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A Apresentação das Pedras Preciosas em “O Anel de Jade” e “Pérola Prodigiosa”

Por:   •  17/12/2018  •  4.920 Palavras (20 Páginas)  •  383 Visualizações

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1.1 Jade

O jade é um tipo de pedra ornamental, diáfana e frágil. Normalmente é de cor verde-escura, mas também pode ter outras cores. Esta pedra fascinante é trazida para a Europa a partir da China. O jade, desde muito cedo, tornou popular por causa da sua beleza e preciosidade, como destaca Chevalier:

Pela sua beleza, o jade é o emblema da perfeição. E das cinco virtudes transcendentais: benevolência, transparência, sonoridade, imutabilidade, pureza; [...] da maioria das qualidades morais: bondade, prudência, justiça, urbanidade, harmonia, sinceridade, boa fé, assim como do céu, da terra, da virtude e do caminho do virtude. Por isso, diz Ségalen, o elogio do jade é o elogio da própria virtude. (Chevalier, 2004, 380)

A personagem principal do conto “O Anel de Jade” era bonita, simpática, com a pele diáfana. O narrador compara-a com o jade, elogiando as suas virtudes. Ela era perfeita. A sua inocência e pureza revelavam a sua aproximação à Natureza. A história dela começou na Natureza, e quando ela morreu, voltou ao mundo natural.

Desde os mais tenros anos que o jade exercia uma fascinação aos seus olhos. Ficava-se boquiaberta a contemplar aquele verde brilhante, tão frio e tão liso. A Natureza fizera a frágil, de pele diáfana, olhos em amêndoa, escuros e lustrosos sempre, cabelos negros e bem fartos que ela usava em tranças, a moda da sua China.(Conceição, 1956, 97)

No entanto, a protagonista não era tão cobiçada como o jade. A sua vida era triste e pobre. Quando ela era pequenina ainda, foi levada para “acompanhar” uma rapariguita. Esta rapariguita era “mimada e impertinente”, que maltratava a personagem principal. A senhora rica estava a usar um anel de jade circundado de diamantes. A menina estava fascinada pelo anel de jade. Muitos anos depois, ela encontrou um pintor de classe alta que a ajudou a escapar da vida que levava como criada da rapariguita. Pensava que era uma relação de amor e que enfim eles iriam casar. A vida parecia feliz e perfeita como uma ópera ou um jogo artístico, mas depois foi destruída por uma notícia sobre o casamento entre o pintor e aquela rapariguita. A menina esperava que a notícia fosse um “equívoco” (Conceição, 1956, 99). Porém, tudo foi um engano, e a sua vida perfeita naquela casa foi um grande “equívoco”. Quando o pintou voltou, a menina “compôs um sorriso que não conseguiu no entanto desmentir o seu estado de espírito”(Conceição, 1956, 99). A palavra “desmentir” implica mais uma vez o equívoco da dua vida. O último engano é também relacionado com o anel de jade, isso é a segunda referência do anel de jade. Em vez da explicação da notícia, o senhor ofereceu-lhe um anel de jade como prenda. A personagem principal Enganou isso como o pedido de casamento, e ficou contente a princípio. Porém, comprendeu que o anel só era uma compensação e fugiu. Até o fim da vida, não ela conseguiu o amor.

Na história, as referências do anel de jade ambas são relacionadas com a classe alta e rica-- “A senhora rica” e o pintor com “mãos finas e aristocráticas”. Na China antiga, o jade era considerado o mineral mais nobre. A maioria dos tributos para o imperador era de jade, como assinala Chavelier:

Por isso desde a mais alta antiguidade o selo imperial era um jade, e a transmissão do selo era praticamente equivalentemente à do Mandato. O jade é, portanto, o símbolo da função real [...] e pode até dizer-se que o jade faz o Rei. [...] E diz-se que o jade se forma na terra sob o efeito do raio, isto é, da actividade celeste. Esta fecundação cósmica é também a imagem da formação do Embrião do Imortal, para a alquimia interna. (Chevalier, 2004, 380)

O jade é um símbolo imperial e celeste. Para a personagem principal, quando ela era pequena, a rapariguita e a sua família era o céu. O céu deu-lhe todas as suas obrigações e nem podia a menina desobedecer. Porque se ela deixasse de aguentar o maltratamento da rapariquita, ela iria ser demitida e pederia o trabalho. Depois de encontrar o pintor, o pintor passou a ser o “Deus” (Conceição, 1956, 98) dela. Apesar de que o senhor não tivesse tanto tempo com ela e a prendesse numa pequena moradia, a menina parecia feliz todos os dias e nunca pensava mal. O anel de jade era como o emblema de poder, que prendia a menina e a fazia obedecer.

Refira-se que o jade desempenha também um importante papel nas práticas funerárias. Era comum colocar uma pedra de jade na boca, rosto ou peito dos mortos como um amuleto. Acreditava-se que o jade podia preservar o corpo da decomposição. É provável que o aparecimento do anel de jade no início seja já um indício da morte da personagem principal. Até no fim, a personagem principal recebeu a imposição de uma vontade que não a sua no momento da morte.

À beira da sepultura, afastou os empregados funerários com uma espórtula generosa e, descobrindo o cadáver, enfiou-lhe no dedo um rico anel de jade oval circundado de brilhantes. (Conceição, 1956, 99)

1.2 Pérola

A pérola é um material orgânico gerado normalmente por alguns moluscos, ostras e mexilhões, quando corpos estranhos invadem os seus organismos. As pérolas perfeitas são muito valiosas, mas também são raras. Como são geradas no interior da concha, as pérolas tornam-se símbolo do conhecimento velado e são muito mencionadas na mística, na religião, na arte e na litertura. Os escritos cristãos antigos retratam Cristo como “a grande pérola que Maria carrega”. Lê-se no texto de Gonzaga Gomes:

Nisto, um deles reparou que na cabeça do peixe havia uma protuberância estranha e bastante resistente. Abriram o tolontro e, qual não foi o seu espanto, ao encontrarem um objecto de corpo duro e nacarado, do tamanho de um ovo de galinha e duma beleza e brilho incomparáveis! Dos seus semblantes irradiou, então, uma expressão de intensa alegria, porque sabiam estar ali naquele objecto um valioso tesouro. [...] logo no dia seguinte, para Cantão, onde conseguiram vender a maravilhosa pérola por quantiosa soma. (Gomes,1996, 08-09)

O conto tem características próprias do género fantástico, que usa as referências sobrenaturais e milagres para aumentar narrativa, gerando emoções de tensão e medo. O narrador usa topónimos e outras referências factuais para aumentar a verosimilhança do conto. As referências sagradas, mitológicas e monstruosas ajudam a construir o aspecto excepcional, prodigioso e escondido, como uma pérola não só simbólica mas também narrativa. A história é construída como uma concha que coloca o binímio entre dentro e fora e encerra

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