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Por:   •  7/2/2018  •  2.150 Palavras (9 Páginas)  •  390 Visualizações

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Mesmo com o sucesso da aplicação tecnológica de sua patente, este paradigma parece estar sendo posto em causa hoje. A crise teve início com a Teoria da Relatividade de Einsten e a mecânica quântica, não sendo ainda possível ter certeza se haverá seu desfecho.

Os sinais conhecidos nos permitem apenas especular acerca do paradigma que emergirá deste período revolucionário, mas que, desde já, se pode afirmar com segurança que colapsarão as distinções básicas em que assenta o paradigma dominante. O colapso do paradigma dominante resulta de um conjunto de novos conhecimentos científicos, que se podem destacar quatro descobertas fundamentais: a Relatividade da Simultaneidade de Einstein, o Princípio da Incerteza de Heisenberg, o Teorema da Incompletude de Gödel e a nova abordagem da complexidade em sistemas dinâmicos.

A crise do paradigma dominante está destruindo, progressivamente, as fronteiras disciplinares em que, arbitrariamente, a Ciência tinha dividido a realidade. A ciência determinista está a ser substituída por uma ciência probabilística.

A caracterização do paradigma emergente pode ser antecipada especulando sobre o que se pode depreender da crise do paradigma dominante. Visto que a fragmentação do conhecimento na pós-modernidade parece ser temática e não disciplinar, ou seja, todo o conhecimento é local e total. Isto leva a que, na praxis interveniente, seja recomendável pensar globalmente para agir localmente. Em contrapartida, a composição transdisciplinar e individualizada sugere um movimento no sentido da maior personalização do trabalho científico, ou seja, a dimensão subjetiva, tão arduamente combatida pelo paradigma dominante, ganha agora uma nova importância fundamental. Todo conhecimento é autoconhecimento.

A tendência é todo o conhecimento científico constituir-se em senso comum. A Ciência pós-moderna, ao saber que nenhuma forma de conhecimento é racional em si mesma, procura a racionalidade pelo diálogo com outras formas de conhecimento, pois só a configuração de todas ela é racional. Numa total inversão dos papeis definidos pelo paradigma dominante, agora é o senso comum que se considera a forma de conhecimento mais importante, pois é ele que, no quotidiano, orienta as nossas ações e a nossa compreensão da realidade.

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Resenha

Trata-se da obra “Um discurso sobre as ciências” do professor universitário de Coimbra e sociólogo, Boaventura de Sousa Santos. Esta obra é um resgate histórico das ciências desde o paradigma dominante na modernidade, passando pela sua crise, até chegar ao período de transição em que se vive, quando emerge um novo paradigma. Observa-se logo em suas primeiras páginas que o autor traz à tona a crise de identidade das ciências contemporâneas de forma sucinta, visto que esse assunto será explanado posteriormente ao longo da obra. Serão analisados aspectos históricos das ciências naturais e sociais, bem como o atual contexto científico e as perspectivas para o futuro.

Para Boaventura de Sousa Santos, a sociedade atual encontra-se em uma fase de transição entre “tempos” científicos. Ele utiliza o exemplo da obra “Discours sur Le Sciences et lês Arts” (1750) em que Jean-Jacques Rousseau buscou respostas por meio de perguntas elementares e simples quando vivia-se outro momento de transição em meados do século XVIII. A presente resenha procurará primeiramente identificar e pontuar as críticas feitas pelo autor no que diz respeito ao uso do paradigma dominante na atualidade, haja vista que não atende mais aos anseios científicos e sociais. Ademais, explanará a premissa do autor de que o atual modelo de ciência dominante – racionalidade cientifica - deve ser substituído por um novo paradigma, sendo ele, o “paradigma de um conhecimento prudente para uma vida decente”. As razoes que levam Boaventura a pensar nesse paradigma proposto serão abordadas por meio de um conjunto de teses no decorrer do livro.

A primeira edição de “Um discurso sobre as ciências” data de 1987. Inicia-se apontando as contradições, ambiguidades, complexidades e incertezas que pairam no tempo presente. Quando se analisa a ciência do passado, constata-se que, ao mesmo tempo em que parece ser parte de um tempo longínquo, é a base do campo teórico da ciência atual. Do mesmo modo, ao se deparar com as perspectivas do futuro, também existem situações contraditórias convivendo. Um exemplo claro do que foi dito pode ser visto na medida em que, ao mesmo tempo em que se vislumbra a sociedade da informação e do conhecimento, quando a tecnologia é o centro de tudo, esbarra-se com uma ciência sem limites, que desemboca em guerras nucleares e em catástrofes ambientais.

O paradigma dominante

A ordem científica dominante, tratada na obra como o capítulo intitulado “O paradigma dominante”, corresponde ao modelo de racionalidade herdado a partir do século XVI e consolidado no século XIX. Constituiu-se a partir da Revolução Científica do século XVI e desenvolveu-se, primeiramente, tendo como base as ciências naturais. Apenas no século XIX estendeu-se às ciências sociais emergentes, tornando-se um modelo global. Esse modelo admite variedade interna, mas não tolera o senso comum e as humanidades ou estudos humanísticos. Além disso, o modelo da racionalidade científica é totalitário, uma vez que nega o caráter racional a todas as formas de conhecimento que não seguirem seus princípios epistemológicos e suas regras metodológicas.

O paradigma dominante, portanto, vislumbra uma única forma de se atingir o conhecimento verdadeiro, aquela decorrente da aplicação de seus próprios princípios epistemológicos e de suas regras metodológicas. Nesse sentido, Boaventura cita personalidades como Copérnico, Kepler, Galileu, Newton, Descartes, para exemplificar cientistas que acreditavam ter encontrado o único conhecimento verdadeiro, isto é, o paradigma dominante. Como bem esclarece Monique Bertotti: “Esse paradigma científico luta contra todas as formas de dogmatismo e de autoridade, uma vez que seus cientistas estão certos de que o que os separa do paradigma aristotélico e medieval é uma nova visão do mundo e da vida, a qual distingue conhecimento científico de conhecimento do senso comum e natureza de pessoa humana.”.

Essa nova visão de mundo apresenta distinções fundamentais aos modelos de ciência aristotélico, visto que desconfia sistematicamente das evidências das experiências imediatas, sendo consideradas ilusórias. Opunham-se ao conhecimento do senso comum. Ademais, buscava-se conhecer

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