Carnavais, malandros e heróis - Ensaio
Por: Carolina234 • 4/12/2018 • 1.207 Palavras (5 Páginas) • 294 Visualizações
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No início do século, Lima Barreto já escrevia sobre o uso dos títulos e as formas hierarquizantes e de subordinação em suas obras Recordações do Escrivão Isaías Caminha (1917) e Os bruzundangas (1922). Em um trecho deste último, o etnógrafo fala:
"Passando assim pelos preparatórios, os futuros diretores da República dos Estados Unidos de Bruzundanga acabam os cursos mais ignorantes e presunçosos do que quando lá entram. São estes tais que berram: - Sou formado! Está falando com um homem formado! "
Machado de Assis, em Papéis Avulsos (1882), escreve sobre sua "Teoria do Medalhão". Trata se da "fóruma indicada para obter sucesso num mundo social dominado pelo convencionalismo, pela ortodoxia das teorias e doutrinas, pela rigidez das práticas jurídicas, pelo modismo e conformismo que impedem as soluções originais profundas;" (DAMATTA. 1936. p.203). Os medalhões são as pessoas que já transcenderam as regras e que constrangem as pessoas comuns.
Uma situação com um personagem que poderia ser tipificado como um medalhão foi o motivou o escritor Érico Veríssimo a escrever um capítulo denominado "Sabe com quem está falando ?" no seu livro A volta do gato preto (1957). Em um trecho do livro, ele escreve: "Fico a pensar em certos homens presunçosos de minha terra, os quais só porque têm fortuna, posição ou algum parente importante jungam que são o sal da terra e vivem a perguntar: - Você sabe com quem está falando ?". Neste trecho, o autor juntou todos os elementos que dão a sensação de poder ao indivíduo para que use esta expressão: fortuna, posição social relativamente elevada, influência familiar.
Todo brasileiro já ouviu alguém dizer "Você sabe quem eu sou ? Sabe com quem está falando ?", direta ou indiretamente. Quem ainda não ouviu vai ouvir. Neste país de conveniência em que vivemos, o uso da discricionariedade (oportunidade + conveniência) para obter vantagens é cada vez mais frequente. Mesmo com as pessoas estando mais esclarecidas, sempre vai haver alguém para ceder à pressão da intimidação que esta expressão traz. É uma triste realidade, mas enquanto estiver embutido na nossa cultura o "jeitinho brasileiro", esta e outras formas de manter a sensação de poder, não vão deixar de ser usadas.
Referências bibliográficas
ASSIS, Machado de. Papéis Avulsos. 1882. Livraria Garnier, Rio de Janeiro.
BARRETO, Lima. Os bruzundangas. [s.d]. Editora Brasiliense, São Paulo.
CORTELLA, Mário Sérgio. Você sabe com quem está falando ? Disponível em www.flaviobotana.wordpress.com>. Acessado em 05/12/2016.
DAMATTA, Roberto. Carnavais, malandros e heróis.1936. Editora Rocco, Rio de Janeiro.
SCHWARTZ, Stuart B. Burocracia e Sociedade no Brasil Colonial. 1979. Editora Perspectiva, São Paulo.
VERÍSSIMO, Érico. A volta do gato preto. 1957. Editora Globo, Porto Alegre.
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