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Planos de Classificação em um Ritual da Vida e da Morte

Por:   •  25/3/2018  •  3.723 Palavras (15 Páginas)  •  468 Visualizações

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O Isoma pertence a classe dos rituais, ele é conhecido como “rituais das mulheres” ou “rituais dos espíritos ancestrais ou sombras”. Este pertence aos ndembos, o nome usado para designar o ritual significa também, como diz o autor, “um compromisso especial” ou “uma obrigação”. Os indivíduos possuem uma obrigação, segundo eles, de lembrar e cultuar as sombras de seus ancestrais, pois os próprios ndembos diz que foi elas quem deu a luz para gerar os indivíduos.

Entende-se a este como ritual das mulheres, pois como o autor refere-se no texto quando as mulheres lembram de seus parentes mortos elas deverão casar e ser mães de crianças espertas e encantadoras. Mas as mulheres

que não mantiverem esse compromisso de culto as sombras corre o risco de ter seu poder procriativo amarrado pelas sombras. Porém essa esterilidade é temporária, assim que as mulheres se lembrarem de seus compromissos essa esterilidade cessará.

O ritual isoma ocorre de uma forma processual, em cada um deles as mulheres sofre transtornos ginecológicos. “Em tal caso ou o marido ou um parente do sexo masculino procura um adivinho, que qualifica precisamente o tipo de aflição em que a sombra, como diz o ndembos, “saiu da sepultura para apanhá-la”. (Pág. 27 e 28)

De acordo com a aflição o marido ou um parente do sexo masculino serve de médico, ele tem a tarefa de convocar outros médicos para ajudá-lo, podendo ser mulheres que já passaram por essa situação e ganharam o acesso ao culto de cura ou pessoas que tiveram afinidade com uma paciente anterior. Os pacientes são considerados com “candidatos” e os médicos como seus peritos. Os ndembos acreditam que as sombras atormentadoras tinham sido antigos peritos. “O perito “mais velho”, ou maior é geralmente um homem, mesmo para os cultos de mulheres como o isoma. Pois como acontece na maioria das sociedades matrilineares, enquanto a colocação social é obtida através das mulheres, a autoridade fica nas mãos dos homens.” (Pág. 28)

O próprio nome do ritual “Isoma” possui um valor simbólico para os ndembos, entre os símbolos rituais que eles possuem em que o autor descreve no texto, um símbolo para eles pode possuir mais que um significado. Esta designação tem múltipla referencia. “Em primeiro lugar, refere-se á condição específica que os ritos tem por finalidade dissipar. Uma mulher "apanhada no Isoma" é, muito frequentemente, uma mulher que teve urna serie de gestações malogradas ou abortos. Julgam que a criança nascitura "escorregou", antes que chegasse a sua hora de nascer. Em segundo lugar, ku-somoka significa "abandonar o grupo a que o individuo pertence", talvez também com a mesma implicação de prematuridade.” (Pág.30) “Isoma é, por conseguinte, a manifestação de urna sombra que faz a mulher dar á luz urna criança morta ou leva á morte urna serie de crianças.” (Pág. 31)

Turner relatou o que viu no ritual. A árvore podre caída representa o estado de tormento ou de doença da paciente, é o seu musong'u. Após a coleta dos remédios os peritos voltam para o trabalho. Uma especialista do sexo feminino tritura os fragmentos de casca medicinais num almofariz para refeições. É molhado em água e separado em duas porções (uma quente, significando a morte, e outra fria, significando a vida). A porção a ser aquecida irá para um pedaço grosso de casca (ifundi) ou em caco de louça de barro (chizanda), do lado de fora do buraco cavado através da toca do tamanduá ou da ratazana gigante, esta representada como a ikela (cavidade) do rancor ou desgraça. Já a porção que é derramada fria em uma gamela ou vaso de barro (izawu), é colocada próximo à "nova cavidade", à ikela do fazer bem ou cura. A ikela fica próximo ou na nascente de um riacho, representando a capacidade de procriar. A nova cavidade deve soprar para longe da paciente, para as coisas ruins a abandonarem. No ritual há um chipang'u, termo usado para vários significados, dentre eles: um cercado, um cercado ritual, etc. A mulher que teve três ou quatro percas de crianças por mortalidade infantil ou natimorta, deverá passar pelo ritual sendo aspergida pelo médio e assistente cada um com uma das porções.

Assim, pode-se perceber como cada ação, cada fragmento, apresentado no ritual é composto de um ou muitos significados significado. Continua: o marido entra na cavidade fria próximo ao fogo dos homens (lado direito) junto à esposa (que entra com uma franga branca para carregar do lado esquerdo do peito). Os dois são aspergidos; a mulher entra no túnel seguindo-a o homem. Durante o ritual estão nus, representando bebês e cadáveres simultaneamente.

A franga simboliza "boa sorte ou vigor", "capacidade de procriar" (lusemu), "brancura, pureza ou bons augúrios; o galo vermelho representa o homem, a "desgraça mística" ou seja, talvez o rancor esteja contra ele, ou 'sofrimento' da mulher." Se a mulher não tiver filhos após o ritual, o rancor está com ela, a não procriação não seria culpa do marido mas sim de "outros grupos de parentes". No fim do ritual o galo vermelho é degolado à direita da ikela quente, "do lado dos homens", suas penas e sangue são derramados na cavidade para receber a franga branca.

"Na makela os ritos seguem um padrão processual" onde há a passagem da ikela fria para a quente, sendo a mulher seguida pelo homem; os médicos mesclam os remédios fazendo exortações a feiticeiros e a imprecadores para eliminar "influências adversas"; voltam em mesma ordem sendo aspergidos; param para o homem buscar pano e enxugar o rosto do casal e corpo da franga; retornam a ikela fria e são medicados; dão intervalo, trazendo cerveja para os assistentes e o marido; vão para a ikela fria e são aspergidos, só que desta vez quem vai para a ikela quente primeiro é o marido, na mesma ordem voltam para a fria; são aspergidos e se tem intervalo; quando retornam, alteram a ordem novamente; o sangue do galo degolado é derramado na ikela quente, e o casal é borrifado com os dois remédio e água fria enquanto os peritos do sexo masculino e as mulheres adultas "entoam cantos pertencentes aos rituais da grande crise da vida e dos ritos de iniciação dos ndembos."

Para analisar a estrutura dos ritos o autor diz ser importante a observação de três tríades demonstradas da seguinte forma:

1º - Feiticeiro (é o mediador e representa qualquer sexo), sombra (representa o sexo feminino) e Mvweng'i (representando o sexo masculino).

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