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Fundamentação teórica de trabalho com EJA

Por:   •  30/6/2018  •  7.097 Palavras (29 Páginas)  •  278 Visualizações

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Como levantado acima, o segundo período da educação de adultos propriamente dito, no Brasil (1958 – 1964) teve uma influência muito grande de Paulo Freire, o que até hoje é perceptível no discurso, mas que em contrapartida não é praticado. O que Paulo Freire defendia era uma Educação Popular, o que se entende como uma importância em trabalhar a prática pedagógica com o cotidiano, por isso uma educação popular. Nas palavras de Paulo Freire (2010: 15) “Os próprios conteúdos a serem ensinados não podem ser totalmente estranho àquela cotidianidade”. E qual seria esse cotidiano que o célebre educador se refere? É o cotidiano, principalmente dos moradores do campo, que viviam o seu próprio analfabetismo arraigado a sua cultura regional e desigual política e economicamente falando. Era preciso por tanto pensar em uma educação libertadora.

Como poderia ser pensada uma educação libertadora a partir de uma proposta pedagógica que tinha como foco o analfabetização sem reprodução de um pedantismo acadêmico e elistista? Para isso, é necessário pensar que uma Educação Popular envolveria uma reflexão a militância, uma busca por direitos roubados. E para tanto é preciso colocar o sujeito como parte importante no seu processo de educação. Portanto, é preciso também os educadores perceber isso, sem elitismo, sempre buscando um senso crítico. (FREIRE, 2010: 16). Esse senso crítico era buscado nessa proposta de educação através de uma prática pedagógica horizontal, cuja relação educador e educando se daria em uma troca, já que se partia do pressuposto que o educando já possuía um conhecimento e a leitura e a escrita lhe seriam apenas ferramentas necessárias para que o mesmo lê-se bem como compreende-se o mundo, de forma crítica, isso é, libertadora.

Pensando nessa demanda, não basta para a resolução da problemática, ser um educador. É preciso que para ser um “libertador” se faz necessário um conhecimento histórico-econômico daquela comunidade em que será trabalhada. (GADOTTI, 2010: 32).

Mas o que mais se refere uma Educação Popular? Refere-se primordialmente a uma que olha criticamente a própria realidade levando em consideração a regionalidade e a cultura do alfabetizando, para tanto é preciso pensar em práticas pedagógicas que alcancem a realidade cotidiana, ou nas palavras de GADOTTI (2010: 33) “Conhecemos o mundo primeiro através de nossos pais, através de nosso círculo imediato e só depois é que progressivamente alargamos nosso universo.”. Considerando que:

“Não se trata de negar o acesso à cultura qual elaborada, que se constitui num importante instrumento de luta para as minorias. Trata-se de não matar a cultura primeira do aluno.” (GADOTTI, 2010: 33)

Ou seja, uma Educação Popular é pensar em práticas pedagógicas que fortaleça o pluralismo cultural, fortalecendo uma relação interdependente com o mundo, é fazer uma filosofia do diálogo, um pluralismo. E isso só é possível em pequenos grupos. Pensar que o estado fará isso massivamente é ingenuidade, e se o fizer será em uma postura vertical, sem levar em consideração a regionalidade e a particularidade de cada comunidade, tornando-se por tanto uma prática autoritária. (GADOTTI, 2010).

Com tudo, se faz necessário problematizar a própria antítese do analfabetismo, a alfabetização e o seu mediador, o alfabetizador para uma ação efetiva. Para GADOTTI (2010: 38) “Alfabetizar não é uma coisa intrinsecamente neutra ou boa; dependente do contexto.” Onde o mesmo continua (p.38): “A alfabetização na cidade e no campo tem conseqüências diferentes para os alfabetizando.”

O alfabetizador é um mediador entre o aprendiz e a escrita. Esta mediação consiste em estruturar atividades que permitam o alfabetizando agir e pensar sobre a escrita e o mundo, pois o seu primeiro direito é se expressar. Não se pode tratar o alfabetizando adulto como uma criança. (GADOTTI, 2010).

Com tudo levantado até agora pensar na EJA sobre essas perspectivas nos faz questionar se efetivamente é esse a prática pela qual elas vêm se apoiando na atualidade.

O processo de redemocratização do país (1984) em parte contribuiu para o florescer das idéias de Paulo Freire, com tudo a aprovação de nosso primeiro projeto de Lei de Diretrizes e Base da Educação (Lei nº 4.024/61) tramitou por cerca de treze anos no Congresso Nacional. Onde temos a figura do antropólogo Darcy Ribeiro (1922 – 1997) que apenas reproduziu em seu discurso a educação presa a uma lógica de opressão de classes, com propostas elitistas que visam a alienação do povo. (ROMÃO, José. E, 2010: 49). Tal fator tem como reflexo a idéia que se da EJA como meramente uma educação que promova a falta de uma na vida de um sujeito com a prospecção de capacitá-lo única e exclusivamente para o mercado de trabalho, atendendo cada vez mais um ensino de abordagem técnica e afastando-se cada vez mais da criticidade e da libertação a partir da alfabetização.

Com essa presente realidade se faz necessário pensar no educador-alfabetizador, bem como em sua formação.

Para que isso ocorra é necessário uma coerência entre o processo de formação e o processo de alfabetização em que a formação está inserida. “Pouco ou nada adiantará dizer-se, na formação que o educando é sujeito no processo quando a formação tratar os formandos como objeto.” (BARRETO & BARRETO, 2010; 83).

Também é preciso considerar que não há diferença entre educador e alfabetizar. Todo alfabetizador é necessariamente um educador. Partindo disso é preciso olhar para alguns equívocos para melhorar a formação que segundo BARRETO & BARRETO (2010: 80 - 82) são quatro os equívocos:

1° A formação pode tudo:

Este equivoco nasce de uma visão autoritária do processo educativo, que desconhece a condição de sujeito do educando. As pessoas não são instrumentos que podem ser usados para qualquer tarefa através de um processo de formação.

2º A formação antecede a ação:

A formação é uma prática de conhecimento e todo o conhecimento nasce como uma pergunta. A pergunta é o primeiro passo do conhecimento. As perguntas surgem na ação, em sua grande maioria.

3º A separação entre a teoria e a prática:

Estabelecer uma dicotomia entre a teoria e a prática faz com que se possa imaginar a formação como um espaço teórico e a ação como um espaço prático e assim, tratados separadamente, elimina-se a possibilidade de atingir

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