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Resenha rediscutindo a mestiçagem no Brasil

Por:   •  26/9/2017  •  1.884 Palavras (8 Páginas)  •  749 Visualizações

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discutir o processo de mestiçagem, Munanga aponta que para um indivíduo ser branco é preciso ser totalmente, mas para ser negro, basta ser apenas um pouco. Tal relação ilustra como foi pensada a relação de mestiçagem no Brasil. Sobre estes pilares hipodescendência, filiação do branco com grupos inferiorizados como indígena ou negro, fora vista como uma transgressão as leis naturais. Sobre este princípio o branco perderia sua superioridade natural, ausente nos outros.

Apesar de o Brasil ter desenvolvido características próprias no que se refere ao pensamento de mestiçagem nas primeiras décadas do século passado, os intelectuais brasileiros do século XIX foram fortemente influenciados pelos intelectuais europeus. Os ditos pensadores das luzes a exemplo de Volterie, que afirmava que a mistura das raças distintas era uma anomalia, ao passo que para ele haviam diferenças internas e externas entre ambos. Aqui as diferenças, viriam se inserir entre as justificativas que legitimaria a escravidão em diversas partes do mundo. Se anteriormente a igreja já havia buscado uma origem distinta do mito de adão e Eva para o negro, a ciência buscaria desenvolver teorias no mesmo sentido.

Nasciam as teorias das raças, tomando as diferenças da fenologia humana, ou seja, cor da pele, estrutura corporal, queixo, lábios, nariz, crânio como elementos científicos para interiorização de todo e qualquer indivíduo não branco. As afirmações de Gorbieau, davam conta que uma raça torna-se degenerada a medida que perde sua pureza. Em sua lógica, o branco bonito e inteligente, ao misturasse tornaria feio e inteligente, ou bonito e burro.

A maioria dos intelectuais brasileiros no pós- abolição, acreditavam na inferioridade do índio e principalmente do negro em relação ao branco. Como afirmou Silvio Romero, a mestiçagem é uma consequência da escravidão. Evidenciava- se ai um projeto o projeto de nação à medida que se acreditava que a dizimação dos índios ocorrida durante séculos e o processo de migração europeia transformaria o Brasil em uma nação branca em dois séculos.

Nina Rodrigues, uma das vozes mais eloquentes neste cenário, foi além ao ponderar um código penal distinto entre brancos e negros. Para tal o negro e o indígena causavam desequilíbrio e perturbações ao branco, tendo estes não haviam alcançado uma consciência plena, não podendo exercer o livre arbítrio.

Tais preposições ganham contornos interessantes quando associada ao livro de Sidney Chalhoub, Visões da Liberdade, que remonta as diversas experiências e significados da liberdade para aqueles que foram escravizados no Rio de Janeiro. Sobre estes passos o autor revela que a cidadania era um se não o principal reconhecimento do indivíduo em quanto livre. A possibilidade de votar e escolher seu representante, no entanto não ocorreu no pós- abolição em um estado que inventou a igualdade baseada nas diferenças e inferioridades de poucos sobre muitos.

Apesar dos argumentos defendidos por Nina Rodrigues terem ou não fundamentos para aquela sociedade, Chalhoub aponta que o critério utilizado para se exerce o direito de votar, era saber ler e escrever. E em uma sociedade que a educação só passou oferecida e reconhecida como deliberação do estado décadas depois, apenas uma ínfima parte da população não branca era alfabetiza. Logo, não é de se estranhar que Nina Rodrigues busca-se estabelecer uma espécie de Apartaidh no Brasil conclui Munanga.

É possível que o fato de não acreditar na teoria do embranquecimento comum aos intelectuais de sua época, reflita no pensamento de Nina Rodrigues uma preocupação com o futuro do branco, buscando uma legislação específica para preserva ló. Em sua concepção o futuro do país será mestiço, que se dividem em três diferentes níveis de evolução: superior, intermediário e inferior. Sendo este último fruto de negro e índio, e o primeiro de cor mais clara que o segundo.

Tais pensamentos refletem como a primazia de uma elite branca desenvolveu ao longo dos séculos sua concepção sobre o indígena e o negro. Classificações que visam enquadra- lós como inferiores. Segundo Erick Hobsbwn, as tradições são inventadas por elites nacionais, para justificar a existência e a importância de suas nações. De forma que as chamadas tradições inventadas são representações simbólicas que incorporam valores e comportamentos. Logo, as tradições inventadas tiveram como imposição as práticas e repetições sem alterações ao longo do tempo.

As teorias racistas não apenas estabeleceram um impacto no campo das ciências no passado, mas principalmente no meio social, chegando até nossos dias através do racismo. A tradição que remete as pessoas que tom da pele mais clara como bonita do que a mais escura, mostra também que estas relações poder estão implícitas na dicotomia dos tons de pele. A cultura popular brasileira está repleta de influências indígenas e africanas, seja na música, culinária, língua etc, no entanto sua expressão ainda é mínima no campo político, intelectual e entre outras esferas de poder.

Diferente do modelo aplicado nos EUA, onde estabeleceu- se um sistema segregação com respaldo do estado, baseado na divisão entre brancos e negros. No Brasil adotou- se o processo de embranquecimento da população, mediado por migrações europeias e orientais. Durante as primeiras décadas do século XX, buscou- se ao longo das gerações seguintes eliminar os traços negros da população através da miscigenação. Neste processo para além de erradicar o biótipo negro, também buscou- se eliminar as identidades negras, desenvolvendo um sentimento de aculturação da cultura negra. Tal perspectiva dificultava a formação das identidades e a tomada de consciência do indivíduo com suas raízes.

A solução adotada pela elite branca, visava eliminar as lembranças da escravidão, as gerações seguintes através do processo de aculturação das identidades negras, buscaria ser brancas. As altas taxas de mortalidade registrada sobre os negros, bem maior do que a dos brancos devido entre outros fatos ao acesso de serviços médicos e qualidade de vida foram alguns dos pilares

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