O TRABALHO E EDUCAÇÃO: UMA RELAÇÃO IMBRICADA
Por: Salezio.Francisco • 25/12/2018 • 3.179 Palavras (13 Páginas) • 487 Visualizações
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Dessa maneira, o desenvolvimento da produção levou à divisão do trabalho, e com isso, a apropriação privada da terra e a divisão da sociedade em classes, ocorrendo uma divisão na educação, a qual passou a ter duas modalidades bem distintas: uma para a classe proprietária, e outra para a classe não proprietária. “A primeira, centrada nas atividades intelectuais, na arte da palavra e nos exercícios físicos de caráter lúdico ou militar. E a segunda, assimilada ao próprio processo de trabalho.” (SAVIANI, 2007, p.155).
Da primeira modalidade de educação originou-se a escola - derivada do grego e que significa o lugar do ócio, do tempo livre, assim lugar que iam aqueles que não precisam trabalhar, – desenvolvendo uma forma específica de educação que “passou a ser identificada com a educação propriamente dita, perpetrando-se a separação entre educação e trabalho” (SAVIANI, 2007, p.155). O referido autor aponta que, após o modelo de sociedade escravista, onde o Estado desempenha papel importante na educação, no modelo feudal de sociedade, da Idade Média, a Igreja Católica possui marca forte nas escolas, e já o modelo de produção capitalista coloca novamente o Estado como protagonista central, forjando assim a ideia de escola pública, universal, gratuita, leiga e obrigatória. “Conclui-se, portanto, que o desenvolvimento da sociedade de classes, especificamente nas suas formas escravista e feudal consumou a separação entre escola e trabalho” (SAVIANI, 2007, p.157).
Nesta direção, observa-se que a escola em seus primórdios e ao longo da história da humanidade é um instrumento de preparação para os futuros dirigentes, como ressalta Saviani (2007). Entretanto a formação dos trabalhadores ocorre concomitantemente com exercício de suas funções, inicialmente, exclusivamente no seu exercício e atualmente aliando o exercício de suas funções com a escola, fato este que é exigência do surgimento de uma nova maneira de produção: a industrial, onde impõe-se o domínio de uma cultura intelectual, na qual o alfabeto é o elemento mais elementar e sendo a escola o melhor instrumento para viabilizar este domínio. A Revolução Industrial e o fortalecimento do sistema capitalista no século XVII, exigiu uma escolarização mínima dos trabalhadores, numa época que a grande maioria da população mundial era analfabeta.
A introdução das máquinas na produção reduziu a necessidade de qualificação específica para se exercer um ofício, além de ser possível executar grande parte dos trabalhos antes manuais. Essa transferência para as máquinas das funções humanas só foi possível por que elementos intelectuais antes separados do trabalho manual humano puderam ser incorporados ao uso de máquinas, assim o trabalho tornou-se também abstrato ao se organizar com princípios científicos elaborados pelo intelecto humano. Consequentemente, essa nova maneira de produção reorganizou as relações sociais.
À dominância da indústria no âmbito da produção corresponde a dominância da cidade na estrutura social. Se a máquina viabilizou a materialização das funções intelectuais no processo produtivo, a via para objetivar-se a generalização das funções intelectuais na sociedade foi a escola. Com o impacto da Revolução Industrial, os principais países assumiram a tarefa de organizar sistemas nacionais de ensino, buscando generalizar a escola básica. Portanto, à Revolução Industrial correspondeu uma Revolução Educacional:
aquela colocou a máquina no centro do processo produtivo; esta erigiu a escola em forma principal e dominante de educação. (SAVIANI, 2007, p.159).
Dessa maneira, a escola primária tornou-se fundamental para que o homem pudesse fazer parte da sociedade moderna, principalmente da maneira modernosa de produção que havia se intensificado. Entretanto, além de trabalhadores que soubessem operar as máquinas, havia a necessidade de serem realizadas atividades de manutenção nestas, e estas atividades exigiam determinadas qualificações específicas que seriam obtidas por um preparo intelectual específico. Para atender esta necessidade surgiram os cursos profissionais, “organizados nos âmbitos das empresas ou do sistema de ensino, tendo como referencia o padrão escolar, mas determinados diretamente pelas necessidades do processo produtivo” (SAVIANI, 2007, p.159).
Por consequência, o sistema de ensino bifurcou-se entre as escolas: de formação geral e as profissionais; uma centrada nas qualificações gerais (intelectuais) e a outra nos aspectos operacionais vinculados ao exercício de tarefas específicas (intelectuais e manuais). Porém, esta separação teve uma dupla manifestação, como aponta Saviani (2007, p. 159)
a proposta dualista de escolas profissionais para os trabalhadores e “escolas de ciências e humanidades” para os futuros dirigentes; e a proposta de escola única diferenciada, que efetuava internamente a distribuição dos educandos segundo as funções sociais para as quais se os destinavam em consonância com as características que geralmente decorriam de sua origem social. (grifo do autor).
Observa-se que, no decorrer do processo de industrialização algumas necessidades foram surgindo e a sociedade capitalista foi adaptando seus modelos de produção. Pereira, Costa e Maciel (2008) apontam alguns desses modelos de produção e suas interferências no modo de ser da escola. O quadro abaixo apresenta as características gerais dos principais modelos de produção capitalista e a função que a escola possui nestes.
Tabela: Principais características dos modelos capitalistas de produção e a função da escola
MODELO
CARACTERÍSTICAS
FUNÇÕES ESCOLARES
Fordismo/ Taylorismo
- Relação de trabalho hierarquizada;
- Sindicatos fortes;
- Burguês X Proletariado;
- Disciplina pela perfilação: senso de honra;
- Centralização dos meios de produção;
- Trabalho muito especializado e pouco qualificado;
- Produção em larga escala;
- Trabalhador especialista;
- A escola passa a preparar para o trabalho numa perspectiva onde o cognitivo e o conhecimento permanecem em segundo plano;
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