A Linguagem da ciência mediada pela televisão: uma análise de significado à luz da mimese
Por: kamys17 • 13/12/2018 • 2.889 Palavras (12 Páginas) • 369 Visualizações
...
2. Uma metodologia baseada na mimese
A mediação de informações sobre o mundo a partir dos meios de comunicação de massa marca uma característica da modernidade que fez com que fôssemos perdendo a capacidade de vivenciar a experiência. Consideramos que o ser humano carrega em si a marca inata da curiosidade e isso nos leva a reconhecer as semelhanças e a determinar a que categorias as coisas do mundo pertencem. A importância da ideia de mimese na relação central entre o indivíduo e o mundo, e para o reconhecimento de si mesmo e do outro, torna possível o uso do conceito no estudo de um objeto comunicacional a fim de elucidar características do processo de significação.
O pesquisador da área da comunicação Fabrício Silveira propôs a utilização de um modelo benjaminiano para realizar estudos nesse campo do conhecimento. Para Silveira (apud ITO & XAVIER, 2013), Benjamin apresentou um exemplo de “atitude investigativa”, um modelo epistemológico que poderia ser empregado “tanto no que diz respeito às estratégias empíricas de captação de dados quanto na apresentação, na concepção narrativa e/ou na formalização de eventuais materiais de campo”.
Como já foi mencionado, o uso de linguagem não especializada é um recurso bastante comum na produção de documentários para mediar conteúdos baseados em pesquisas científicas. Uma das maneiras de simplificar a compreensão básica de teorias da Física acerca de aspectos da realidade inacessíveis aos nossos sentidos é a aposta em imagens computadorizadas. Dessa forma, é possível ilustrar, por exemplo, o comportamento de partículas subatômicas, a dinâmica dos buracos negros ou a possível existência das entidades nomeadas como cordas, que de acordo com a teoria apresentada no episódio em questão seriam as menores unidades da matéria e da energia do universo.
Ao escolher o episódio “Einstein’s Dream”, nosso objetivo não é o de levantar as informações que componham uma identidade do tipo de programa ou da linguagem adotada. Na verdade, a meta é determinar a semelhança a partir da mediação entre a intenção com a qual o conteúdo é apresentado e a forma com que ele pode ser compreendido pela audiência. O conceito de mimese permite, então, que se adentre no objeto a ser estudado para entender o caminho de significação que o documentário se pretende.
Para esta análise, vamos considerar a existência de três paradigmas no processo evolutivo de produção da imagem para enquadrar teoricamente os signos a serem analisados. Santaella & Nöth (1998) diferenciam a forma de produção das imagens da seguinte forma. No paradigma pré-fotográfico, estão as imagens produzidas artesanalmente. Quando entram em cena os processos automáticos de captação da imagem, passamos ao paradigma fotográfico do qual fazem parte a fotografia, o vídeo, o cinema e, até mesmo, a holografia. Já o paradigma pós-fotográfico se refere à geração de imagens por processos matemáticos de computação gráfica.
A compreensão de um fenômeno a partir da Teoria da Relatividade ou da Mecânica Quântica, por exemplo, é trabalhada por meio da produção digital de imagens para a criação de esquemas visuais que representem uma visão científica da realidade e simplifiquem a mediação desse conhecimento para o público não especialista nos temas em questão. Por isso, as imagens produzidas são baseadas em abstrações e modelos matemáticos que ganham possibilidade de representação, como nos episódios da série “The Elegant Universe”, principalmente com os efeitos visuais.
“As imagens digitais […] mesmo quando buscam imitar a realidade visível, não são mais figuras de registro, mas simulações, produzidas pelo cérebro e mediadas por programas numéricos. É em razão disso que é na simulação de processos dinâmicos puramente hipotéticos que esse tipo de imagem atinge o limite mais otimizado de seu potencial” (SANTAELLA & NÖTH, 1998; p. 96).
Benjamin considera que semelhança é percebida na mudança da configuração de elementos de um determinado instante para outro e acrescenta outra particularidade na esfera do semelhante, que é a rapidez com que ela se revela.
Todos os elementos miméticos da linguagem constituem uma intenção fundada, isto é, eles só podem vir à luz sobre um fundamento que lhes é estranho, e esse fundamento não é outro que a dimensão semiótica e comunicativa da linguagem [...]. O contexto significativo contido nos sons da frase é o fundo do qual emerge o semelhante, num instante, com a velocidade do relâmpago (BENJAMIN, 1996: 112).
Como já foi citado, Benjamin supõe que o dom mimético tenha se deslocado, durante os milênios da história humana, para a linguagem e para a escrita. “Nessa perspectiva, a linguagem seria a mais alta aplicação da faculdade mimética”. Benjamin identifica que a linguagem se tornou o “medium” em que as coisas se encontram e se relacionam de forma indireta em suas essências. Isso se deve às faculdades primitivas de percepção do semelhante que penetraram tão completamente e modificaram a função da linguagem.
3. O sonho de Einstein
O episódio “Einstein’s Dream” já começa com uma locução que convida o telespectador a desvendar os mistérios do universo por meio do conhecimento científico.
Now on NOVA, take a thrill ride into a world stranger than science-fiction where you play the game – by breaking some rules – where a new view of the Universe pushes you beyond the limits of your wildest imagination. This is the world of string theory – a way of describing every force and all matter from na atom to earth, to the end of the galaxies, from the birth of time to its final tickin a single theory – a theory of everything[1].
Logo no primeiro contato com a produção, já nos é prometida uma experiência audiovisual que pode ajudar o espectador a compreender um pouco mais sobre o objetivo desse programa. A experiência televisiva se torna, talvez, a única forma de a audiência ter acesso a uma imagem das dimensões inobserváveis da realidade retratadas na série.
Assim como outros tipos de programas, saber que uma determinada produção é classificada como documentário já levanta uma série de expectativas em relação ao seu formato, mas também limita essas expectativas para o que se conhece de determinado gênero. Segundo Jost (2007), os gêneros televisivos contêm as promessas ontológica (ligada ao nome do gênero) e pragmática (construção da crença ao redor do gênero). O documentário, por exemplo, vem de documento, e
...