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Obsolescência Programada

Por:   •  26/4/2018  •  2.737 Palavras (11 Páginas)  •  362 Visualizações

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"Em vez do antigo objetivo europeu, que era criar o melhor produto e que durasse para sempre. Comprava-se uma boa roupa para levá-la desde seu casamento até ao seu funeral sem poder renová-la. O objetivo americano é criar um consumidor insatisfeito com o produto que já tenha desfrutado, para que o venda em segunda-mão e para que compre o mais novo, com a imagem mais nova."

Brook Stevens

Brook Stevens viajou por todos os Estados Unidos promovendo a obsolescência programada em suas palestras e discursos. Suas ideias se desenvolveram e ecoaram amplamente. O design e o marketing passaram a seduzir o consumidor para que este desejasse sempre o último modelo. A obsolescência passou a depender do desejo do consumidor por novos produtos.

"Liberdade e felicidade através do consumo ilimitado", o estilo de vida dos americanos dos anos 50 lançou as bases da sociedade de consumo atual.

Hoje a obsolescência programada é ensinada nas escolas de designer e engenharia, sob o nome de ciclos de vida do produto, dentre outros; onde os estudantes são ensinados a desenhar para um mundo empresarial dominado por um único objetivo: compras frequentes e repetidas.

A obsolescência programada está na raiz do considerável crescimento econômico que o mundo ocidental viveu a partir dos anos 50. Desde então o crescimento tem sido o "Santo Graal" da nossa economia.

Serge Latouche, um destacado crítico da sociedade de crescimento, na qual o consumo deve ser ilimitado para atender a uma produção ilimitada, escreve frequentemente sobre seus mecanismos. Segundo ele, "há três instrumentos fundamentais: a publicidade, a obsolescência programada e o crédito".

Os críticos da sociedade de crescimento, alertam que esta não é sustentável a longo prazo porque se fundamenta numa contradição flagrante. Ainda segundo Serge, "quem acredita que um crescimento ilimitado é compatível com um planeta limitado ou está louco ou é economista. O drama é que agora todos somos economistas. Poderíamos dizer que com a sociedade de crescimento, estamos montados num bólide que, claramente, já ninguém pilota, que vai a toda velocidade e cujo destino é chocar-se contra um muro ou cair num precipício".

Em 1940, o gigante químico Dupont apresentou uma fibra sintética revolucionária: o Nylon. Para as mulheres, as meias duradouras eram um grande progresso. Porém, a alegria durou pouco. As meias eram resistentes demais, duravam muito, o que faria com que o consumo de novas meias caísse muito, então a Dupont deu instruções a seus químicos para começarem do zero e criar fibras mais frágeis, para que as meias não durassem tanto, extinguindo assim o fio eterno.

O confronto com a obsolescência programada fez com que os engenheiros examinassem seus conceitos éticos mais fundamentais. Enquanto que a velha escola acreditava que deviam fazer produtos duradouros que nunca quebrassem, os da nova escola, motivados pelo mercado, queriam fazer produtos tão descartáveis quanto possível. O debate resolveu-se quando a nova escola ganhou o confronto.

A obsolescência programada não afetou só os engenheiros, a frustração dos consumidores fez eco no clássico teatral de Arthur Miller, "A morte do caixeiro viajante", que explanava sobre a frustração de ter produtos que se deterioram rapidamente. Enquanto isto, do outro lado da "Cortina de Ferro", nos países do bloco leste, havia uma economia inteira sem obsolescência programada. A economia comunista não se baseava no livre mercado, ela era planejada pelo Estado, era pouco eficiente, e sofria de uma falta de recursos crônica. Nesse sistema a obsolescência programa não tinha sentido. Na antiga Alemanha Oriental, a economia comunista era mais eficiente, as normas diziam que as geladeiras e máquinas de lavar roupa deveriam funcionar durante vinte e cinco anos. Em 1981, uma fábrica de Berlim Oriental começou a produzir uma lâmpada de longa duração. Apresentaram-na numa feira Internacional em busca de compradores ocidentais. Quando os fabricantes da Alemanha Oriental apresentaram estas lâmpadas de longa duração na feira de Hanover de 1981, os seus colegas ocidentais disseram: "Vocês ficarão sem trabalho". Já os engenheiros da Alemanha Oriental disseram: "Não, pelo contrário. Conservaremos os nossos trabalhos se economizarmos recursos e não desperdiçarmos tungstênio". Os ocidentais recusaram a lâmpada. Em 1989, caiu o muro de Berlim, a fábrica fechou, e a lâmpada de longa duração nunca mais foi fabricada. Agora só pode ser vista em exposições e museus.

Vinte anos após a queda do muro de Berlim, o consumismo desenfreado está presente tanto no leste quanto no oeste. Com uma diferença: na era da Internet, os consumidores estão dispostos a lutar contra a obsolescência programada.

No documentário vemos o caso do comprador de um iPod de 500 dólares, cuja bateria "morreu" que após cerca de um ano uso. Ao ligar para a Apple foi informado que não substituíam a bateria, a recomendação foi que comprasse um novo. O irmão de Casey Neistat, o comprador do iPod e videoartista, teve a ideia de fazer um curta sobre isto. Com um stencil e um spray eles iam pintando, nos anúncios de iPod que viam, "a bateria não substituível do iPod dura apenas 18 meses". O vídeo foi disponibilizado no site deles e no primeiro mês teve 5-6 milhões de visitas. Uma advogada de São Francisco, Elizabeth Pritzkar, ouviu falar do vídeo, e decidiu processar a Apple pela bateria do iPod. Meio século depois do caso do cartel, a obsolescência programada chegava de novo aos tribunais. No começo do litígio, o iPod estava há 2 anos no mercado e a Apple tinha vendido 3 milhões de iPods nos Estados Unidos. Boa parte destes tinham problemas com a bateria, e seus proprietários estavam dispostos a ir aos tribunais, então foram escolhidos consumidores para uma ação coletiva. Em Dezembro de 2003, Elizabeth Pritzkar apresentou a ação perante o Tribunal do Condado de San Mateo, próximo da sede central da Apple. Foram solicitados à Apple diversos documentos técnicos referentes à vida útil da bateria do iPod e foram recebidos muitos dados técnicos sobre o processo de desenho e de testes da bateria. Com isto, soube-se que a bateria de lítio do iPod foi desenhada, desde o princípio, para ter uma vida curta. Depois de meses de tensão, as duas partes chegaram a um acordo. A Apple criou um serviço de troca de baterias e prolongou a garantia para dois anos. A advogada diz que chateia-lhe que a Apple se apresente como uma empresa jovem, moderna e avançada, e não tenha uma política ambiental

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