MÚSICA INDEPENDENTE NO BRASIL E INTERNET: APROPRIAÇÃO DE PÚBLICO, PRODUTORES E ARTISTAS
Por: Salezio.Francisco • 20/3/2018 • 2.347 Palavras (10 Páginas) • 458 Visualizações
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O intuito deste artigo é dissecar a relação entre artistas e produtores independentes com as tecnologias digitais para a partir desses dados apontar, principalmente, os benefícios de mercado que esses atores ganharam como advento da comunicação virtual.
INTERNET COMO PONTO DE CONEXÃO ENTRE ARTISTAS E PRODUTORES
É clichê afirmar internet tornou a produção mais barata. Quanto aos artistas, há possibilidade de se gravar discos ou EP’s em home studios[3] até o escoamento via plataformas digitais como o TNB, soundcloud, disponibilização em blogs para download e comunicação feita através das redes sociais por fanpages e perfis pessoais. Tendo em vista a ausência de capital de giro de numerosa parcela dos grupos, as redes sociais oferecem mais uma ferramenta de baixo custo para formação de público e expansão do material da banda, inclusive, para os media tradicionais. Ainda sobre a formação de público, Tatiana Rodrigues Lima afirma que
“uma vez ingressando nas plataformas de circulação digital, o interesse de um grande número de ouvintes, mediante esquemas de divulgação paralelos ao da indústria musical, como a recomendação de fãs em e-mails pontuais, redes sociais, listas de discussão, blogs, etc., pode levar ao ingresso posterior em formas massivas de divulgação.” (2012, p.204).
Quanto aos produtores todas essas redes se convertem em um valioso banco de dados onde se pode conhecer novas bandas e potencializa as possibilidades de se construir novas relações entre as partes para, inclusive, realizar um festival.
Tomamos como exemplo o festival BIG BANDS, realizado há sete edições pelo produtor soteropolitano Rogério Brito ‘Big bross’. A edição de 2015 teve sua equipe de trabalho integralmente composta de forma colaborativa; a equipe de trabalho foi construída através de um chat em grupo no facebook: e boa parte desses componentes eram músicos da cena independente da cidade que se dispuseram a ajudar das mais diversas maneiras em prol do fomento da cena.
O QUE SE ESPERA DE MÚSICOS E PRODUTORES
Assim como novas formas de produção e distribuição de conteúdo criam-se a partir da internet, a relacionamento com o público também sofreu mudanças. Com a nova rede, artistas, produtores e público se aproximam e a relação vai muito além da compra de discos e produtos da banda ou compra de ingressos para festivais. A rede encurta distâncias e oferece diversas plataformas de contato direto e personalizado com o público.
Essa aproximação exige que artistas e produtores produzam conteúdo regularmente e estejam inseridos em diversas plataformas, desde redes sociais em geral até blogs ou sites que tratem de música independente além das chamadas plataformas fora do eixo como o Toque no Brasil[4], ou TNB, rede social voltada para artistas e produtores onde são oferecidas oportunidades de show por todo o país e se pode concentrar todas as suas outras redes (Facebook, Twitter, Instagram, blog e YouTube). Sobre esta relação, Tatiana Lima cita que
[...] Do músico, não se espera que apenas componha e/ou execute música, além de marcar presença no rádio e TV divulgando seu trabalho. Os ouvintes o procuram no Twitter, Facebook e outras redes sociais, acompanham suas publicações em blogs e sites; se apropriam da sua música em vídeos amadores e manipulações sonoras como remixes, mashups ou simplesmente incorporando seus fonogramas em páginas pessoais ou disponibilizando suas gravações em sistemas p2p ou plataformas de compartilhamento. (2012, p.214-215)
Conforme a citado por Lima, a inserção em variadas mídias digitais tem papel fundamental na formação de público para o mercado de música. Essa diversificação oferece ao público um mergulho dentro dos bastidores da produção e do cotidiano de festivais e bandas. Através de fotos e vídeos dos grupos no estúdio gravando um disco, ou da equipe de logística atrelada a um determinado festival correndo de um lado para o outro dentro do evento, fazendo com que aqueles que seriam, outrora, apenas um consumidor final, migrem para o papel de alguém que fez parte ou pelo menos tem conhecimento do todo por trás de determinado produto e isso tem papel determinante em uma futura circulação porque gera expectativa em um indivíduo que potencialmente contagia outro e assim sucessivamente criando uma rede em torno de um produto.
À inserção de artistas e produtores em diferentes meios digitais, chamamos de crossmedia que a grosso modo pode ser traduzido do inglês como um cruzamento de mídias digitais. Por meio desse cruzamento há um claro objetivo de ampliar o raio de alcance para reunir público em torno de um produto.
BLOGS INDEPENDENTES
Novas ferramentas no meio comunicativo como blogs independentes transformam a relação do público x meio artístico utilizando diferentes critérios e valores para a divulgação do trabalho de determinados artistas e eventos culturais. Diferente dos grandes espaços ligados ao jornalismo musical que tem como função informar e criar uma identidade a um determinado contexto de produção e consumo, além de documentar para a história (MARQUES DE MELO, 2003), os blogs independentes são geridos por uma parte de um público que até então eram enquadrados como consumidores passivos e se tornam atores de um novo espaço midiático, além de estarem diretamente ligados a própria cena local, pois possuem o entendimento do que está sendo produzido, o que faz ter uma certa posição politica/ideológica com o que está sendo publicado, além de ter uma maior abertura de espaço para esses artistas onde terá como objetivo atingir um público que já está ali em busca de algo novo ou que dialogue com nichos e grupos que seguem ideologias específicas. Na medida que ganham relevância, esses espaços militantes acabam por cumprir uma forte função jornalística, que é a de reforçar uma identidade e produção cultural local (MARQUES DE MELO, 2003). E por meio do conteúdo disponível nesses blogs como não é aleatório como em uma rede de troca de arquivos, onde através de uma busca é possível encontrar qualquer artista. Existe uma seleção, uma relação de identidade e, principalmente, de militância nesses blogs (NOGUEIRA, 2011).
Em paralelo aos blogs independentes, as fanzines ainda contribuem para que bandas fora do mainstream consigam uma repercussão maior que o normal, utilizando muitas vezes da alta circulação dos seus exemplares para lançar artistas colocando no seu encarte discos que estão ligados ao tema da edição lançada.
O resultado positivo da
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