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SOCIOLOGIA CLÁSSICA: Durkheim, Weber e Marx

Por:   •  8/10/2018  •  42.500 Palavras (170 Páginas)  •  499 Visualizações

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INTRODUÇÃO

Clássicos, dizem os estudiosos, são autores sempre atuais. É por isso que nós estamos sempre relendo suas obras. Resta então a pergunta: qual a atualidade dos clássicos? Consultando outros textos de teoria sociológica, você logo perceberá que existem muitas respostas para esta questão e cada uma delas têm a sua parcela de verdade. Portanto, é interessante examinar com cuidado o que elas dizem.

Uma primeira formulação para a questão da validade dos clássicos, bem poderia ser aquela elaborada por Michel Foucault, e que nos lembra que, para se consolidarem, os “saberes” tendem a construir uma interpretação unilinear e evolucionista de sua história. Esta interpretação tem como objetivo legitimar o trabalho intelectual do presente louvando o passado; bem como desacreditar interpretações concorrentes. Com certeza, a sociologia não está imune a este processo. Basta lembrar que a elevação dos autores mencionados ao papel de “clássicos” é uma construção posterior às suas obras. Envolve, portanto, uma papel seletivo em relação ao passado. Muita gente importante poderia ainda ser lembrada e até equiparada ao papel de clássicos, mas, foram esquecidos. O que esta intepretação nos ajuda a perceber, enfim, é que estabelecer quem é clássico ou não, também é uma questão de “poder”!

Uma segunda resposta para a mesma questão adota em enfoque histórico. Nesta perspectiva, Durkheim, Weber e Marx são importantes para o estudo da sociologia porque são os pioneiros desta ciência. Assim, sua importância para as ciências sociais seria a mesma de Platão e Aristóteles para a filosofia, ou de Galileu Galilei e Copérnico para a física, e assim por diante. Logo, o que justifica seu estudo, é que os clássicos do pensamento social são uma etapa da história da sociologia. Não estudá-los seria esquecer as origens e os passos cronológicos desta ciência.

Para a vertente histórica, o fundamental no estudo dos clássicos é perceber que eles foram os primeiros responsáveis pela criação de uma série de conceitos e teorias que ainda hoje são adotados pela sociologia. Ainda que possam ter se modificado, termos como “classe social”, “capitalismo”, “ação social”, “estratificação social”, “grupos sociais” e muitos outros - que são conceitos típicos na análise sociológica - começaram a ser elaborados no período clássico. Como hoje eles ainda continuam a ser usados, é preciso voltar ao passado e entender por que e como eles foram criados e utilizados. Para o enfoque histórico a importância do estudo dos clássicos tem a ver especialmente com a questão da linguagem sociológica, suas origens e transformações.

Todavia, mesmo que admitamos que cada uma das interpretações acima tem a sua parcela de verdade, a sociologia sempre considerou que o papel de seus fundadores é algo muito mais do que arbitrário ou ainda mera curiosidade histórica. O papel de “clássicos” reservado a Durkheim, Weber e Marx deve-se às virtudes e qualidades de suas próprias obras e teorias. De acordo com esta interpretação, “os clássicos (...) são fundadores que ainda falam para nós com uma voz que é considerada relevante. Eles não são apenas relíquias antiquadas, mas podem ser lidos e relidos com proveito, como fonte de reflexão sobre problemas e questões contemporâneas[1]” .

Portanto, é aqui que está o eixo da questão. Para mostrar ao estudante, porque, nas ciências humanas, o estudo dos fundadores da sociologia é tão importante, é preciso demonstrar quais são as questões levantadas por eles que ainda nos ajudam a pensar a realidade do mundo de hoje; pois é isto que faz com que Durkheim, Weber e Marx sejam considerados “clássicos” da sociologia. Foi para responder quais são estas “questões” e, qual sua relação com a “realidade do mundo de hoje” que concebemos este trabalho. Ao longo destas linhas, vamos convidá-lo a conhecer em profundidade cada um destes autores e perceber de que modo suas teorias e interpretações apontam para as características do mundo moderno e de nossa própria vida individual.

- Método de estudo

Além de apontar para atualidade dos clássicos da sociologia, também é nossa intenção oferecer-lhe uma nova maneira de estudar e compreender estes autores. Existem muitos trabalhos sobre este tema e responder a questão da validade dos clássicos está longe de ser um tema novo. Logo, nosso trabalho não pode cair na mera repetição do que já foi exaustivamente explicado.

Porém, como novas leituras sempre são possíveis, pretendemos oferecer neste texto uma interpretação dos clássicos da sociologia à partir de três eixos fundamentais:

- suas contribuições teórico - metodológicas ,

- suas interpretações à respeito do surgimento e do caráter da sociedade moderna,

- suas diferentes propostas políticas.

Longe de simplesmente repetir o que outros textos esclarecem , estas três dimensões de análise vão nos permitir dar um tratamento novo ao conteúdo da obra dos clássicos. Para entender esta proposta de estudo, é importante situá-la em relação a outras abordagens.

Normalmente, o estudo da sociologia clássica é realizado segundo duas perspectivas: uma de caráter histórico e outra de caráter sistemático. Na primeira, o pensamento do autor é apresentado de acordo com sua evolução interna, acompanhando a própria construção cronológica de sua teoria. Apesar de nos parecer a mais adequada e mais fiel para entender a obra de cada autor, é um método bem mais complexo e que requer um desenvolvimento mais demorado. Outra perspectiva, bastante comum, busca apresentar um quadro sistemático do pensamento do autor estudado. Neste método, abstrai-se da história de construção do pensamento do autor e se apresenta uma síntese final de sua teoria.

Tomando estes dois esquemas como parâmetros, podemos dizer que este trabalho adota uma perspectiva de estudo sistemático. Portanto, neste ensaio, pretendemos apresentar um esquema que possibilite uma compreensão global e unitária dos aspectos mais importantes das obras dos autores estudados. Todavia, a inovação que gostaríamos de introduzir no estudo sistemático dos clássicos da sociologia é uma maior atenção ao seu aspecto comparativo. Ou seja, trata-se de apresentar um esquema teórico que permita ao estudante uma possibilidade de comparação entre os autores destacados.

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