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A construção do amor romantico

Por:   •  28/3/2018  •  3.648 Palavras (15 Páginas)  •  324 Visualizações

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Sendo assim, tendo como base, entre outros, os autores acima citados, este trabalho pretende ampliar os desdobramentos acerca da constituição do amor romântico e de como tal se relaciona com a lógica de mercado. Procurando também, entender como se desenvolve sua influência na vivência do amor contemporâneo, marcado pela intensidade e liquidez de seus relacionamentos (BAUMAN, 2004).

1 JUSTIFICATIVA

Vivemos certamente, uma era que é marcada pelas incertezas, pela liquidez dos relacionamentos, onde tudo é muito efêmero, rápido, sem tempo para o apego, para o conhecimento mútuo, onde não há compromisso nem solidez. Vivemos amores intensos e rápidos, assim como rápido foi o apaixonar-se (BAUMAN, 2004). Tal forma descompromissada de vivenciar os afetos, tem nos trazido algumas conseqüências importantes, inúmeros artigos e pesquisas têm nos revelado algumas consequências acerca da decisão do divórcio, principalmente trazendo a visão dos filhos, que acabam sendo os mais afetados (KOCH; RAMIRES, 2015). As mesmas pesquisas conseguem relacionar tal situação com as expectativas idealizadas do amor romântico dentro de casamento.

Porém, outro aspecto, que aqui mais nos interessa, é seu relacionamento com o capitalismo, talvez, o mesmo tenha trivializado a paixão, trazendo certa desilusão das pessoas em relação ao amor. Isso nos leva a lógica mercantil, onde as relações sexuais podem ser compradas no mercado, negociadas, barganhadas apenas para levar a vida adiante. Dessa forma, o capitalismo tenta dissuadir a criação de vínculos reais, valorizando, sobremaneira, o prazer (PHILLIPS, 2011), evidenciando o irracional dentro da racionalidade, pois os desejos não procederiam dos interesses humanos e sim do capital (CROCHÍK, 2003).

Sendo assim, penso ser de fundamental importância a ampliação e melhor compreensão do tema, para que se possa vivenciar os amores e a afetividade de forma mais consciente e saudável, respeitando a individualidade do sujeito em sua maneira de perceber o mundo e de se articular (GUATTARI; ROLNIK 1986).

2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

Tendo consciência da erótica do prazer, na Grécia antiga, do amor cortês, da erótica do desejo, que existe na impossibilidade, passando pelo romantismo, fundamentado na erótica do sentimento, chegamos ao entendimento do amor contemporâneo, que vive da intensidade, bem como da liquidez dos relacionamentos (CERVEIRA, 2015). Contudo, o romantismo continua sendo uma das marcas registradas da cultura ocidental, nesse sentido, as ideias do psicanalista Jurandir Freire Costa acerca do amor como ideal de felicidade em, Sem fraude nem favor (1998), serão utilizadas como fundamentação nesse trabalho.

A observação de como se desenvolveu a convicção de que o amor é um sentimento universal, natural e espontâneo, presente em todas as épocas e culturas, bem como a noção do amor como sentimento irracional e incontrolável também é trazida por Costa. O autor referido fundamenta bem as reflexões que o presente trabalho propõe-se a trazer, apesar de outros autores serem citados, a ideia essencial se relaciona com a acima apresentada.

3 METODOLOGIA

Levando em consideração a amplitude do tema, bem como sua importância, a metodologia aqui utilizada é a revisão bibliográfica, que nada mais é do que a sistemática científica aplicada para busca e análise de artigos de uma determinada área da ciência (CONFORTO, et al; 2011).

Cabe enfatizar, que a metodologia escolhida está presente em praticamente todo projeto de pesquisa, de quase tudo que se deseje pesquisar, algo que já foi pesquisado de forma mais básica, idêntica ou correlata (RAMPAZZO, 2002).

4 AMOR AO LONGO DA HISTÓRIA

A vivência dos amores sofre inúmeras transformações ao longo do tempo, começaremos um apanhado histórico a começar pela Grécia antiga, que certamente se apresenta como uma das culturas que mais se importaram e produziram acerca do assunto.

Para o grego, especialmente o do século V a.C; o ser humano tinha uma natureza dicotômica. Uma vinculada ao corpo, com aquilo que era palpável e mais natural. Outra se relaciona com a mente, podendo também, como algo que transcende o corpo, estar ligada ao espírito ou a alma, porém não distintas, ou seja, dentro de uma visão dicotômica e não tricotômica (BRANDEM, 1998).

Entre os importantes filósofos gregos que se deteram no tema, em especial Aristóteles, o amor vinculado ao corpo era inferior, a paixão era vista como a falência da racionalidade e os homens sensatos, “bem nascidos”, devem aprender a dominar suas paixões, isto é, a utilizá-las de forma adequada (LEBRUN, et al, 2009). Por outro lado, os relacionamentos virtuosos, de elevação mental e moral, eram os de cunho do espírito. Sobre este, Brandem (1998), escreve:

Para eles, este amor profundo e espiritualmente significativo, só era possível nos relacionamentos homossexuais, normalmente entre homens mais velhos e garotos, enquanto o desejo sexual decorrente de sentimentos profundos era freqüentemente visto como afeminado e insano. O relacionamento amoroso, apaixonado, entre dois homens, era tido como um relacionamento no qual o amante, mais velho, inspirava no jovem a nobreza e a virtude, e o amor entre estes elevava a mente (BRANDEM, 1998, p. 28).

Tal afirmação, se justifica a medida que entendemos o papel da mulher dentro dessa cultura, mais relacionado a subordinação, vista como um ser desigual, ou inferior, sem direitos importantes e com um papel fundamental de procriação e cuidado do lar (BRANDEM, 1998, apud SOUZA, 2007, p.13).

Sabemos que há uma herança da cultura grega em vários desdobramentos da vida social da era romana, no que diz respeito a vivência da afetividade não é diferente. Entretanto, houve transformações importantes acerca do amor nesse período, como a valorização da família como unidade política e a influência religiosa cristã no relacionamento entre o casal, evidenciando a virgindade, a devoção e a fidelidade como virtudes fundamentais (BRANDEM, 1998).

Certamente, a visão cristã acerca dos amores vai, neste período, ao encontro do pensamento grego em um aspecto primordial, o de que a paixão é má, está ligada ao pecado, as “concupscências da carne”[1], como afirma o apóstolo São Paulo em sua primeira carta a igreja em Corinto. Tanto o amor pathos, como o epitumia, utilizados no novo testamento para expressar as variações da paixão, se relacionam com a ideia de Aristóteles de que as paixões não controladas

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