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Ordem e Progresso pra quem?

Por:   •  12/10/2018  •  1.280 Palavras (6 Páginas)  •  283 Visualizações

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Como podemos perceber o termo “classe perigosa” transforma sua dimensão anterior, não falamos mais, apenas, da classe trabalhadora, enfraquecida pela correlação de forças, mas o crime violento que é tipificado no imaginário social representado pela pobreza e marginalidade na favela. Elevados principalmente pelo tráfico de drogas e envolvimento com cartéis estrangeiros.

Esse cenário de violência, insegurança e medo frequente que põe em risco o direito fundamental no Rio de Janeiro, a vida, coloca a cidade no que metaforicamente nomina a favela em estado de “guerra”. Tal perspectiva reafirma-se ao longo de décadas nas campanhas políticas, em situações em que a violência agrava-se, objetivando uma demanda constante de ordem pública, principalmente, e das quais são ouvidas, pelas camadas médias e altas da sociedade.

Isso porque “favelados” são indivíduos que não se adéquam a ordem social, não havendo solução política ou institucional para “corrigir” tal situação. Cabendo apenas o conflito aberto nas ruas, colocação de uma situação de guerra. Mas representar como guerra, o conflito social implica definir lados, do qual a vitória requer o extermínio dos inimigos. De um lado, portanto, cidadãos – pessoas de bem, em que manter a segurança é uma situação primordial para a produção e reprodução no mercado – garantido politicamente e estruturalmente pelo Estado, de outro a favela, sem distinção entre moradores e criminosos, com uma leitura particularizada da cidadania.

A favela assim é um território de ausência da cidadania, em que no combate ao crime, aloca-se o Estado burguês no combate aos moradores/as que, muita das vezes, nada têm a ver com o crime organizado, com a violência, e que na verdade, encontram-se nesta condição de pobreza em função do próprio funcionamento do capital, com seu desenvolvimento desigual e combinado, com a sua necessidade de gerar pobreza para que assim haja riqueza.

Na concepção que estrutura os estereótipos meio a favela, os/as “favelados/as”, não são inocentes, eles/elas optaram por estarem ali, e por automaticamente escolherem seu lado nesta “guerra”. Justificando-se falas como, “bandido bom é bandido morto” reforçada pela mídia e priorizando a realidade das comunidades mediante a hostilidade. Morar na favela torna o indivíduo cúmplice de traficante de drogas, ou como aprecia a mídia em repercutir seu termo esvaziado e subalternizado: bandido. São submetidas, aos moradores/as, “a lei do tráfico”, ficando a “lei do país” sem legitimidade aos/as “favelados/as”. O estilo de vida na favela, que segundo o discurso ultrapassado e fragmentado, colocam os/as moradores/as na condição de escolherem tal estilo de vida, rejeitando por “livre e espontânea vontade” as normas e valores estabelecidos na ordem social.

Como podemos perceber a subalternização e colocação enquanto uma cidade partida, onde não há igualdade nem formalidade perante a lei, submete, que fique claro, mediante as condições históricas das quais resumidas anteriormente, a comunidade a “aceitar” a força sócio-política semi-legítima do tráfico, por medo, por falta de uma alternativa, mediante a ideia de “guerra” auto-instaurada. Afinal quem os/as protegerá da polícia?

Com a colocação de um Estado burguês que promove investimentos pontuais, baseado pela especulação financeira, funcionamento do mercado, tendo como ferramenta básica parcerias público-privadas, garantindo por sua vez que a cidade atraia fluxos financeiros como, a título de exemplos atuais, “Copa do Mundo”, “Olimpíadas”, dos quais se torna necessário “civilizar” as comunidades perigosas que cercam a cidade maravilhosa. Reafirma assim seu lugar na favela na promoção de uma política pública e urbana ao mesmo tempo – revelando mais uma vez sua intenção de não integração. A exemplo, o papel da polícia, que institucionaliza-se estabelecendo o papel de garantidor da cidadania nestes locais, gerindo a vida de homens e mulheres na sua produção e reprodução cotidiana, intervenção no funcionamento de espaços culturais, repressão sem limites no intuito de manter a ordem e o progresso!

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