A ÉTICA DE VIRTUDES E A ÉTICA DA COMPAIXÃO
Por: Salezio.Francisco • 25/11/2018 • 3.078 Palavras (13 Páginas) • 331 Visualizações
...
Kant diferencia imperativos hipotéticos de imperativos práticos, no primeiro caso é denominado por Kant como problemático visto que estaria em conformidade com um outro fim, não sendo assim determinado pela máxima do verbo, dever que estaria submetido ao respeito à lei, que diz respeito ao imperativo categórico; este submete a ação à razão e, como já foi dito inicialmente às leis racionais do dever que a determina.
Sobre os imperativos categóricos, Kant parece não responder a questão de se o julgamento que se faz de uma determinada ação poderá ser ocultamente hipotético:
“não se deve jamais perder de vista aqui que não é possível em qualquer exemplo, por conseguinte empiricamente, se haveria de todo em algum lugar um imperativo qualquer desse gênero, mas é de se recear que todos os que parecem categóricos sejam, sim, ocultamente hipotéticos” (FMC p. 207)
Diante disto, na sequencia do texto; já na segunda sessão, Kant afirma que o imperativo enquanto proibição seria mesmo categórico, mas no julgamento de uma ação por parte de um observador seria difícil determinar com precisão se não seria ocultamente hipotético.
Diante disso, Schopenhauer, no capítulo 4 de Sobre o fundamento da moral afirma que o primeiro erro de Kant está em que uma tal fundamentação da ética deve se pautar em dados, em acontecimentos e não em ditar as regras de como deveria acontecer pois, segundo Schopenhauer ninguém tem autoridade para, a partir da imaginação determinar como deveriam ser as ações humanas para se qualificar como moral. Schopenhauer argurmenta ainda que o conceito de lei é meramente figurativo e tem a finalidade de estabelecer-se no ambito civil, humanamente arbitrário onde o fator principal para tal estabelecimento de tal lei é o de motivar as pessoas a agir de tal maneira:
“Cada dever é também necessariamente condicionado ou pelo castigo ou pela recompensa e assim, para falar a linguagem de Kant, essencial e inevitavelmente hipotético e jamais, como ele afirmou, categórico. Se tais condições forem abstraídas, o conceito de dever fica vazio de sentido. Por isso o dever absoluto é simplesmente uma “contradiction in adjecto”. É simplesmente impossível pensar uma voz que comanda venha ela de dentro ou de fora, a não ser ameaçando ou prometendo. Mas, assim, a obdiência em relação a ela mesma, que, de acordo com as circunstâncias, pode ser esperta ou tola, será sempre, todavia, em proveito próprio e portanto sem valor moral. O caráter totalmente inconcebível e contraditório desse conceito de dever incondicionado que está na base da ética de Kant surge no seu sitema, mais tarde, a saber na Crítica da razão prática, do mesmo modo que um veneno que não pode permanecer mascarado no organismo, mas que tem de finalmnete irromper, vindo à luz. Ou seja, aquele dever incondicionado postula a seguir ainda uma condição, e mesmo mais do que uma, a saber, uma recompenas e, para tanto, a imortalidade do que é recompensado e alguém que recompensa. Isto é certamente necessário quando se tomou antes obrigação e dever como conceitos fundamentais da ética, já que estes são essencialmente relativos e só adquirem significado por meio de ameaça de castigo. (FM p. 26)
2- As críticas de Schopenhauer à Kant e o fundamento supremo da moral
Schopenhauer no capítulo 7 de Sobre o Fundamento da Moral afirma ser o norte do princípio máximo da ética kantiana, lembremo-nos “Age somente segundo a máxima que possas ao mesmo tempo querer que valha universalmente para todo ser racional” o egoísmo, princípio que Kant pretende superar. Isso se deve ao fato de que o que queremos, segundo Schopenhauer é “aquilo com que me dou melhor” e, por conhecer atos íntegros e benevolentes nós agiríamos segundo estes princípios pelo fato de o nosso egoísmo decidir-se por isto.
Shopenhauer considerando a parte passiva e ativa da ação cita a página 56 da obra Fundamentação de kant (paginação da academia na citação de Schopenhauer): “uma vontade que se decidisse por ela estaria se contradizendo a si própria, de fato poderiam dar-se casos nos quais ela necessitasse de amor e solidariedade dos outros e nos quais, por meio de uma lei da natureza surgida de sua própria vontade, tirasse de si mesma toda a esperança de assistência que poderia almejar” e cita Shopenhauer o cap. 2 do livro I da primeira parte (p. 123) da crítica da razão prática: “Se alguém considerasse a miséria dos outros com total indiferença e se tu pertencesses a uma tal ordem das coisas, estarias assim em plena concordânca com tua vontade?” Schopenhauer ainda considera para melhor clarificar o “aspécto verdadeiro” do princípio do dever kantiano citando os Princípios metafísicos da doutrina da virtude, parágrafo 30: “Pois cada qual quer ser ajudado”. De qualquer modo, Schopenhauer afirma ser esta máxima um insucesso do princípio kantiano, uma vez que contradizeria a si mesmo, pois, uma vez que temos uma ação de ajudar o próximo, estaríamos de acordo com o imperativo, mas se, ocasionalmente estivéssemos passivamente participando da ajuda de outrem, estariamos contriando a máxima do dever pois não aceitaríamos o fato de modo universal.
Daí a conclusão de Schopenhauer que o imperativo categórico na realidade seria hipotético, pois, se estivéssemos em condição de exercermos de modo ativo estaríamos cumprindo com o dever (de acordo é claro com o exemplo da ajuda ao próximo), mas se estivéssemos em condição passiva, contradizeríamos o dever. Segundo Schopenhauer, o indivíduo agiria de acordo com o seu medo da punição ou pelo benefício que receberia ao agir de acordo com a moral (FM p. 27 § 2 cap 4) o que invalidaria a teoria kantiana de moral.
De todo modo o imperativo categórico, tal como considera Kant na segunda sessão da Fundamentação só pode ser concebido como um imperativo de proibição, do pondo de vista do agente e não do observador.
Dito isto, agente não poderia facilmente se enganar sobre a máxima que determinou sua ação, como por exemplo, no caso de um indivíduo estar vendedo sua mercadoria por um preço justo, ele pode afirmar para si mesmo que está fazendo isto apenas por respeito à lei, por dever, mas na realidade ele está fazendo isso pelo fato de ter medo da punição que pode ser aplicada a ele no caso de ser apanhado agindo de outra forma, ou mesmo pelo benefício de aumentar gradualmente seus lucros – como no caso de o negócio estar em lugar onde o comércio é propício para vender - visto que os fregueses se tornam fiéis quando identificam uma ação justa. Se isto ocorre, só acontece devido à má fé do indivíduo consigo
...