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Resenha "A origem e os fundamentos da desigualdade entre os homens"

Por:   •  10/4/2018  •  1.506 Palavras (7 Páginas)  •  444 Visualizações

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Com o agrupamento crescente dos indivíduos e o surgimento da sociedade, nasceu também o sentimento de competitividade e orgulho: os homens começaram a se importar com títulos, como o melhor pescador, o mais forte, ágil ou inteligente. Instabilidade e guerras foi o resultado dessa mudança, quando ainda não havia um líder ou regras para regular os interesses próprios de cada indivíduo. Paralelamente a isso, surgiu a agricultura, metalurgia e a convicção concretizada em relação à propriedade e, consequentemente, a divisão do trabalho. Todos abandonaram a liberdade do estado de natureza pela dependência mútua e a comodidade da civilização. Com a acumulação de capital desproporcional resultante da captação de terras, a desigualdade vai se desenvolvendo, tornando mais sensíveis as diferenças entre os homens. Nesse quadro social desastroso, repleto de egoísmo causado pela preocupação com proteção da propriedade privada, aparentemente a volta ao estado de natureza seria a única solução. No entanto, essas expectativas são logo frustradas por Rousseau: não seria possível um retorno. Ao contrário de Hobbes, para o autor esta situação deu-se após o homem sair do estado de natureza e, para se desvencilhar dessas complicações, resta à sociedade entrar em um acordo, ou seja, estabelecer um contrato.

O contrato simboliza o começo de uma evolução política. Rousseau também tenta explicar os tipos de governo que poderiam ter surgido. Ele descarta a possibilidade do despotismo ter iniciado o progresso, devido à necessidade de liberdade fruto da natureza do homem. Possivelmente, os governantes podem ter surgido de forma eletiva; se em uma comunidade apenas uma pessoa fosse considerada digna para governar, surgiria um Estado monárquico; se várias pessoas possuíssem essa condição, surgiria uma aristocracia; agora, se todas as pessoas apresentassem qualidades iguais e tivessem dispostas a governar, seria uma democracia. Somente com o desvirtuamento dessas formas de governo, através da ambição de alguns, é que os Estados autoritários e despóticos surgiram.

Rousseau, como autor do "século das luzes”, procurou realizar uma análise rigorosa da sociedade, fundamentando o seu “estado de natureza” para que fosse possível compará-lo ao atual estágio da sociedade. O conceito aplicado por ele ao termo em muito difere-se do defendido por Hobbes ou Locke, que viram no estado de natureza um homem já civilizado, junto com todos os sentimentos que só nascem com a civilização, que apenas nela fazem algum sentido. Com o “Discurso sobre a origem e os fundamentos da desigualdade entre os homens”, ele procurava analisar e apontar a origem desse fenômeno, respondendo à questão da qual comprometeu-se. Como foi colocado acima, a desigualdade era quase nula no estado de natureza, mas com os acontecimentos relacionados à mudança para o estado social e com os vários extremos que passaram a segregar os indivíduos, pobres e ricos ou poderosos e fracos, as desigualdades entre os homens surgiram.

A análise social feita por Rousseau nesta obra possui uma visão extremamente pessimista: ele aponta as diversas causas da desigualdade, além dos defeitos presentes na sociedade, mas sem sugerir soluções. Algumas reflexões feitas por ele assemelham-se ao pensamento de Montesquieu, principalmente em relação ao vínculo entre “princípio” e “natureza” do governo e na sua ideia de que as determinações essenciais dos homens resultaram do processo de socialização, não são atributos naturais. Rousseau muito defende a imagem do seu “indivíduo natural”, mostrando que este nada tem nada do seu semelhante, não se orienta conforme interesses egoístas e, embora o pensamento racional, a linguagem e a consciência moral resultem da socialização, o homem social é marcado pelo amor próprio. É importante ressaltar que a crítica do autor não incide sobre a sociedade em geral, mas sim a civil, que era composta pela ordem social mercantil-burguesa que estava se desenvolvendo em sua época. Rousseau critica os poderosos, os indivíduos que estavam no topo da desigualdade e que agravam-na cada vez mais. Enquanto Locke engrandece o individualismo e a propriedade privada, o autor afirma que estes são os fundadores da desigualdade. É interessante notar como o filósofo iluminista se diferencia de outros contratualistas que o antecederam: para ele, a passagem do estado de natureza para o social corrompeu a natureza do homem, tornando-o irreconhecível; para Hobbes ou Locke essa passagem é extremamente positiva, e a vida em sociedade é muito mais satisfatória do que o seu antigo estado natural. A visão apresentada por Rousseau no “Discurso sobre a origem e os fundamentos da desigualdade entre os homens” completa-se com sua obra “Do contrato social”, levando a crítica do presente à preposição de uma solução utópica para a sociedade. Suas reflexões antecipam ideias que seriam explanadas

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