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A Ciência Política

Por:   •  17/12/2018  •  1.655 Palavras (7 Páginas)  •  271 Visualizações

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Outro fator que complemente o raciocínio apresentado acima que deve ser levado em conta, é a visão da elite a respeito das possíveis soluções à pobreza e desigualdade. A educação é a prioridade número um para as elites no combate às desigualdades. Isso se explica primeiro pelo fato de que assegurar educação pública é uma responsabilidade do Estado e ao defendê-la como principal solução, a classe média se exime da culpa dos problemas sociais. Além disso, existe a grande crença na educação como uma ferramenta de mobilidade social, ou seja, a educação de qualidade presente nos setores mais pobres da população proporcionaria a essas pessoas condições para competirem por posições mais altas na pirâmide social sem que uma distribuição de renda se fizesse necessária. "Em suma, as elites apostam na possibilidade de melhoria para os pobres sem custo direto para os não-pobres" (REIS, Elisa; Percepções da elite sobre pobreza e desigualdade. Revista Brasileira de Ciências Sociais, v.15, n.º 42, p. 143-152, 2000). Ao compararmos com a música de Gilberto, percebemos a semelhança na crítica, já que a elite sempre arruma um jeito de não abrir mão de um pouco do muito que possui para ajudar o próximo. Distribuição de renda não é algo que soa bem aos ouvidos dos que se privilegiam pela sua ausência: “E o governador promete/ Só promete na eleição/ Mas o sistema diz não/ Os lucros são muito grandes e ninguém quer abrir mão/ E mesmo uma pequena parte já seria a solução/ Mas a usura dessa gente já virou um aleijão” (GIL, Gilberto. Nos Barracos da Cidade. Dia Dorim Noite Neon, 1985).

Por fim, percebe-se o caráter paradoxal da elite brasileira: Ao assumir a pobreza e a desigualdade como problemas e inimigos centrais da nação, nota-se uma consciência social, consciência esta que é perdida quando a elite recusa a enxergar-se como parte do todo, não realizando suas funções de “ator social”, quanto mais poder de decisão lhe é dado, maior é sua responsabilidade. Essa responsabilidade, no entanto, é transferida ao Estado e é justo a partir do momento em que a elite se omite politicamente, que a consciência social é perdida.

Na última estrofe de sua música, Gilberto Gil cobra das elites políticas e burocráticas ação em prol do povo, cobra dos órgãos de fiscalização o combate ao crime nas esferas mais altas do poder público, no entanto, o cantor diz que já perdeu a paciência, como se já tivesse pedido por diversas vezes e não tivesse sido atendido: “Alô polícia federal/ Vamo prender o juiz lalau/ Todos os lalaus/ Vamo acreditar na vitória do bem sobre o mal/ Alô presidente/ Vamo parar de abafar as CPIs/ Vamo acabar com a corrupção e a impunidade nesse país/ Vamo fazer o povão mais feliz/ Cadê o dinheiro do trabalhador?/ Cadê o dinheiro do professor?/ Do médico, doutor/ Alô, Vossa Excelência/ Já perdi a paciência/ Procuradoria Geral da República/ Vamo parar de arquivar processo de gente importante/ Quem procura, acha/ Mas é pra procurar/ Gente estúpida” (GIL, Gilberto. Nos Barracos da Cidade. Dia Dorim Noite Neon, 1985).

Além de tudo, a última estrofe da música mostra a impunidade que existe quando a infração à lei se dá por não-pobres. A análise das duas obras nos leva a concluir que existe um descaso das elites para com a situação de pobreza e miséria enfrentada por uma enorme parcela da população. A indiferença e omissão dessa classe mais favorecida, que pode intervir de modo a vir a mudar a realidade, frente e esses problemas, só faz com que estes prolonguem-se e que não aparentem ter solução. O problema é estrutural, para resolvê-lo é preciso que a sociedade aja em conjunto, visando o benefício coletivo e não individual; mas é justo essa visão de fazer parte de um todo que a elite não possui. Dessa maneira, faz-se importante e necessário conscientizar a elite!

Bibliografia:

- “REIS, Elisa. Percepções da elite sobre pobreza e desigualdade. Revista Brasileira de Ciências Sociais, v. 15, nº 42, p 143-152, 2000^

- (GIL, Gilberto. Nos Barracos da Cidade. Dia Dorim Noite Neon, 1985).

ANEXO:

Nos barracos da cidadeNinguém mais tem ilusãoNo poder da autoridadeDe tomar a decisãoE o poder da autoridadeSe pode não faz questãoMas se faz questão nao consegue enfrentar o tubarão

gente estúpida!Gente hipócrita!

Nos barracos da cidadeNinguém mais tem ilusãoNo poder da autoridadeDe tomar a decisãoE o poder da autoridadeSe pode não faz questãoSó fode a populaçãoO governador promete mas não toma decisãoOs lucros são muito poucos ninguém quer abrir mãoUma parte pequena já seria a soluçãoMas no barraco tá faltando feijão

E o governador prometeSó promete na eleiçãoMas o sistema diz nãoOs lucros são muito grandes e ninguém quer abrir mãoE mesmo uma pequena parte já seria a soluçãoMas a usura dessa gente já virou um aleijão

Gente estúpida!Gente hipócrita!

Alô policia federalVamo prender o juiz lalauTodos os lalausVamo acreditar na vitória do bem sobre o mauAlô presidenteVamo parar de abafar as CPIsVamo acabar com a corrupção e a impunidade nesse paísVamo fazer o povão mais felizCade o dinheiro do trabalhador?Cade o dinheiro do professor?Do médico, doutor?Alô vossa excelênciaJá

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