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O Mito do Progreso

Por:   •  22/3/2018  •  2.275 Palavras (10 Páginas)  •  307 Visualizações

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Essa questão da medicalização está se tornando cada vez mais agravante. O indivíduo não tem nenhum problema de saúde e acaba adquirindo certo problema devido a medicação que passa a usar, gerando na maioria dos casos, a depressão e outros distúrbios. Uma vez classificadas como “doentes”, as pessoas tornam-se “pacientes” e consequentemente “consumidoras” de tratamentos, terapias e medicamentos, que transformam o seu próprio corpo no alvo dos problemas. Frank Furedi, professor da Universidade de Kent, chama de medicalização "aquele processo por meio do qual, problemas encontrados na vida cotidiana são reinterpretados como problemas médicos" (2005).

A atuação médica equivocada e que não segue parâmetros diagnósticos adequados promove um hábito nocivo à saúde humana. Pesquisa publicada pela Revista da Associação Médica Americana mostra que a probabilidade de um paciente obter do seu médico o remédio que deseja, mesmo que não seja o mais indicado para o seu caso (Anúncio..., 2005), aumenta quando o cliente pede por ele.

O professor Louis Garrison, da Universidade de Washington, lembra que a grande carga de publicidade influencia a prescrição de um medicamento porque “os médicos querem dar a seus pacientes um diagnóstico sólido, mas também querem deixá-los felizes" e até a crença de que os problemas da vida, das relações que estabelecemos com as pessoas, e que nos incomodam, são inerentes a nós, transtornos nossos, e estariam sendo resolvidos pelas pílulas que tomamos. Com isso, acaba sofrendo a pessoa e a família, enquanto os profissionais e as autoridades que devem cuidar mais das questões sociais, acabam se livrando de suas responsabilidades.

A venda crescente de medicamentos tem gerado, inclusive, distorções no meio médico, pois muitos desses profissionais vêm recebendo “brindes” dos laboratórios pela quantidade de remédios de determinada marca que receitam a seus pacientes. A pressão dos laboratórios é tão evidente que, em 2010, o Conselho Federal de Medicina proibiu os médicos de receberem “vantagens materiais” por receitar em determinados medicamentos e voltou atrás em 2012, permitindo que fosse possível oferecer, em troca, uma viagem para Congresso por ano, financiada por determinado laboratório, justificando que é uma “tendência mundial”.

Um dos livros mais importantes sobre esse tema foi escrito por Marcia Angell, “A verdade sobre os laboratórios farmacêuticos”, que é médica e foi editora-chefe do New England Journal of Medicine e professora do Departamento de Medicina Social da Universidade Harvard, no qual analisa como os laboratórios se afastaram de sua missão original de descobrir e fabricar remédios úteis para se transformar em gigantescas máquinas de marketing. Angell é autora de vários artigos e livros que questionam a ética na prática e na pesquisa clínica.

É paradoxal observar como numa sociedade geradora de crescentes e graves contaminações ambientais e propensas ao uso frequente de drogas ilegais - há espaço para ressurgirem componentes autoritários nas políticas públicas a respeito de temas controversos e específicos. Um deles é a questão do cigarro ou tabaco. Os Governos dizem que o seu uso aumenta os gastos com a manutenção da saúde pública: 'Segundo o Instituto Nacional do Câncer - INCA a incidência mundial de câncer de pulmão, que é considerada a segunda maior causa de mortes no mundo. É fato: o Cigarro faz mal. Mas é necessário comentar que entre os 10 países maiores produtores do tabaco, estão também os maiores taxadores (através de impostos) Para eles continuarem produzindo, é um ótimo negocio. Proibir por completo, geraria muito mais perda do que economia, até porque os gastos com a saúde, fumando ou não, também são pagos por nós, através dos impostos, e muitas vezes pagamos além, pois o que o poder público oferece, não funciona, então corremos para os planos de saúde.

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2.2 Medicalização da saúde e o abandono do doente em favor da doença

Vendo-se condenado a ser um consumidor de bens sociais normalizados, a saúde do homem contemporâneo foi sendo transformada em objeto de consumo e o paciente em cliente.

Em casos específicos o paciente é obrigado a assinar um documento garantindo sua plena responsabilidade sobre determinado procedimento. E, é desta forma que agem os interesses corporativistas, visando protegerem-se de ações legais futuras que em contrapartida gera um transtorno psíquico ao paciente, uma vez que este já se encontra abalado emocionalmente por conta da saúde frágil.

O indivíduo e suas aflições desaparecem, mas fica as normas e procedimentos, a uniformização das condutas, o esclarecimento parcial.

Durante o século XX, a multiplicação das “máquinas de diagnosticar e curar” industrializou e uniformizou as condutas médicas. É evidente que hoje em dia quase não existe mais o médico clínico geral, e esses que ainda tem desempenham o papel de encaminhar o paciente para um especialista que só se sabe ter diagnósticos por meio das máquinas.

Liberando-se das crenças metafísicas, a medicina contemporânea operou uma revolução ética e uma ruptura na lógica de seu próprio discurso. Separou a subjetividade - relação do paciente consigo mesmo - e a intersubjetividade - relação paciente-médico - dos cuidados e da doença. Para essa medicina tecnocientífica o doente não é mais que o porta-voz dos sinais da sua doença.

Para avançar, a ciência necessitava que os cientistas se especializassem. Com isso, o homem da ciência foi se refugiando num campo de ação intelectual cada vez mais estreito, perdendo o contato com as outras partes da ciência que é generalista. Onde está hoje o clínico geral? O especialista não é nem um sábio, nem um ignorante. Não é um sábio porque ignora formalmente tudo quanto não faz parte de sua especialidade; tampouco é um ignorante, porque é um "homem de ciência" e conhece muito bem seu pedaço de universo.

2.3 Manipulação genética e nanotecnologia: a fronteira decisiva?

O autor destaca que manipulação e nanotecnologia ganham uma espécie de auréola que os coloca acima da razão e da moral. No entanto, há aí riscos, como o excesso de especializações e a perda da visão do todo do paciente.

Erwin Chargaff é um dos mais duros críticos do conceito ingênuo do progresso científico-técnico. Ele propõe fixar limites em relação

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