O SISTEMA PRUSSIANO DE EDUCAÇÃO E A RELAÇÃO COM A REPRESENTATIVIDADE E REPRESENTAÇÃO DA MULHER NEGRA
Por: eduardamaia17 • 1/4/2018 • 3.795 Palavras (16 Páginas) • 476 Visualizações
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Diversos foram os sistemas de educação adotados desde a Antiguidade. Alguns eram voluntários, os alunos aprendiam o que tinha vontade, como era o caso de Atenas e a Academia de Platão. Outros, por sua vez, eram obrigatórios e rígidos, como o caso espartano, que treinava militarmente desde a infância seus cidadãos homens. Com o passar do tempo, e enfaticamente durante os séculos XVII e XVIII, os povos ocidentais passaram a reivindicar uma educação pública, além de outras demandas ligadas a outras áreas. Em muitos casos, como na França, tais demandas resultaram em uma Revolução. Em outros, os governos, a fim de evitar os conflitos gerados por uma Revolução, tornaram realidade alguns dessas exigências como a educação pública. Porém, como era de se esperar, cada Estado adequou essa educação da maneira que lhe foi melhor.
O Estado mais notoriamente despótico da Europa foi a Prússia, e este também foi o Estado que desenvolveu o sistema educacional que prevalece até hoje. Esse sistema, baseado no militarismo da época, controla seus indivíduos para que sejam obedientes e prepara-os para satisfazer as necessidades estatais, trazendo mais poder ao governo.
O sistema prega uma relação vertical entre docentes e alunos, inclusive na disposição dos móveis dentro de sala de aula e na arquitetura das escolas, as quais se assemelham a fábricas e presídios, o que de certa forma prepara as crianças a estes ambientes hostis. As escolas são pintadas de cores frias, como branco, gelo, bege, entre outras. A mesa do professor é maior que a dos alunos, encontra-se na frente da classe e centralizada, enquanto as mesas dos alunos são pequenas e organizadas sistematicamente em filas de maneira que eles só possam olhar para o professor e o quadro negro, que fica atrás dele.
Praticamente não existem prós para as minorias que vivem nesse sistema. A grande realidade é que ele, muitas vezes, impede de concluir qualquer coisa problematizadora, porque os estudantes não são ensinados a isso. São ensinados a obedecer e aceitar o que os ensinam, sem questionamentos. Por isso é tão difícil modificar essa lógica.
Para o indivíduo, esse sistema é sempre ruim, mesmo que ele negue ou não perceba. Para o Estado àquela época e o atual, é um sistema positivo que traz muito poder ao país - nacional e internacionalmente. Fazer com que os indivíduos obedeçam sem questionar e implementar uma lógica consumista, materialista e competitiva em suas cabeças, faz com que o Estado se fortaleça cada vez mais e cresça, enriquecendo os criadores dessa. Essa lógica, como é muito eficaz e confortável (e acaba se naturalizando na mente dos adultos), tende a se perpetuar.
3.1.1 - As crianças
Os primeiros dois anos de vida de um bebê são os mais importantes. Muitas crianças já vão à escola e creches nessa idade. É aí que o sistema prussiano começa a imprimir sua maneira de “ensinar” nos indivíduos. Há a hora de brincar, a hora de dormir, a hora de prestar atenção na professora sem manifestar incômodo, a hora de lanchar, e, finalmente, a hora de ir embora. Dessa forma, a criança perde a liberdade e é obrigada a seguir o que os professores mandam.
Sabe-se que as crianças são muito criativas, curiosas e questionadoras. Portanto, esse sistema limita sua natureza, e impede que elas encontrem por si só a solução. Nessa evolução, cada pequena criança tem o seu próprio tempo, e essa autonomia é importante para que cresçam cientes de que erros acontecem e muitas vezes são positivos, pois ensinam que podem superar essas dificuldades e aprender corretamente e de forma eficaz.
Ao atingirem a idade em que é obrigatória a entrada na escola, esse mecanismo de “podagem” se intensifica. Os professores começam a falar sobre provas e notas, classificando, assim, os alunos e suas individualidades por números que nada dizem sobre quem são ou o quanto sabem. As crianças são desencorajadas a se expressarem livremente, uma vez que, quando mais silenciosa e obediente ela for, menos atrapalha o processo.
O sistema de notas também incentiva a competição não sadia entre os alunos. Pois, de acordo com a lógica das escolas, os alunos que têm as melhores notas, são também os melhores. Sem levar em consideração as condições dos alunos para estudar fora do horário escolar; saber da disponibilidade dos pais (ou responsáveis) na participação da educação escolar; e também os episódios de discriminação que ocorrem tanto no ambiente escolar, como fora dele, e que afetam inteiramente o desempenho escolar dos alunos.
E se tratando das discriminações, focando nas raciais, é uma das causas de evasão escolar mais “silenciosas”, pois de acordo com uma amostra representativa do FIPE - Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas, com 500 escolas públicas no Brasil, cerca de 19% dos entrevistados, entre eles diretores, professores, alunos, servidores e responsáveis, sabiam da existência de episódios discriminatórios aos alunos negros, como agressão física e verbal, no ambiente escolar.
O retrato acima pode resultar não só na evasão, mas acabar em crises de ansiedade, pânico, depressão e outras patologias sérias que parecem ser o grande mal das últimas gerações. Ou seja, a lógica desse sistema educacional não termina quando o indivíduo termina a escola, mas, dependendo de sua experiência, perdura até o fim de sua vida.
Portanto, além das patologias, da competição e da lógica capitalista e materialista que a escola aos modos prussianos traz aos alunos, ela também tem o papel de manter esses alunos disciplinados, obedientes e não questionadores, para que, após a escola, eles escolham um emprego que fortaleça o Estado, o faça ganhar dinheiro e continuar vivendo sua vida para manter o sistema.
3.1.2 - Os professores, a escola e a garantia da história negra
Em todas as variações do sistema educacional prussiano os professores são sempre os que detêm a autoridade, essa por muitas vezes de caráter ditatorial, que visa ordenar o comportamento e moldar o pensamento das crianças. Assim, por meio de métodos ultrapassados e repetitivos que falham em prender a atenção ou gerar interesse nos alunos recorrem ao uso constante de ameaças e medo como ferramentas.
Métodos esses que assim como o sistema, são bastante eurocêntricos e voltados para os países do Norte, principalmente quando se trata do estudo da história, tanto brasileira, quanto mundial. Onde o que é mundial é apenas entre Estados Unidos da América e Europa, e o brasileiro é a visão eurocêntrica do que seria o Brasil, desconsiderando
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