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Resenha do Filme "Obrigado por Fumar"

Por:   •  14/10/2018  •  1.701 Palavras (7 Páginas)  •  564 Visualizações

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Entende como a publicidade funciona para um produto nocivo? Ela o desfigura, e renomeia o consumidor como produto. Porque como Lacan disse, não importa o que a publicidade, Nick, eu e você possamos dizer sobre o cigarro. Quem vai “dizer” de fato o que vale a pena é o receptor. E Nick Naylor sabe que o tem que fazer é só plantar a idéia – e esperar que a árvore germine e dê frutos da forma como esperava.

- Classifique como ética, ou não-ética, a atitude do personagem Nick Naylor, no filme.

Nick Naylor é o clássico sofista. Ele utiliza da retórica para conseguir o que quer, e consegue. Mas se queremos definir, se sua atitude é ou não ética, devemos primeiramente lembrar de conceitos básicos sobre a arte de se expressar.

Existem três bases que suportam a retórica de acordo com o s teóricos mais antigos: logos, pathos e ethos. Logos, que significa o Verbo, significaria a razão, o conhecimento prévio em exercício básico, a lógica. Pathos é a paixão e emoção, ou melhor dizendo, o sentimento implantado ao discurso de forma que o transforme em direção ao receptor da forma desejada. E por fim, ethos seria a ética. Ou seja, a credibilidade do sofista posta em cheque diante do receptor. Sendo mais claro, como ele usa de sua capacidade pessoal para atestar os argumentos que tem a oferecer, e fazer com que acreditem.

Ora, se pensarmos dessa forma, não seria Nick o sofista mais ético no ponto de vista do filme? Mas se pegamos o conceito básico de ética, como exercício da moral, como relação dos princípios de um ser em relação à sociedade que vive, não há como obter uma decisão unânime. Porque se questionar o personagem e a ética em suas atitudes, é questionar seu posicionamento em frente aos argumentos levantados pelo filme, seria então questiona-la em relação à realidade da peça audiovisual e a que vivemos agora. E em ambas as possibilidades a resposta seria provavelmente: Sim, são carregadas de ética.

Porque Nick Naylor, o personagem, carrega a opinião de uma parcela da sociedade que acredita que o que há de mais importante para você como cidadão, para você como pessoa, para você como pai, é sua liberdade. Quando questionado se fumaria junto ao filho no aniversário de dezoito anos, ele responde que seria ele a comprar seu primeiro maço. Se o filho decidir que quer muito fumar, tendo se tornado um homem responsável por seus atos e atingido a maioridade perante a lei, por que não? Mesmo sendo seu filho, não seria antiético de sua parte o impedir de fazer algo após conquistasse a maioridade?

Colocando então um princípio neoliberal básico como um de seus maiores pesos morais, ele não está na verdade fazendo muito diferente da nação mais neoliberal em princípio do planeta, onde a trama se ambienta. Se a ética é a prática da moral espelhada por uma sociedade, Nick Naylor está sendo apenas americano. Se você sabe das consequências de tal ato, e mesmo assim quer exercer o seu direito de escolha e atuar de fato sem ferir a sociedade em que vive, vá e o faça. Se você quer muito fumar, fume. Ele não vai ser contra ou a favor. Só vai acender o isqueiro.

- Discorra sobre a relação entre o tempo e a ética de uma sociedade, com base na abordagem dada ao filme e sua relação com os dias atuais.

Vários assuntos tratados no filme ainda permanecem autênticos e contemporâneos, mas é interessante também notar o quanto mudou em 11 anos desde sua estréia – e como o mundo lida com cigarros hoje em dia. Por exemplo, o mote da problematização do filme é sobre a propaganda em cigarros sobre os malefícios que podem ser causados, e enquanto aparentemente há uma vitória para o personagem principal sobre o caso, o mesmo fala ao final que tudo foi em vão e as companhias de tabaco tiveram de indenizar vários clientes, muitas faliram, e ainda ingora alguns fatos mais atuais, como a proibição de peças audiovisuais que vendessem tabaco como produto principal.

Mas da mesma forma, quando Nick Naylor sugere a implantação de cigarros em filmes a serem lançados em Hollywood, ele lembra justamente da época do despontamento do cigarro como objeto de venda. O sucesso era estrondoso, o produto era alvo das mais diversas propagandas mais chamativas e criativas da época, e o cigarro fazia parte da imagem de uma pessoa, a tornava mais legal, mais relaxada, mais próxima de uma estrela de cinema. Ou seja, quase quebrou a era da publicidade vigente quando ao invés de ser exposto como solucionador de problemas e gerador de satisfação, era vendido como um estilo de vida.

Interessante então é notar que, colocando essa parte em foco, revela que o filme tem ainda mais um personagem que aparece talvez ao mesmo tempo em tela que o vivido por Eckhart – o povo. Porque se antes esse era o povo que consumia cigarros como a moda e estilo de anos atrás, hoje era o mesmo povo que condenava a prática pelas implicações que trariam à saúde. O que era moral, se tornou amoral. Portanto, o que era ético se tornou antiético.

Ainda mais interessante é a forma como o filme trata o seu final, quando Nick se conscientiza da situação e resolve sair de seu cargo. Não foi por revanchismo, ou por uma lição de moral ao filho, foi como se ele subitamente soubesse que aquela seria uma

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