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Análise Crítica do filme: Bicho de Sete Cabeças

Por:   •  19/4/2018  •  Resenha  •  947 Palavras (4 Páginas)  •  1.712 Visualizações

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Análise Crítica do Filme: Bicho de Sete Cabeças

        O filme Bicho de Sete Cabeças foi inspirado em fatos verídicos. Neto, o personagem principal, é um jovem que está a atravessar a difícil fase da adolescência, com todos seus efeitos e desafios. O seu pai, um homem conservador e rude, ignora totalmente esta realidade, assim como sua mãe, uma mulher submissa e insciente. Neto, não encontra em casa o apoio do qual necessita, assim como também não há diálogo entre ele e seus familiares. Perdido e tentando encontrar-se em meio a tantos conflitos, ele passa a tentar se “encaixar” dentro do seu grupo de amigos, como forma de afirmar sua própria identidade e sentir-se incluído, atitude característica dessa fase. Tudo muda quando seu pai encontra em meio às suas roupas um cigarro de maconha. Sem estabelecer uma conversa franca e escutar os motivos do filho, o seu pai logo o supõe um viciado, e o interna contra a sua vontade em um manicômio.

        A partir de então, ao acompanhar o drama de Neto, é possível enxergar uma gama de atrocidades e crueldades cometidas contra Neto e os internos. Sem voz, dopados, esquecidos e excluídos, os “anormais” são retirados do convívio com sua família e com uma sociedade tida “normal”, o que deixa bem claro também, a atitude da sociedade frente a qualquer coisa que fuja ao ideal, ao padrão, que se mostre diferente. O que aconteceu ao personagem do filme reflete-se cotidianamente com várias pessoas, Neto não teve a chance de explicar-se e nem sequer foi examinado pelo médico. Médico este que agiu levianamente, o que reflete uma realidade latente e gritante em várias instituições, onde a Medicina é exercida de forma irresponsável e visando apenas interesses próprios. A única preocupação visível do médico era com as verbas que o manicômio receberia ao atingir um determinado número de internos, meta esta que deveria ser atingida, nem que isso custasse uma superlotação.

        Essa superlotação ainda freqüente e presente nas instituições acarretam inúmeros problemas e inconvenientes, ao passo que gera mais violência e negligência quanto aos enfermos. A todo o momento no filme, é possível presenciar cenas chocantes de violência por parte dos enfermeiros, que usam de todos os artifícios a fim de subjugar os pacientes, desde a antiga camisa de força, o quarto “forte” e o eletrochoque. O isolamento, a superlotação e todo esse sofrimento infligido aos pacientes, deram origem à Reforma Psiquiátrica e à Luta Antimanicomial. A Reforma Psiquiátrica atuou transformando valores, entre eles, os valores sociais, pondo fim ao aparelho da instituição psiquiátrica tradicional. A Psiquiatria retratada no filme não está muito longe da situação dos hospícios no século XVIII, onde Pinel encontrou pessoas torturadas, presas a correntes, como se ainda permanecesse a visão demoníaca da doença mental tal qual na Idade Média.

        Após receber alta do hospital em que se encontrava, entre tentativas de se restabelecer e reintegrar-se à sociedade, Neto vê-se cada vez mais isolado e excluído de uma sociedade dita democrática, a qual deveria primar pela justiça e pelo culto as diferenças, mas que ao mesmo tempo incluem os doentes mentais em um contexto, ao qual não possuem direitos iguais e nem liberdade de escolha. Assim, são automaticamente marginalizados, esquecidos e estigmatizados.

        Há uma cena em que um velho, paciente da instituição, entrega de presente um gorro para Neto, fazendo uma clara alusão à necessidade de proteger a mente e os pensamentos diante daquela fatídica experiência. Proteger-se não só dos “loucos” daquele hospital ou daquela realidade enlouquecedora, mas principalmente, da nossa sociedade, à qual julga, massacra, não permite o erro e nem a diferença, desprezando a quem mais necessita de ajuda e suporte para ser reinserido.

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