowski (1884-1942) são considerados pioneiros, por unificarem suas tarefas aplicando a mesma ferramenta utilizada em Ciências Naturais, quais sejam: observar diretamente a comunidade pesquisada medi-la cuidadosamente, classificá-la, e por fim, organizar as informações (LAPLANTINE, 2004, p.10).
Dentre os conteúdos abordados, a Etnografia tem como alguns de seus objetivos o estudo e a descrição dos povos, sua língua, raça, religião e manifestações materiais de suas atividades (MATTOS, 2001). A descrição etnográfica também se caracteriza como a escrita das culturas, por uma atividade de observação; é, antes de tudo, “escrever o que vemos” (LAPLANTINE, 2004, p.10).
Para os antropólogos, a compreensão dos seres humanos não se dá por meio de uma observação distante e imparcial, e sim, com a comunicação e integração dos conteúdos presentes na sociedade: “O etnógrafo deve ser capaz de viver no seu íntimo a tendência principal da cultura que está estudando” (LAPLANTINE, 2004, p. 22). Outra questão levantada pelo autor é a de que a descrição etnográfica: “consiste na aceitação incondicional da realidade tal como ela aparece” (LAPLANTINE, 2004, p. 87-89). Acrescentando que essa descrição deve resultar de um comportamento ingênuo, livre de preconceitos e de julgamentos:
Durante o seu trabalho, o etnógrafo procura revelar a presença daquilo que ele observa. Ele encontra-se muito mais preocupado pela vida social no momento da observação que pela reconstituição histórica que a conduziu a tornar-se o que ela é (BOGAERT, 2004, p.280).
Tal afirmação nos leva a refletir sobre a conduta do etnógrafo, para além do lado profissional, e sim como ser humano que é repleto de emoções, com sua cultura particular e por mais imparcial que tente manter-se, não estará imune as suas interpretações de caráter individual e particular, diferente da interpretação de outro etnógrafo. No que se refere às várias interpretações que o pesquisador pode ter, o autor ressalta que a descrição realizada não será neutra, já que existem diversos pontos de vista e inúmeras possibilidades para descrever uma mesma situação ou comportamento. Deste modo, tais fatos, não se encontram livres de serem analisados através da subjetividade de cada pesquisador.
III. Adentrando ao universo assexual
O estudo da assexualidade oferece uma oportunidade única para olhar a sexualidade através de novas lentes, mas, talvez, mais importante ainda, essas novas lentes dispõem de uma imagem mais ampla e um ângulo mais aberto sobre o assunto (BOGAERT, 2012, p. 8).
Iniciamos nosso trabalho com a definição mais comumente utilizada para interpretar o que é a assexualidade: diz respeito a uma orientação sexual, relativa às pessoas que não sentem desejo/atração sexual por outras pessoas. O termo assexualidade, surgiu nos Estados Unidos
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