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Trabalho de conclusão de curso

Por:   •  3/9/2018  •  3.748 Palavras (15 Páginas)  •  283 Visualizações

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A partir da epígrafe acima, pretende-se discutir a origem da gramática normativa e sua influência sobre a Língua Portuguesa.

Desde a literatura clássica da Grécia, os estudiosos preocupavam-se em preservar a “pureza” da língua grega, que a minoria usava, ou seja, a aristocracia política e econômica. Ocorria uma separação entre a língua falada e escrita, o que demonstra o caráter elitista da gramática tradicional que desprezava a fala para prestigiar as poucas pessoas que sabiam ler e escrever.

A gramática normativa é a mais conhecida porque está presente na escola por meio de livros didáticos ou/e na própria didática do professor. De acordo com Mendonça (2004, p.234) “[...] ensinar gramática costuma ser entendido como ensinar regras para usar bem a língua. Atente-se para o fato que as chamadas ‘gramáticas tradicionais’ tomam por língua uma de suas variedades, desprezando as outras”.

E, também na origem da gramática tradicional o desvio do padrão estabelecido era considerado erro, que não é diferente dos dias atuais, pois, ao adentrar na escola o aluno deve aprender a norma culta sem levar em conta seu conhecimento prévio (gramática internalizada), ou seja, sua língua materna diferente das regras impostas pela tradição gramatical.

Segundo Geraldi (1996, p.28) “[...] a língua nunca pode ser estudada ou ensinada como um produto acabado, pronto, fechado em si mesmo”. Por essa perspectiva, a língua é um produto histórico, sim, mas que tem autonomia no presente em relação ao seu processo de construção que é contínuo e inacabado.

Saussure, ao conceituar língua, afirma seu caráter sistemático, objetivo, considera a fala, entretanto privilegiou os estudos linguísticos em relação ao sistema, à língua homogenia. Já Bakhtin questiona Saussure, porque entende que o discurso não é único, mas dialógico, heterogêneo e carregado de ideologia, pois se constrói na interação com o outro.

Assim, para Bakhtin, a língua e vista como forma de conteúdo social e polifônico, através da interação entre o interlocutor e locutor num determinado tempo e espaço. Por isso, é importante que o professor não ofereça apenas a “informação gramatical”, mas o conhecimento da língua num contexto político e social. Bagno, (2004, p.10) afirma que “se faz necessário perceber que todas as línguas mudam, que toda língua é um grande corpo em movimento, em formação e transformação nunca definitivamente pronto”.

No aspecto social, pode-se verificar que uma mesma língua não é falada igualmente por todos os membros de uma comunidade de falantes, ocorrem variedades que podem não estar relacionadas com a norma culta. Assim, o professor deveria ensinar as diversas variedades sem desprezá-las, reconhecendo os diferentes modos de falar que variam de acordo com o contexto, região e sociedades. Derivada da linguística, a sociolinguística, portanto, compreende a língua como “um veículo de comunicação, de informação e de expressão entre os indivíduos da espécie humana” (TARALLO, 1985, p.7).

Tomar como verdade a variedade culta escrita da língua como faz a gramática normativa é distanciar-se do uso oral e aumentar a distância entre a imaginação da escrita e o ato de escrever dessa mesma norma (MENDONÇA, 2004, p.236).

Há uma tendência no ensino em exigir que o aluno fale do jeito que se escreve, como se fosse a forma correta de se pronunciar o português, criando uma língua artificial e desprezando as outras pronúncias. Ora valorizando mais a modalidade escrita em relação à oralidade.

Assim, a linguagem não deve ser estudada por meio de uma língua estável, abstrata, um sistema fechado, porque “saber uma língua (saber a gramática de uma língua) não tem nada a ver com saber a ortografia dessa língua” (BAGNO, 2004, p.31).

Existe uma fronteira entre a escrita formal da palavra e os vários modos de falar essa mesma palavra. Assim sendo, questionamos se ocorre a prática da sociolinguística no ensino da Língua Portuguesa nos anos iniciais ou valorização da ortografia oficial sem valorizar as variantes? E se ocorre à valorização da escrita em relação à oralidade?

2.1 Escrita X Oralidade

De acordo com Geraldi (2003), em relação ao discurso escolar tendo em vista também os anos iniciais na qual analisamos e sua relação com a linguagem, o teórico propõe-se considerar que o sujeito constitui-se nos processos interativos de que participa, e que a escola contemporânea deve construir um convívio com a linguagem (oral e escrita) não de forma homogênea, mas num espaço de heterogeneidade, sujeitos autores de suas falas e de suas escritas.

Para Bakhtin, todas as atividades humanas estão relacionadas ao uso da língua, que efetiva por meio de enunciados orais e escritos, “concretos e únicos, que emanam dos integrantes de uma esfera da atividade humana” (BAKHTIN, 1979, p.279). Assim, o funcionamento da língua ocorre no dia a dia no processo de interação social.

Koch ressalta no livro O texto e a construção de sentidos, que os textos podem se apresentar de várias formas: ora se aproximando do polo da fala (por exemplo: os bilhetes domésticos, os bilhetes de casais, e-mails entre amigos e textos de humor), ora se aproximando do polo da escrita (por exemplo: os discursos de posse de cargo, as conferências, as entrevistas especializadas e propostas de produtos de alta tecnologia por vendedores especialmente treinados). Conforme observa a autora, fala e escrita constituem duas possibilidades de uso da língua que utilizam o mesmo sistema linguístico e que, apesar de possuírem características próprias, não devem ser vistas de forma dicotômica.

Assim, a língua falada e a língua escrita não se opõem de forma dicotômica nem são produções em situações polares como argumenta Marcuschi. Consideramos que valha a contribuição de Marcuschi sobre essas modalidades e sua relação com a escola: “circulam na escola a respeito da relação entre a modalidade oral e escrita (é) imaginar a escrita como mera transposição do oral, ou tratar as especificidades de cada modalidade como polaridade” (MARCUSCHI, 2008, P.55).

Pois, faz-se necessário ter uma visão da língua como um conjunto de práticas sociais e vê os gêneros nesta mesma linha. Não se separa oralidade da escrita como se fosse dois domínios dicotômicos. Para Marcuschi, os gêneros orais em geral ainda não são tratados de modo sistemático no ensino, alguns mais formais são lembrados em suas características básicas.

Geraldi (1993,

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