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Outros Olhos da realidade: os marginalizados

Por:   •  24/11/2018  •  1.713 Palavras (7 Páginas)  •  230 Visualizações

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Porém, podemos destacar e constatar que estes marginalizados apesar de estarem completamente excluídos da estrutura cultural e social de seu povo, se sentiam confortáveis na situação que viviam. Fabiano e sua família, apesar das desgraças que sofriam no sertão nordestino, até com a morte de sua cadela baleia, a qual considerava membro da família, por hidrofobia, não pensava em tentar se reconstituir no centro urbano, se relacionando com outras pessoas. Estava marginalizado a ponto de considerar-se um bicho, um animal. Portanto, a própria marginalização trouxe a sua impossibilidade de comunicação e linguagem, segundo diz o romance: “E pensando bem, ele não era um homem: era apenas um cabra ocupado em guardar coisas dos outros. [...] Mas como vivia em terra alheia, cuidava de animais alheios, descobria-se, encolhia-se na presença dos brancos e julgava-se cabra. [...] Corrigiu-a, murmurando: Você é um bicho, Fabiano.” (2006, pg. 18 e 19).

Esta situação ocorrida com Fabiano, também aconteceu com Cosme Fernandes e a maioria de seus amigos, que ao serem isolados no Brasil da época, e se excluir, se afastar da sociedade e não liberal, como a de Portugal, jamais quis voltar. Ou seja, a partir daí, se torna acomodado e inerte a vida que leva no seu chamado “Paraíso”, como podemos observar em “Não permita Deus que eu morra, em outra terra que não cá; sem que desfrute dos amores que não encontro por lá.” (2011, pg. 110).

Desde seu primeiro contato social, os marginalizados, tanto culturais, quanto sociais, que representam ambos os protagonistas dos romances Vidas Secas e Terra Papagalli, excluem-se, por se considerarem diferentes dos outros indivíduos inseridos no meio social, eles mesmos não se dão a oportunidade de interagir com as pessoas no ambiente à sua volta, colaborando cada vez mais para a sua própria marginalização. Sentindo-se, inclusive, invisíveis em meio à sociedade.

Como podemos observar em Vidas Secas, por exemplo, no momento em que a família, principalmente o patriarca, se sente incomodada durante a festa em comemoração ao natal de uma cidade próxima, constatado nos seguintes trechos: “A multidão apertava-o mais que a roupa, embaraçava-o. [...] Era como se as mãos e os braços da multidão fossem agarrá-lo, subjugá-lo, espremê-lo num canto da parede. Olhou as caras em redor. Evidentemente as criaturas que se juntavam ali não o viam, mas Fabiano se sentia rodeado de inimigos.” (2006, pg. 75).

A marginalização também é evidentemente prejudicial, em situações presentes no cotidiano dos personagens em ambos os romances. Como podemos observar durante o Capítulo “Contas” de Vidas Secas, quando a família de Fabiano é sempre prejudicada, devido à ausência de oportunidades de escolaridade, pois sempre o que ofertava aos comerciantes, recebia o pagamento diminuído, porém se curvava a esses poderosos, fato comprovado na citação: ’’Resmungava, rezingava, numa aflição. Tentando espichar os recursos minguados, engasgava-se, engolia em seco. Transigindo com outro, não seria roubado tão descaradamente. Mas receava ser expulso da fazenda. E rendia-se.” (2006, pg. 93).

Tais situações também são observadas em Terra Papagalli, com relação aos nativos que habitavam o Brasil no momento em que os colonizadores chegaram nestas novas terras. Devido às suas diferenças culturais em relação ao modo de vida, os portugueses os viam desenvolvidamente defasados, considerando-os verdadeiros marginais. Por este motivo tiravam proveito da inocência dos indígenas, explorando, utilizando-os materialmente como objetos sexuais, e até mesmo como mercadorias, podendo ser trocados por algumas moedas, como podemos constatar no trecho: “As gentes da Terra dos Papagaios são muito crentes e de fácil convencimento. Por isso tem em alta conta os feiticeiros, os falsos profetas e vai a coisa a tanto que não há patranheiro que lá não enriqueça e prospere. E assim é, senhor, que por serem tão crédulos aqueles gentios, pode-se-lhes mentir sem parcimônia nem medo de castigo.” (2011, pg. 90).

Ambos os livros demonstram a falta de perspectivas e almejos, por parte tanto de Cosme Fernandes, quanto de Fabiano, representando os pensamentos e sentimentos por parte das minorias, pois são inertes em sua situação excluída e à margem da sociedade, e apenas decidem mudá-la, para buscar algo melhor, quando estas são tiradas dos mesmos, estando, com isso em uma constante fuga, e não controlando seu próprio destino pela falta de poder. Assim como, podemos contatar quando Fabiano e sua família têm de migrar para outro local, a fim de escapar do que o mesmo chamava de “cemitério” que havia se tornado seu lar no sertão nordestino.

Já o Cosme, é obrigado a sair do Brasil, seu lugar de morada durante muitos anos, devido à ameaça e medo que causavam os poderosos da corte portuguesa, deixando tudo o que construiu durante décadas para trás: “Sabia que não deixariam aquele ataque sem reposta, e que quando viessem, seríamos destroçados. [...] Era grande a dor para nós ter que fugir uma segunda vez. Eu, para vos ser franco, sofria ainda mais porque em Cananeia tinha feito crescer uma bela vila, com praça, monjolo, torres e rua de feira, mas teríamos que deixar tudo para trás.” (2011, pg. 182 e 183).

Vidas Secas e Terra Papagalli denunciam os acontecimentos trágicos decorridos na vida, dos que não possuem terras, dinheiro, poder e são discriminados, sendo deixados para morrer no sertão, esquecidos pelo governo e punidos pelas autoridades repressivas e antiéticas. Percebendo nestas, ainda hoje, em nosso cotidiano, abusos constantes de poder. Ou então, do mesmo modo foram abandonados em terras desconhecidas, nas quais poderiam morrer facilmente.

Logo, essas narrativas propõem um protagonista, como um herói marginal, ao qual a História e

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