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A centralidade do trabalho

Por:   •  10/4/2018  •  951 Palavras (4 Páginas)  •  327 Visualizações

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do bem-estar social, conciliado às taxas de desemprego que bateram em quase toda Europa na casa dos dois dígitos, à precarização crescente dos empregos, o achatamento do poder aquisitivo dos salários (que nos Estados Unidos, por exemplo, se depreciam por quase três décadas), as privatizações em todo mundo e o ataque aos "privilégios" dos servidores públicos, a desregulamentação econômica mundial que baixou as "barreiras de entrada" aos produtos das "plataformas de exportação" do Terceiro Mundo e construiu um mercado mundial de força de trabalho em que os altos salários do Primeiro Mundo viram-se ameaçados diretamente pelas remunerações miseráveis da periferia. De uma forma geral, todo o conjunto de desgraças do "colapso da modernização" deu um fim rápido à utopia do tempo livre. A tese da "perda de centralidade do trabalho" não podia também permanecer de pé.

O desemprego em massa e a redução da seguridade forçaram o retorno ao trabalho; a concorrência acirrada no mercado rebaixou o preço da força de trabalho; a instabilidade no emprego justificou reduções em benefícios ou salários; o fenômeno secular de redução da jornada começou a se inverter; os cursos de "reciclagem" se popularizaram frente a uma dinâmica implacável de modificação nos processos de produção; e, por fim, a reengenharia empresarial e o discurso do "associado da empresa", do "colaborador" ou do "livre-empreendedor" transformaram a utopia do tempo livre num inferno - a jornada, flexibilizada, passou a avançar para a vida privada e o trabalho se integrou à vida.

Destarte, o tempo livre, desenvolvido pela reestruturação produtiva, reorganização econômica e pelas descobertas da microeletrônica e robótica, tornou-se uma libertação totalmente negativa, pois ao invés de permitir o desfrute do ócio passou a representar a expulsão do trabalho. Nada mais que natural, portanto, que uma situação de desemprego em massa e de precarização crescente dos postos de trabalho reativasse a antiga ideologia: novamente o trabalho voltou ao centro da vida social, como o nexo cultural básico e uma "virtude".

A ideologia do trabalho, hoje, consiste na pura e simples afirmação das condições dadas: não se trata de escamotear o conteúdo desumano do trabalho, mas demonstrar que fora dele não há possibilidade sequer de vida. Trata-se de não mais enternecer o trabalho, mas de admiti-lo como tal, frente às condições objetivas de exclusão crescente: "qualquer trabalho é melhor que nenhum", teria dito Bill Clinton.

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