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A questão behaviorista no livro "admirável mundo novo"

Por:   •  20/9/2018  •  1.798 Palavras (8 Páginas)  •  429 Visualizações

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“Em primeiro lugar, ele apresentou um rato branco a um bebê (o pequeno Albert), verificando que não havia qualquer reação emocional do bebê em relação ao rato (na linguagem do senso comum, diríamos que o bebê não tinha “medo” do rato). Em seguida, valendo-se do conhecimento de que bebês reagem de maneira emocional (choram e ficam inquieto) a sons altos e abruptos, Watson produziu esse tipo de som (batendo em um pedaço de metal) ao mesmo tempo em que apresentava o rato branco para a criança. Depois de repetir esse processo sistematicamente, observou-se que, na presença do rato branco (estímulo inicialmente neutro), a criança começava a chorar, tentando afastar-se do animal (resposta). Com isso, Watson tinha criado o medo de rato na criança.” (LOPES, 2010, p. 93-94)

Com base no estímulo-reflexo, ele realizava seus experimentos e os comprovava, até certo ponto, pois foi alvo de inúmeras críticas por se tratar de uma visão mecanicista, seria totalmente previsível e certo de que para um dado estímulo a resposta seria uma correspondente, não permitindo nenhuma falha. No livro um exemplo de comportamento obtido através do estímulo-reflexo, chamado de neopavloviano pelo autor é do medo, ódio, às flores e aos livros. Em umas das salas de condicionamento as enfermeiras colocam os bebês para interagir com livros e flores, a sensação de prazer e euforia é imediata, porém quando uma alavanca é acionada, sons agudos, de sirenes e alarmes são disparados juntos a choques elétricos fazendo com que a reação dos bebês seja diferente, ficam desesperadas e aterrorizadas. Quando lhes é apresentado novamente os mesmos objetos, só pela visão deles, recuam e demonstram medo. O emparelhamento da situação causa uma assimilação na mente infantil, e sendo feita repetidas vezes se tornaria indissociável. Outro exemplo é do condicionamento ao calor,

“Condicionamento ao calor – disse o Sr. Foster. Túneis quentes alternavam-se com túneis resfriados. O resfriamento estava ligado ao desconforto sob a forma de raios x duros. Quando chegavam a ponto de serem decantados, os embriões tinham horror ao frio. Ficavam predestinados a emigrarem para os trópicos, a serem mineiros, tecedores de seda de acetato e operários de fundição. Mais tarde, seu espírito seria formado de maneira a confirmar as predisposições do corpo. – Nós os condicionamos de tal modo que eles se dão bem com o calor. (...) Tal é a finalidade de todo condicionamento: Fazer as pessoas amarem o destino social de que não podem escapar.” (HUXLEY, 1932, p. 44)

Não existem nessa sociedade indivíduos não adaptados exceto por Bernard Marx, um homem pertencente a casta mais nobre, um alfa-mais que não se enquadra nas características, sua baixa estatura faz com que ele se sinta deslocado emocionalmente, sua curiosidade o leva a questionar e relutar contra a sociedade, sendo julgado e tido como louco por todos os outros que não entendem os questionamentos dele. Consequência disso é a sua ida junto com Lenina Crowey, uma beta que trabalhava junto com ele e com quem possuía um relacionamento, a uma reserva de selvagens (pessoas que resistiram às mudanças da sociedade e vivem nos moldes antigos, como os índios atualmente). Acabam conhecendo John e Linda por serem os únicos a falarem a sua língua e descobrem que Linda é uma civilizada, em uma viagem com o Diretor para a reserva ela se perdeu e não conseguiu voltar, ambos ficam horrorizados ao saberem que John é filho dela. As famílias assim como a religião, fora da reserva não existem mais, todos são de todos, as mulheres não engravidam e a exclusão de todas essas construções sociais permitem um controle melhor evitando conflitos e um bem-estar social constante. Por esse motivo Linda não tentou voltar, por vergonha de ter tido um filho.

John é completamente o oposto dos civilizados, não entende como eles podem agir sem ser por vontade própria, sem serem de fato livres. No livro a forma de governo autoritário e controlador é aceitável e normal, já que assim é possível ter uma felicidade constante. Não é necessário o uso da violência ou da força, o Estado exerce seu poder e os controla através do prazer. As pessoas não pensam que estão agindo por vontade própria, sabem que foram condicionadas àquilo. William Baum traz uma discussão sobre o determinismo versus livre-arbítrio. Para ele o determinismo é “a noção de que o comportamento é determinado unicamente pela hereditariedade e pelo ambiente” e o livre-arbítrio “ a tendência de atribuir crédito e culpa às pessoas, de afirmar que há no comportamento algo mais do que hereditariedade e ambiente, que as pessoas têm liberdade para escolher o curso de suas ações”. A problemática proposta gera inúmeros questionamentos, será que a minha decisão de não ingerir bebida alcoólica por exemplo, foi mesmo minha, determinada ou até mesmo uma escolha mas ainda assim dentro de determinações possíveis? E até mais profundas, o modo que nós vivemos hoje em dia, escolhemos ou somos fruto de um sistema determinado e nem sequer nos damos conta disso?

Em ditaduras é possível observar nitidamente o determinismo, certos atos terão consequências, positivas ou não, diferentemente da democracia onde supostamente o sujeito tem a liberdade de escolha e de fazer o que quiser, até onde a lei permite. No sistema capitalista, com a divisão do trabalho iniciada por Ford - mencionado no livro inclusive, trazendo a relação entre a produção em série, mecanização e linha de montagem com os seres humanos, suas relações e padronizações - somos separados por classes, as escolas em sua maioria não são as mesmas para classes diferentes, os espaços de lazer, nem mesmo os relacionamentos, “condicionados” ao consumo, nas escolas as crianças e adolescentes são moldadas para servirem como força de trabalho nesse sistema, onde muitos já perderam o senso crítico. Já o personagem Bernard Marx faz uma alusão ao próprio Karl Marx, indo contra o sistema vigente.

O behaviorismo no livro é levado ao extremo, sem falhas, onde as pessoas são completamente condicionadas. Hoje, de fato algumas mudanças e adaptações ocorreram, como o comportamento operante já citado, as possibilidades são introduzidas aos métodos de

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