A Margem do Corpo

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pessoa possuída por “forças demoníacas”. Na noite de Natal de 1997, Deuseli mata a filha Fernanda Vanines, então com 11 meses, afogada em uma banheira da casa onde morava com a patroa, Maria Madalena de Morais . Ela é presa em flagrante pelo assassinato da filha e a partir de então sua vida gira em torno de mitos que a apontam como uma pessoa “possuída por forças diabólicas”, principalmente devido às crises convulsivas que passou a ter, e passa por sessões de exorcismo protagonizadas por representantes da Igreja Católica de Anápolis. Até mesmo sua advogada de defesa assumiu como tese a hipótese de “possessão demoníaca”, enquanto a psiquiatra Valéria Ávila, a promotora Márcia de Almeida e outros profissionais de saúde e da área jurídica defendiam que Deuseli fosse tratada como paciente de um quadro específico de saúde mental. É nesse cenário de conflitos ideológicos e políticos que Deuseli é julgada e condenada. Detida na Cadeia Pública de Goiás, Deuseli descobre que está grávida pela segunda vez. Devido ao quadro de saúde em que se encontrava e à situação de encarceramento, Deuseli é encaminhada pela advogada de defesa e representantes religiosos à Casa da Gestante, mantida pelo Movimento Pró-Vida – por sua vez, criado pelo bispo Emérito de Anápolis, Dom Emanuel Pestana Filho. Deuseli é considerada incapaz de cuidar do segundo filho e a criança é entregue para a adoção. Ao descobrir a terceira gravidez, Deuseli já se encontrava em um quadro agravado de epilepsia e fora levada ao Hospital Dom Bosco. Depois de duas semanas internada na Unidade de Tratamento Intensivo (UTI), Deuseli morre em função de uma crise respiratória que havia culminado em uma parada cardíaca. Após a sua morte, representantes religiosos pressionam a equipe médica do hospital para que o feto, de cinco meses, seja salvo. No entanto, o feto também vai a óbito e os médicos são questionados pelos religiosos por não terem conseguido salvá-lo a fim de ser batizado antes de morrer.