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Da Aproximação Etnológica do Baile Black Soul na Praça à Etnomusicologia Como uma Lente

Por:   •  6/5/2018  •  3.042 Palavras (13 Páginas)  •  331 Visualizações

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o baile propriamente dito. Nela a mobilização do publico decorre tanto em função da intencionalidade de dançar, quanto pelo ato de identificação e reconhecimento do Dj, responsável por garantir um bom baile. Da conversa com os participantes/frequentadores aprendemos que nesse movimento da praça, são atualmente quatro as equipes de som do movimento soul de BH promotoras desse baile, sendo que em cada semana uma equipe de som fica responsável pelo baile. A animação do Baile é ditada pelo DJ em sua performance. A observação do campo nos possibilita depreender que a animação do baile depende da equipe de som por ele responsável.

Por volta das 17h 00min a música começa. Uns poucos dançarinos, mais velhos e vestidos num estilo mais “Soul” iniciam seus movimentos, vão chegando pessoas. (...) junto aos adultos com presença majoritária, alguns jovens passam a chegar.(...) facilmente distinguíveis tanto pelas roupas quanto pelo forma que dançam.

Distintos eram os objetos que possibilitavam diferenciar o performer, os dançarinos mais integrados ao movimento Soul de BH e o restante do público, que quando apreendido por uma abordagem antropológica e sociológica possibilitou-nos destacar o elemento intergeracional, não apenas pelas indumentárias e diferença física entre os jovens e o mais velhos, mas também em relação ao jeito de dançar, diferente em função da experiência com o estilo musical em questão.

No entanto esse último aspecto “forma de dançar” quando considerado pelas lentes da etnomusicologia nos indaga sobre relação performática do Dj, a intenção do Baile Black Soul como elemento que mobiliza de forma diferente os mais velhos e mais novos e, ainda a forma como a performance mobiliza os mais jovens. Nesse baile vale destacar que não tocou nenhuma música nacional, mesmo que a plasticidade do Soul tenha influenciou Gilberto Gil e Jorge Bem, que são negados em função de sua tropicalidade ou de outros músicos brasileiros como Tim Maia e Sandra Sá, que embora aceitos no universo dos souls brother, não participam do espírito desse baile

Por outro lado, esse aspecto ganha novos contornos, por meio de analise teórica mais atualizada da etnomusicologia orientada se consideremos as dimensões e perspectivas globais, relacionando-as à preocupações locais .

(...) passam transeuntes saídos do Shopping, são jovens e adolescentes, esses passam, observam por alguns minutos, alguns ensaiam alguns passos, enquanto outros a olham com curiosidade e seguem. A praça está mais alegre. Agora se encontram na praça aproximadamente 50 pessoas. Dessas algumas observam e outras dançam.

Há crianças, adolescentes jovens e adultos e velhos no baile Black Soul, esses ao que parece pelas vestimentas, estilo de roupa e mesmo qualidade revelam a diversidade dos participantes do baile. Os espaços de interação, conversas motivadas por diferentes aspectos da vida e trato de questões cotidianas são assuntos que circundam os bailes. Olhares, encontros, alegria sorrisos fazem parte da sociabilidade desse contexto. No entanto estão geralmente de frente para o baile que acontece observando e em muitos casos exclamando sobre o que um o outro fez e faz ao dançar. Admirando.

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Vendedores de artesanato que geralmente estão no espaço também ensaiam alguns movimentos e interagem como esses. (...) Chega uma caixa de isopor onde está sendo vendida cerveja, refrigerante e água.

Nesse sentido destacamos a dimensão comercial que coexiste com esse baile. De certo que ambulantes vendedores “artesãos” comummente visto nesse espaço permanecem durante o evento com suas mercadorias. Cerveja, refrigerante que são comercializados durante os bailes. Durante sua discotecagem, o Dj solicitam contribuição financeira com forma de custear o carreto da aparelhagem de som o Baile Soul. Revela também uma forma cooperativa de custear o baile, que se consolida independentemente da vontade pública.

Considero que esses aspectos que demarcam as potencialidades e limites de ser e fazer-se na cultura - integrado ao sistema capitalista –, mesmo considerando que quando lazer arte-cultura, articulado por meio da ludicidade, tencionam, ao mesmo tempo, as práticas políticas e o controle externo ás liberdades de uso espaço.

A vendedora está caracterizada com roupas dos anos 70, junto a ela uma senhora de mais de 60 anos dançando alegremente e uma criança circundando correndo e brincado.

Há adultos e crianças dançando juntos. O dançar das crianças tateia o ritmo do corpo dos adultos. “Imitação” é de certo é insuficiente para explicar o que se processa ali, na medida em que junho ao movimento igual ao dos adultos que tentam repetir desaparece num outro movimento que diferente, repetido e alegre muitas vezes seguidos de concentração e sorrisos expressos na face das crianças. Do ponto de vista da etnomusicologia, apreendo que essa relação, mobilizada pelo contexto, performance do DJ, atuação de adulto será mobilizada pelo gosto já consolidado pelo gênero musical e pela intencionalidade de sua ida ao Baile. Já no caso das crianças assim nos mais velhos e adultos, a animação contagia.

No contexto desse baile é importante destacar que mesmo em se tratando de uma praça central, e de entrecruzamento para diferentes pontos da cidade as crianças que ali estão são cuidadas pelos responsáveis. Há nesse espaço tempo a predominância de adultos jovens, mas crianças que permanecem nesse baile, vigiadas observadas e cuidadas. Há ali uma rede de solidariedade no qual a co-responsabilidade se faz. Com relação a sua dança, ainda me indago: Será que estão procurando/inventando/construindo o seu jeito para dançar o Soul?

Os senhores e senhoras trajados como nos anos 70 executam seus movimentos de dança admiráveis, assim como raros são os jovens que ousam dançar de frente com esses. Nas vezes em que vi esse encontro, tipo de “duelo de pés e dos corpos dançantes do soul” a agilidade, movimento, competência a qualidade dos movimentos corporais em relação à música apresentada por esses senhores desafiava a ideia de limites da idade e em relação aos mais jovens, ficava evidente.

Já no “duelo”, que também é geracional, os mais velhos desenvolvem num primeiro momento passes de danças mais simplificados, mas quando diante dos jovens que dão sinais de comparação “enfrentamento” a complexidade e velocidade dos movimento é elevada. Os jovens quando não dão mais conta de acompanhar, trocam o seu lugar de dançar, o reconhecimento da admiração a esses dançarinos mais velhos do Soul é evidenciado pelo reconhecimento dos jovens tanto por esses quanto por aqueles que ainda não dançam em desafio a estes, os circundam

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