1808 - O CENÁRIO POLÍTICO, ECONÔMICO E MILITAR NA EUROPA
Por: kamys17 • 14/3/2018 • 5.445 Palavras (22 Páginas) • 552 Visualizações
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- ASCENÇÃO DE NAPOLEÃO E O REINÍCIO DAS GUERRAS
Conforme afirma SLEMIAN e PIMENTA:
Praticamente toda a Europa e o mundo mediterrâneo estavam em guerra e a invasão francesa na Península Ibérica, que forçava a mudança da sede portuguesa, era apenas um dos muitos acontecimentos incríveis daquele ano que atingiu um número enorme de pessoas.[1]
Era um período decisivo e glorioso para Napoleão, o jovem tenente que, vertiginosamente, por suas vitórias, perspicaz postura militar e política, tornou-se o maior dos cabos de guerra, visando assim um golpe de estado e o estabelecimento do Império debaixo “das botas de seus soldados”, gerando a idéia de revolução, que aparentemente ele destruía com seu poder, novamente absoluto. Mesmo que a sua história tenha acabado com uma derrota, o mito de Napoleão - O Grande, vive até os dias atuais e durante o período de poder de D. Maria I, teve um peso enorme. Ele foi o fantasma, o vampiro econômico e o libertador Imperial, quando forçou a vinda da família real portuguesa para o Brasil.
Em 9 de novembro de 1799, mais conhecido como o 18 Brumário do ano VII, do calendário revolucionário Francês, iniciava-se a ditadura napoleônica na França. Napoleão usou de sua ação no Egito e de sua vitória sobre os exércitos ítalo-austríacos para formular sua imagem de herói nacional francês. Com o golpe, o diretório foi derrubado, o consulado foi criado e se estabeleceu um novo regime na França. O golpe foi acolhido com entusiasmo pela burguesia.
Com seu poder absoluto sobre a França e sua sede de conquista da Europa, Napoleão estava indo com toda força para todos os lados. Precisava dominar ou domar os outros poderes europeus. Depois que Bonaparte foi elevado à condição de “primeiro cônsul”, a paz reinou por um breve momento.
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“Em 1801, uma série de tratados políticos e comerciais assinados entre a frança e países europeus conseguiram estabelecer um cenário de relativa tranquilidade, uma paz geral que há tempos não ocorria, até que, em 13 de maio de 1803, tendo por pretexto ameaças francesas sobre a ilha de malta, no mediterrâneo, Grã-Bretanha e França romperam relações. Era o reinício da guerra.”[2]
E com o reinício da guerra, mais a frente, os grupos seriam divididos e ficavam assim definidos os dois blocos de alianças de uma guerra.
Por essa época a Europa encontrava-se em um cenário de instabilidade política, contando ainda com algumas monarquias, mas em sua maioria dominada por regimes republicanos.
As economias eram ainda fortemente agrícolas, com focos de industrialização concentrados na Inglaterra; o trabalho assalariado dominava, e a servidão, embora fosse ainda largamente empregada, já se encontrava em declínio. [...] As maiores concentrações populacionais estavam, contudo, nos principais centros urbanos.[3]
As ações de Napoleão atingiram grandes distâncias:
Embora o ciclo de guerras reaberto em 1803 possa ser caracterizado como uma espécie de “guerra mundial”, na medida que, a partir das definições européias, também partes da Africa, Ásia e América, foram de muitas maneiras envolvidas nos conflitos.[4]
Nessa afirmação, interessa-nos particularmente a série de episódios que culminou com a vinda da corte portuguesa para o Brasil.
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- OS BLOQUEIOS COMERCIAIS
Em toda guerra existem implicações econômicas de escalas internacionais. O jogo político de interesses exige que a batalha seja travada em outros campos além dos militares. E a estratégia de Bonaparte nesse contexto não foi diferente. Buscando enfraquecer a Grã-Bretanha e minar sua base econômica, Napoleão decreta, em 21 de novembro de 1806, o impedimento ao acesso aos portos dos países dominados pelo Império Francês a navios da Inglaterra e Irlanda.
Os bloqueios comerciais eram uma forma muito eficaz de, em meio a uma competição ao mesmo tempo miliar, política e econômica, enfraquecer e derrotar um rival. A competição era acirrada desde há muito tempo, quando a economia européia começara a se expandir e conquistar mercados fornecedores e consumidores em outros continentes via a montagem de impérios coloniais, e quando as metrópoles tentavam garantir os monopólios. O industrialismo inglês e a crescente derrocada dos monopólios conferiam a essa competição novas cores, tornando-a mais complexa e, em muitos sentidos, também mais intensa; matinha porém a importância da guerra comercial.[5]
Diante do bloqueio continental, a Grã-Bretanha reagiu e:
Para tentar pressionar os países europeus a não aderirem o bloqueio, estendeu a todos os portos europeus o fechamento ao comércio francês, salvo as embarcações que recebessem, expressamente, um certificado de autorização britânica.[6]
Obviamente a guerra envolveu todos os países que mantinham alguma relação comercial com qualquer das duas maiores potências européias. E mesmo que não estivessem diretamente envolvidas no conflito, em algum momento seriam obrigadas a tomar parte de um dos dois lados, como ocorreu com Portugal. Para que o Bloqueio Continental tivesse total eficácia, a França dependia de que todos os países da Europa aderissem à idéia, e para isso era necessária a adesão de todos os portos localizados nos extremos do Continente. Os portos dos impérios russo, austríaco e português eram os quais Napoleão precisava para seu êxito total no decreto.
Portugal era economicamente dependente da Inglaterra e não podia aderir ao bloqueio. Em resposta Napoleão envia suas tropas, comandadas por Junot, a invadirem o território português. Em 29 de novembro de 1807, sob ameaça das tropas napoleônicas, a corte portuguesa embarca em direção ao Brasil.
- A ESPANHA AMIGA E A ESPANHA INIMIGA
A Espanha, por diversos motivos, durante quase todo século XVIII era um Estado que pendia à alianças com a França. Os motivos eram muitos, mas podemos citar, por exemplo, que na própria realeza espanhola houve a dinastia dos Bourbons que era de origem francesa.
Com a expansão do Estado francês, que tinha à frente Napoleão, os dois países entraram em conflito (1793 a 1795), até ser estabelecido
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