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Os usos das ciencias sociais

Por:   •  22/10/2018  •  1.615 Palavras (7 Páginas)  •  247 Visualizações

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O campo científico, relativamente autônomo e heterônomo, está sujeito a reconfigurações. Nestes termos a tentativa de compreender a ciência contemplará uma dimensão imprescindível para a sua estruturação: o poder, sobremaneira em sua dimensão simbólica, ou melhor, “esse poder invisível o qual só pode ser exercido com a cumplicidade daqueles que não querem saber que lhe estão sujeitos ou mesmo que o exercem” (BOURDIEU, 2007, p. 7-8).

A forma de existência do campo científico é marcada pela complexidade daquelas relações estabelecidas entre sua estrutura interna e as pressões externas. Estas últimas consistem na maneira como o campo da ciência se relaciona com os demais campos e, mais amplamente, com as conjunturas nas quais estão situados os seus respectivos sistemas simbólicos.

“É enquanto instrumentos estruturados eestruturantes de comunicação e de Assim, percebendo a Ciência desta forma, para uma mensuração mais aproximada do seu grau de autonomia faz-se mister que voltemos especial atenção para a sua dinâmica interna na qual o campo científico e seus subcampos são conformados por seus agentes e suas ações: são os agentes sociais de um campo que “criam o espaço (...), e o espaço só existe (de alguma maneira) pelos agentes e pelas relações objetivas entre os agentes que aí se encontram” (BOURDIEU, 2004, p.23).

Paradoxalmente este campo é estruturado a partir da posição que tais agentes ocupam em sua dinâmica, e esta posição não é escolhida por eles mesmos. A grosso modo, a estrutura do campo científico vai ser determinada pela distribuição de capital científico entre os seus agentes que podem ser instituições ou indivíduos. Mas então, o que seria capital científico, tão essencial na estruturação de um campo? Bourdieu diz que:

"[...] o capital científico é uma espécie particular do capital simbólico (o qual, sabe-se, é sempre fundado sobre atos de conhecimento e reconhecimento) que consiste no reconhecimento (ou no crédito) atribuído pelo conjunto de pares-concorrentes no interior do campo científico." (BOURDIEU, 2004, p.26).

"Indivíduos e instituições têm um poder estruturante no interior do campo científico a partir da posição por estes ocupada. Tal posição é determinada e também determinante da acumulação de capital científico. O acúmulo de capital, e, conseqüentemente de posições conhecimento que os > cumprem a sua função política de instrumentos de imposição ou de legitimação da dominação, que contribuem para assegurar a dominação (...)” (BOURDIEU, 2007, p.11).

Para pensar essa articulação entre indivíduo e sociedade em termos boudieusianos, entre cientista e ciência, deve-se entender de forma intrínseca ao campo a noção de habitus, ou seja, as disposições, as tendências de ação que possuem um agente pertencente a um determinado campo.

- As Tomadas de posição se defrontam com as disposições?

Os cientistas devem ser percebidos como agentes do campo científico que, para serem reconhecidos neste espaço, devem agir de acordo com as regras e as normas de cientificidade que são ao mesmo tempo estruturadas e estruturantes da ciência. Neste sentido é relevante saber que “uma das funções da noção de habitus é a de dar conta da unidade de estilo que vincula as práticas e os bens de um agente singular ou de uma classe de agentes.

Há uma incessante luta por acumulação de capital científico que determina e é determinado (simultaneamente) pela luta por financiamentos. Aqueles que recebem os maiores financiamentos produzem mais, publicam suas pesquisas, têm maiores possibilidades de se consagrarem no campo, havendo a possibilidade, inclusive, de se tornarem dominantes temporais e participarem dos processos decisórios que constroem a política científica.

Todavia, o habitus científico, como maneiras de ser duráveis, podem também levar os agentes a se oporem às forças de um campo. Ou seja, neste conceito bourdieusiano reside a possibilidade de transformação da realidade. As posições que os agentes ocupam na estrutura do campo dependem de seu capital, desenvolvendo estratégias que dependem, sobretudo, dessas posições .

A grande contribuição de Bourdieu neste âmbito específico é afirmar que dependendo da posição ocupada, as estratégias de ação de um agente são diferenciadas. Essas estratégias orientam-se seja para a conservação da estrutura seja para a sua transformação, e pode-se genericamente verificar que quanto mais as pessoas ocupam uma posição favorecida na estrutura, mais elas tendem a conservar ao mesmo tempo a estrutura e a sua posição, nos limites, no entanto, de suas disposições (isto é, de sua trajetória social, de sua origem social que são mais ou menos apropriadas à sua posição.

Partindo-se deste princípio aproxima-se mais dos “porquês” das mudanças de paradigmas das rupturas epistemológicas, das descontinuidades da modernidade nas ciências. As reconfigurações do campo científico devem ser analisadas justamente na tessitura destas relações que privilegiam agente/ estrutura, ação/ estrutura. É o reconhecimento de que os indivíduos têm o poder de modificar a estrutura e de que até certo ponto estes indivíduos são modificados, “moldados” pela estrutura do campo.

As tomadas de posição encontram seus limites nas disposições. Cientistas podem modificar a estrutura do campo científico, mas dentro dos limites de sua trajetória na ciência e, por que não dizer, fora dela.

III. REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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