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Um estudo sobre a lixeira de Hulene como espaço de sociabilidade

Por:   •  24/5/2018  •  18.227 Palavras (73 Páginas)  •  344 Visualizações

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Na lixeira de Hulene, apanhadores de lixo de várias origens, de ambos sexos e de várias idades, “excluídos da ordem social vigente em Moçambique e dos benefícios do bem-estar” (Colaço, 1998:27), têm procurado sua alternativa de sobrevivência, recolhendo lixo para várias finalidades. É sobre o quotidiano dos apanhadores de lixo da lixeira de Hulene que vamos falar nesta monografia.

O tema desta monografia é estudo sobre a lixeira de Hulene como espaço de sociabilidade e o objectivo central da mesma é compreender a lixeira de Hulene como um espaço de sociabilidade. O alcance deste objectivo será possível através de análises e observações à forma como os lixeiros se relacionam, aos tipos de laços estes estabelecem e à forma como podemos olhar para estes enquanto um grupo identitário. O estudo da relação que estes mantêm com os vizinhos da lixeira também será objecto de nossa análise.

Neste estudo, entendemos que os lixeiros interagem e constroem relações sociais condicionados pelo meio em que se encontram e pela actividade que exercem. Diante disso, estas relações se apresentam características sociologicamente apreensíveis e analisáveis para melhor descrição do quotidiano e da identidade social deste grupo. É com base nestes pressupostos e na perspectiva de análise de sociabilidade que desenvolvemos nossa pesquisa sobre o dia a dia na lixeira de Hulene.

Nosso estudo focaliza as dimensões interactivas e identitárias dos actores sociais no contexto da lixeira. O nosso problema central consiste em perceber a natureza e as características das interacções e das relações sociais desenvolvidas naquele espaço e, sobretudo, como estas interacções e relações sociais participam na construção deste local enquanto um espaço de sociabilidade e de formação de identidades.

Como pré-respostas ao nosso problema, entendemos que os lixeiros interagem num espaço em que procuram sobreviver e as relações e interacções sociais por eles desenvolvidas naquele contexto são estruturadas pelas características e finalidades específicas dos resíduos que cada um recolhe. Mais ainda, partimos de pressuposto também que é neste contexto que os apanhadores de lixo constroem uma forma própria de se verem a si e aos indivíduos com quem interagem, afirmando-se assim enquanto um grupo identitário.

Em termos teóricos escolhemos a teoria de sociabilidade de Georg Simmel (1983). Este autor entende que a sociedade se forma a partir dos processos interactivos entre os actores sociais e a sua abordagem nos permite lançar um olhar sobre as características das múltiplas relações e interacções que se desenvolvem na lixeira bem como, o que estrutura tais relações interacções e as dinâmicas que movem a sociabilidade naquele espaço.

Conscientes ou inconscientes das relações que desenvolvem na lixeira, é a partir das suas interacções e devido ao contexto e situação em que se encontram que os lixeiros criam um universo simbólico[1] e formas próprias de ver o mundo que os rodeia. A sociabilidade naquele espaço se constrói a partir das interacções sociais entre os indivíduos que ali recolhem e reaproveitam o lixo. É nestas interacções que se formam as identidades dos lixeiros e, por esta razão, neste estudo a perspectiva de sociabilidade foi secundada por abordagens interaccionistas sobre construção de identidades sociais.

Os conceitos principais que usamos para captar e compreender o nosso objecto de estudo são sociabilidade, interacção social, lixo e identidades sociais. Operacionalmente, invocamos a sociabilidade para compreender como as interacções sociais desenvolvidas naquele espaço e com aquele espaço concorrem para a formação de espaços de sociabilidade e do grupo identitário dos lixeiros. Relativamente ao conceito lixo, procuramos trazer uma abordagem problematizante a volta do mesmo ou seja, buscamos discutir a validade conceptual e contextual do mesmo.

Pautando por uma abordagem hipotético-dedutiva e por um procedimento monográfico, nosso estudo foi possível através da combinação de algumas técnicas e métodos específicos entre eles, a pesquisa documental e a revisão bibliográfica, as observações directas na lixeira e as entrevistas e conversas com os interlocutores ligados directa ou indirectamente à mesma. A nossa amostra para estudo de campo foi composta por 22 indivíduos entre lixeiros, vizinhos da lixeira e o pessoal do Conselho Municipal da Cidade de Maputo (CMCM).

Acreditamos que o nosso estudo é pertinente e relevante na medida em que trás uma discussão sociológica que apresenta um ponto de vista sobre a lixeira, não só como um espaço de depósito de resíduos sólidos e como um espaço de reprodução da pobreza mas também, e sobretudo, como um espaço em que emerge um grupo cujos integrantes interagem como seres sociais e constroem ali um espaço de sociabilidade. Os apanhadores de lixo não só recolhem lixo mas também, se constituem como um grupo que tem mecanismos próprios de organização, modalidades próprias de interacção social cuja identificação e análise, são importantes contributos para a Sociologia.

Esta monografia comporta sete capítulos. O primeiro capítulo é dedicado à apresentação da contextualização do estudo; é neste capítulo onde é discutido o enquadramento do nosso tema no contexto actual das discussões à volta dos lixeiros e do lixo. No segundo capítulo avançamos com a colocação do nosso problema de estudo: aqui apresentamos as abordagens que já foram discutidas sobre o tema bem como, o problematização, as hipóteses de trabalho e os objectivos do nosso estudo.

No terceiro capítulo apresentamos a discussão teórica e conceptual do estudo. Neste capítulo discutimos mais detalhadamente o nosso quadro teórico, mostrando de que modo este se enquadra no estudo e na compreensão da sociabilidade e construção de identidades no contexto da lixeira de Hulene. O mesmo acontece com os conceitos: estes serão definidos e aos mesmo tempo operacionalizados com o objecto e com os objectivos da nossa análise.

O quarto capítulo é reservado à apresentação e discussão dos métodos que seguimos durante todas etapas que levaram a produção deste estudo. Aqui discutimos as técnicas e os procedimentos seguidos e também reservamos um sub-ponto para a apresentação dos principais constrangimentos que enfrentamos no processo de elaboração da monografia. No capítulo a seguir, no quinto, justificamos a pertinência do nosso estudo.

No sexto capítulo desta monografia apresentamos os resultados da nossa pesquisa. No primeiro ponto deste capítulo apresentamos a localização geográfica e espacial

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