A Recente imigração haitiana para o Brasil
Por: SonSolimar • 1/7/2018 • 3.067 Palavras (13 Páginas) • 323 Visualizações
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seus fundamentos na Teoria Histórico-estruturalista, os defensores desta corrente em especial Charles Wood, Gino Germani, Paul Singer e Michael Piore, ao estudarem o processo migratório, adentram em vários processos para fim de chegar a um entendimento dentro de um dado sistema, para essa teoria o fator imigratório é interdependente, sendo assim não seria aconselhável, estudar apenas um aspecto de forma isolada.
REVISÃO DE LITERATURA
O ato de migrar ultrapassa as fronteiras físicas de abandonar uma região para se estabelecer em outra. Existe uma reconstrução de significados para o sujeito que migra, pois se trata de uma nova cultura, com hábitos, línguas e regras, diferente do que se conhece.
A saída da terra natal para um novo espaço deve-se a uma busca de melhores condições de vida que, para Singer (2008), as mudanças devem ser analisadas distintamente, sem que haja a separação das decorrências globais. Desta forma, as migrações de africanos para a Europa não devem ser vistos com os mesmos olhares para com as migrações de japoneses para o Brasil durante a Segunda Grande Guerra. Isto porque, as migrações ocorrem em diferentes contextos, mas que segue o mesmo princípio: “quem migra leva consigo sonhos de uma vida melhor para si e suas famílias, de obter sucesso econômico rápido e de regressar vitorioso, o quanto antes, à sua terra natal” (SILVA, 2006, p. 157).
Jerusalinsky (2000) atribui ao desenvolvimento industrial como um dispositivo para a imigração. Ou seja, com o avanço das tecnologias, o sujeito artesão, antes detentor do saber sobre o seu produto perde seu espaço. Não é mais necessário este sujeito artesão transmitir o seu conhecimento, pois as novas ferramentas tecnológicas dão conta de produzir. Com isto, o sujeito artesão, o trabalhador, perde seu significado, perde seu valor.
Quer dizer, o sujeito vê-se na necessidade de migrar. Já não pode ficar em sua cidade, tem que ir estudar e trabalhar em outro lugar. Para não ficar fora do circuito produtivo e sofrer uma perda de valor de seu trabalho vê-se obrigado a deslocar-se para aquele lugar onde o objeto é produzido tal e como a sociedade industrial o concebe. O lugar passa a ser pólo, tanto de saber como de força, para a determinação dos agrupamentos humanos. Assim de produzem as macrópolis (JERUSALINSKY, 2000, p. 42).
Macrópolis como a cidade de São Paulo recebem inúmeros imigrantes vindos de vários países, principalmente dos países de baixo índice de desenvolvimento na América Latina. Eles vêem na cidade o “coração da economia nacional” (BAENINGER, 2005, p. 87), criam o imaginário da cidade das oportunidades, principalmente pela atual colocação do país no cenário econômico mundial, ostentando grande prestígio e importância para a América Latina.
Mas, sua chegada cheia de esperança, não se torna um “caminho sem espinhos”: ela é turbulenta, cruel, sem um pouso e sem alimentação. O imigrante encontra no trabalho ilegal, como escravo, um meio de conquistar algum dinheiro para se sustentar e pagar a sua viagem. Se antes a vida árdua o fez encher-se de energia para buscar uma nova vida, porque então se manter num mundo penoso?
Podem-se entender as distintas dificuldades enfrentadas por um imigrante, começando pela língua, mas, por outro lado, vale se apossar de seu histórico de vida e dos valores enraizados, naturalizados. Para uma ruptura dos valores antigos exige-se coragem e esperança, embasando no passado triste e doloroso. Para Freud (1996 [1927-1931], p. 15):
[...] faz-se sentir o fato curioso de que, em geral, as pessoas experimentam seu presente de forma ingênua, por assim dizer, sem serem capazes de fazer uma estimativa sobre seu conteúdo; têm primeiro de se colocar a certa distância dele: isto é, o presente tem de se tornar o passado para que possa produzir pontos de observação a partir dos quais elas julguem o futuro.
Portanto, o sujeito se submete a estas formas de atividade - trabalho escravo - pois fazem parte de seu referencial vivenciado no passado. Assim, toda angústia, todo sofrimento vivido em sua terra natal, de alguma forma, é novamente repetida, de tal modo que, o imigrante pode construir esta nova concepção de vida por ele desejada. Este fato pode ser visto na pesquisa elaborada por Rizek, Georges e Silva (2010, p. 125), onde “os fluxos migratórios de populações acostumadas a condições precárias de vida, contribuíram para a naturalização das formas de trabalho precário”.
Estes eventos - reviver o passado - nos remete a algo importante dentro dos estudos de Simone Weil, o enraizamento. Para Weil (1996, p. 347) “o ser humano tem uma raiz por sua participação real, ativa e natural na existência de uma coletividade que conserva vivos certos tesouros do passado e certos pressentimentos do futuro”. Dentro desta coletividade o imigrante é desenraizado (BOSI, 2003), adota uma nova cultura, sem perder sua esperança amarrada nas vivências do passado.
Elaborar uma nova cultura - interiorizar, exteriorizar e objetivar - fazendo parte da dialética da sociedade (BERGER, 1985). Nesta nova civilização, o sujeito imigrante é o estranho com formas indígenas, com hábitos rudimentares, da fala torta, de pouca verba, sem abrigo, sem nada, apenas com sua esperança de uma vida melhor. Elaborar uma vida de luto que, “só será feita quando todos os laços tiverem sido soltos e os fios estiverem novamente em condição de poderem ser usados para fazer novos laços e para dar novos nós” (ROCHA, 2007, p. 268).
Porém, a dialética da sociedade é complexa. Não basta refazer os nós, é necessário refazer esses nós dentro de uma sociedade onde o estranho é o próprio imigrante, lidar com suas forças internas dentro de uma sociedade desconhecida e capciosa.
O estranho despedaça a rocha sobre a qual repousa a segurança da vida diária. Ele vem de longe; não partilha as suposições locais – e, desse modo, ‘torna-se essencialmente o homem que deve colocar em questão quase tudo o que parece ser inquestionável para os membros do grupo abordado. Ele ‘tem de’ cometer esse ato perigoso e deplorável porque não tem nenhum status dentro do grupo abordado que fizesse o padrão desse grupo parecer-lhe ‘natural’, e porque, mesmo se tentasse dar o melhor de si, e fosse bem-sucedido, para se comportar exteriormente da maneira exigida pelo padrão, o grupo não lhe concederia o crédito da retribuição do seu ponto de vista (BAUMAN, 1998, p. 19).
O estranho imigrante haitiano sem aparato é conduzido até a marginalidade do plano social,
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