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A Teoria Social de Marx e sua Proposta Metodológica

Por:   •  21/3/2018  •  7.164 Palavras (29 Páginas)  •  414 Visualizações

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Com estas características não só o legado marxiano, mas principalmente ele, é marcado como uma metanarrativa moderna que na busca de compreender a totalidade social estaria fadado ao fracasso, pois a realidade para os pós-modernos é fragmentada, efêmera, e como tal deve ser tratada. No contraponto a tal pensamento tentaremos demonstrar a validade e atualidade do pensamento de Marx e de autores marxistas que se alinham à perspectiva ontológica marxiana, desenvolvida por Lukács.

I A realidade contemporânea e a atualidade da Teoria Social de Marx

Desde os anos 70 ouvimos a palavra crise. É crise dos paradigmas das ciências sociais; crise da universidade; crise do Estado de Bem Estar, e outras mais. Mas, o que permite que a “crise” se torne “um processo” que a tudo e todos lhe submete? Ora, partindo do senso comum que diz “alguém tem que pagar os prejuízos”, surgem as numerosas respostas que são expressas pelas máximas ideológicas produzidas pela sociedade capitalistas as quais, ao invés de clarear a problemática, escondem o verdadeiro “sujeito causador” da crise, ele sim em crise - o Capital.

Entendemos como Mészáros (2002, p. 79) que “a crise que experimentamos hoje é fundamentalmente uma crise estrutural”. Não estamos mais à frente de uma crise cíclica do capitalismo mais ou menos extensa, mas em uma profunda crise do próprio sistema do capital. Como tal, essa crise afeta — pela primeira vez em toda a história — o conjunto da humanidade e exige dela uma fundamental tarefa, qual seja, a radical ruptura com o controle do capital sobre o processo de reprodução social.

Aponta nosso autor que a associação de capital e crise é o modo próprio do capital se desenvolver, “crises de intensidade e duração variadas são o modo natural de existência do capital [...] a última coisa que o capital poderia desejar seria uma superação permanente de todas as crises” (2002, p. 795).

No caso da crise estrutural da atualidade sua novidade é que ela coloca em questão “a própria existência do complexo global envolvido, postulando sua transcendência e sua substituição por algum complexo alternativo” (MÉSZÁROS, 2002, p. 797), ou seja, não é uma crise que aceite soluções parciais, que permita o deslocamento das contradições, pois não está relacionada aos limites imediatos, mas sim aos limites absolutos – últimos ou estruturais – do sistema do capital[1].

Netto (2012, p. 217) aponta que desde o ultimo terço do século XX já se observa o “exaurimento das possibilidades civilizatórias da ordem do capital.” Assim como Mészáros, assinala que em “todos os níveis da vida social, a ordem tardia do capital não tem mais condições de propiciar quaisquer alternativas progressistas para a massa dos trabalhadores e para a humanidade.” Para nosso autor, alguns fenômenos demonstram o citado exaurimento.

Consequentemente, é largo o leque de fenômenos contemporâneos que indicam o exaurimento das possibilidades civilizatórias da ordem tardia do capital – ou, para dizê-lo de outro modo, para atestar que esta ordem só tem a oferecer, contemporaneamente, soluções barbarizantes para a vida social. Poder-se-iam arrolar vários desses fenômenos, da financeirização especulativa e parasitária do tardo-capitalismo e sua economia do desperdício e da obsolescência programada, passando pelas tentativas de centralização monopolista da biodiversidade e pelos crimes ambientais e alcançando a esfera da cultura – aqui, jamais a decadência ideológica analisada por Lukács atingiu tal grau de profundidade e a manipulação das consciências pela mídia atingiu tal magnitude (com todas as suas consequências no plano político imediato) (NETTO, 2012, p.218).

Diante de tais processos e suas ameaças é inadiável recuperar “As Bases Ontológicas do Pensamento e da Atividade do Homem” expressas na Teoria Social de Marx, segundo Lukács, e de alguns autores da perspectiva da ontologia do ser social. Compreendemos que é a partir do conhecimento destas bases que podemos entender e agir no mundo de forma consciente.

Assim, justificamos que o uso tal e qual do título do trabalho de Lukács, escrito em 1978, em nosso trabalho demonstra corretamente o interesse e objetivo do estudo proposto.

No caso do próprio Marx seu objetivo foi compreender “a gênese, a consolidação, o desenvolvimento e as condições de crise da sociedade burguesa, fundada no modo de produção capitalista (NETTO, 2009, p. 672)”, e o porquê deste árduo trabalho foi sua disposição em transformar a realidade da sociedade capitalista que se colocava de forma contraditória diante de seus olhos, ou seja, uma sociedade que produzia uma imensa quantidade de riqueza e ao mesmo tempo de crescente miséria. Segundo Marx (1978, p. 362)

Assim como a produção fundada no capital cria de um lado a indústria universal [...] por outro cria um sistema de exploração geral das propriedades naturais e humanas, um sistema de utilidade geral [...] O capital cria assim a sociedade burguesa e a apropriação universal tanto da natureza quanto da própria relação social pelos membros da sociedade. Daí a grande influência civilizatória do capital; sua produção de um estágio social [sociedade] em um nível tal em comparação aos anteriores, que estes aparecem como meros desenvolvimentos locais da humanidade ou idolatria da natureza. Pela primeira vez, a natureza se converte puramente em objeto para a humanidade, em pura matéria de utilidade; cessa de ser conhecida como um poder para si mesma; e a descoberta teórica de suas leis autônomas aparece meramente como um ardil para subjugá-la às necessidades humanas, seja como objeto de consumo ou como meio de produção. O capital, conforme esta sua tendência, tende para além das barreiras e preconceitos nacionais, assim como sobre a divinização da natureza, liquida a satisfação tradicional, encerrada dentro de determinados limites e satisfeita consigo mesma, das necessidades existentes e a reprodução do velho modo de vida. Age destrutivamente contra tudo isto, é constantemente revolucionário, rompendo todas as barreiras que impeçam o desenvolvimento das forças produtivas, a expansão das necessidades, a diversificação do desenvolvimento da produção e a exploração e o intercâmbio das forças naturais e espirituais.

O que nos incomoda hoje é que os fenômenos que fizeram Marx construir sua teoria sobre a sociedade burguesa se avolumam, se atualizam, e se manifestam de formas mais variadas e complexas devido à necessidade do capital de superar sua crise, ou seja, os limites que são postos à sua busca constante de reprodução,

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