Essays.club - TCC, Modelos de monografias, Trabalhos de universidades, Ensaios, Bibliografias
Pesquisar

AS TRÊS RACIONALIDADES: Tecnológica, ética e política.

Por:   •  5/5/2018  •  4.916 Palavras (20 Páginas)  •  316 Visualizações

Página 1 de 20

...

O essencial dessa conferência foi apresentado o que vários autores denominam “dois projetos de mundo” que, em substância, são duas vias de modernização radicalmente diferentes: o modelo de desenvolvimento atual e o modelo desenvolvimento sustentável.

A primeira via, que a seguir se discute, afinca-se na lógica da racionalidade tecnológica que consiste na tese de que o crescimento económico é ilimitado, propugnado por Adam Smith. A segunda via, que se explica mais adiante, é denominada desenvolvimento sustentável, resultado de uma sequência de reflexões realizadas num período aproximado de três décadas.

Entretanto, o relatório conhecido como os limites do crescimento (Meadows, 1972), publicado em 1986, tendo como suporte de base o livro do referido autor, demonstrava a irracionalidade da tese da racionalidade técnica. A tese dos limites do crescimento, resumida em sua dimensão pragmática, advoga que a humanidade deve levar a cabo políticas de crescimento da população, redução da produção e abrandamento no uso de recursos, a fim de evitar o colapso ambiental, porque não é possível um crescimento ilimitado com recursos limitados ou finitos.

Seguindo a lógica dos limites do crescimento, a humanidade está consumindo rapidamente os recursos finitos da terra. As reservas de petróleo, gás natural e outras fontes de energia há-de reduzir consideravelmente, rapidamente ou não, em função das políticas que os países ricos adotem e da velocidade de industrialização dos países menos desenvolvidos.

Toledo (2000), constatou que a medida que o tempo passa e vai chegando um número maior e mais preciso de relatórios à mesa dos analistas, as ameaças, anomalias e acidentes da denominada “sociedade de risco”, perpassam as fronteiras regionais e nacionais, até chegar a adquirir uma dimensão global. Nas duas últimas décadas do século XX, passou-se de catástrofes pontuais de caráter local ou acidentes regionais sem consequências expansivas, mas com consequências mais além de sua área de origem como, por exemplo, o acidente de Chernobyl, o derrame de petróleo em Alaska, o escape de gases tóxicos em Bhopal, Índia, ou (acidentes locais ou regionais do novo milénio) o derrame de petróleo em Galícia, Espanha, o recente acidente nuclear de Fukushima, resultado de uma série de falhas de equipamentos da central nuclear, a eventos de dimensão global.

No novo milénio, aos fenómenos globais já conhecidos no século passado, tais como o excesso de dióxido de carbono e outros gases na atmosfera ou a redução da camada de ozono atmosférico por efeito dos clorofluorcarbonos e outros contaminantes industriais, que causam o efeito estufa, têm vindo agregar novos processos de dimensão planetária descobertos pela investigação científica. Dentre estes, deve-se citar os enormes volumes de enxofre que a produção humana deposita cada ano na atmosfera, a grande percentagem de energia solar captada pelas plantas que é desviada para fins humanos e, ainda, os volumes de água doce que são extraídos do ciclo hidrológico para as atividades humanas. Na última década do século passado, acumulou-se evidências suficientes que demonstram a existência de fenómenos não registados na década de 80, tais como o aumento em número e intensidade dos ciclones, a produção de gases contaminantes da atmosfera derivados das queimadas agrícolas, pecuárias e florestais, e o registo de 1997 e 1998, segundo os relatórios da World Meteorological Organization, como os anos mais quentes da história recente, situação que, entre várias outras coisas, deu lugar à aparição de incêndios florestais de proporções alarmantes ou devastadores em várias partes do mundo. Daí que as projeções que são feitas para o futuro, se não se tomarem medidas para reverter as tendências atuais, revelam situações preocupantes, de alto risco a médio, não a longo prazo.

Uma nova relação entre sociedade e natureza é necessária, tendo em linha de conta que o produto mais relevante da sociedade industrial, tornada pós-moderna, é o reposicionamento da natureza em relação à sociedade e da sociedade em relação à natureza. Os três séculos de industrialização, que nos precederam, foram suficientes para subsumir os processos naturais em processos sociais e vice-versa, e ter desencadeado um conflito de dimensões globais entre a natureza e a sociedade, cuja resolução envolve uma reformulação de todo o modelo de civilização, com ênfase no aspeto ou domínio tecnológico.

Hoje em dia, segundo Beck (1998, p. 89),

“a natureza já não pode ser pensada sem a sociedade e a sociedade já não pode ser pensada sem a natureza. O efeito secundário inadvertido da socialização da natureza é a socialização das destruições e ameaças da natureza, sua transformação em contradições e conflitos económicos globais para os seres humanos, com novos desafios às instituições sociais e políticas da sociedade mundial super-industrializada”.

A natureza é vista hoje como uma força de resistência perante a civilização industrial encabeçada pela racionalidade tecnológica.

Segundo Michel Foucault, o poder atual só dialoga com um pequeno grupo de interlocutores privilegiados (políticos, empresários, intelectuais, profissionais, militares, lideres religiosos, etc.). Os outros atores sociais, isto é, a grande maioria é silenciada, cujas palavras ou discursos não são tidos em consideração. A última vítima desta ideologia silenciadora foi a natureza, considerada na melhor das hipóteses como uma variável dos processos económicos. Este papel relegado a natureza levou Manes (1995, p. 45) a afirmar que “a natureza é silenciosa em nossa cultura e em geral nas sociedades letradas, porque a categoria de sujeito falante foi zelosamente reservada como uma prerrogativa exclusivamente humana”. Afinal de contas, era mais fácil para o pensamento racional espoliar e explorar a uma natureza muda do que a um ente falante capaz de se queixar e protestar.

Paradoxalmente, na atualidade, a natureza amordaçada e aparentemente cativa é a única força capaz de deter a expansão do modelo industrial, o único obstáculo que pode impedir a consolidação da globalização perversa acelerada pela modernidade dominante e cuja consequência final levará à destruição do planeta e da espécie humana. Este cenário só é provável se de fato continuarmos com o mesmo ritmo e mantermos a mesma ideologia dominante baseada no pensamento racional de exploração dos recursos, tomando em consideração os instintos suicidas da civilização industrial, representados hoje em dia pelos interesses

...

Baixar como  txt (33.6 Kb)   pdf (84.2 Kb)   docx (27.6 Kb)  
Continuar por mais 19 páginas »
Disponível apenas no Essays.club