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Do Amor Platônico ao Amor Patológico

Por:   •  2/3/2018  •  2.081 Palavras (9 Páginas)  •  416 Visualizações

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Um exemplo, comum na época de Kant, eram os indivíduos que se apaixonavam por outros de nível social superior: “apaixonar-se por uma pessoa de uma classe social mais alta e esperar desta loucura um casamento não é a causa, mas a consequência de uma prévia perturbação”.

Schopenhauer, em sua obra O Mundo como Vontade e Representação, publicada em 1819, explicou que o amor seria o último objeto de quase toda preocupação humana porque influenciaria nos assuntos mais relevantes, interrompendo as tarefas mais importantes e desorientando as mentes mais geniais.

Jacques Lacan (1985) baseia-se no amor grego para articular o par amante-amado com a estrutura do amor. Aquele que experimenta a sensação de que alguma coisa lhe falta, mesmo não sabendo o que é, ocupa o lugar de sujeito do desejo (amante); aquele que sente que tem alguma coisa, mesmo não sabendo o que é, ocupa o lugar de objeto (amado). O paradoxo do amor reside justamente no fato de que o que falta ao amante é precisamente o que o amado não tem. Se Eros nasce de uma aspiração impossível, que é de dois fazer um, o ser humano inventa o mito do amor, sustentado na promessa de felicidade. E, enquanto isso não vem, o bem se transforma em mal, inaugurando uma escola de amor infeliz.

Amores impossíveis costumam refletir algo que admiramos: a beleza, a inteligência, o charme ou alguma habilidade especial de certa pessoa que nos faz desejá-la. Ao olharmos para essa profunda admiração, que pode chegar à idolatria, é interessante perceber que aquilo que tanto apreciamos no outro é na verdade aquilo que, de alguma forma, não conseguimos enxergar em nós mesmos.

O fator platônico do amor torna inalcançável externamente aquilo que, na realidade, buscamos dentro de nós mesmos.

Projetamos externamente as possibilidades para conquistar aquilo que só será alcançado dentro de nós, mas que colocamos fora do nosso alcance, de alguma forma nos distanciando de nossa própria realização.

Como explicar que o amor é um sentimento capaz de levar à destruição de si próprio e de quem se ama? É possível que ultrapasse a linha da normalidade para adentrar o universo das patologias? E quando esse sentimento se transforma em obsessão abrindo caminho para o amor patológico?

AMOR PATOLÓGICO

O indivíduo passa a viver exclusivamente para o objeto de afeto, tendo condutas/comportamentos sufocantes com a esperança de receber de volta todo o carinho e atenção doados. Portanto, ao perceberem que dão mais do que recebem, ficam tristes e sofrem. Este tipo de comportamento, quando intenso e feito de forma repetida e com pouco ou nenhum controle, acarreta prejuízos na vida pessoal, profissional, social e o convívio com familiares.

O amor patológico pode ocorrer sozinho, ou juntamente com quadros depressivos, ansiosos e de personalidade dependente.

Existem alguns sintomas e critérios diagnósticos que ajudam na identificação do transtorno:

- abstinência: sinais e sintomas que a pessoa sente quando está longe emocional e fisicamente do parceiro ou ainda corre risco de abandono. Tais como taquicardia, tensão muscular, insônia, sudorese etc;

- sensação de que está cuidando do parceiro em quantidade e intensidade maior do que inicialmente pretendia;

- fracasso nas tentativas de reduzir ou parar prestar a atenção ao parceiro;

- ciume excessivo, a ponto de despender um grande gasto de energia, empenho pessoal e tempo, focando no controle das atividades do parceiro;

- abandono de objetivos, atividades, realizações pessoais e interesses, vivendo em função da vida do parceiro;

Dado todo o prejuízo na qualidade de vida decorrentes deste comportamento, o indivíduo não consegue mudar sua conduta.

A expressão “enlouqueceu de amor” contém algo de inverdade, pois quem enlouquece devido à recusa do ser amado já estava anteriormente perturbado e desorientado, de modo que escolheu a pessoa incoerente com as suas necessidades e valores próprios como objeto de seus afetos e desejos (BORGES, 2000).

Recentemente acompanhamos pelo noticiário que a apresentadora Ana Hickmann foi vítima de disparos em hotel de Belo Horizonte, sábado dia 21/05, Rodrigo Augusto de Pádua, 30 anos, o agressor acabou morto.

O rapaz era obcecado pela apresentadora, como mostraram as postagens dele em redes sociais, Rodrigo chegou a fazer declarações para a apresentadora e a cobrar um relacionamento que não existia.

“Ana, não é possível que vc sinta prazer em me fazer sofrer… Ana, eu estou sofrendo muito, eu faço tudo para te ver feliz, e não entendo pq vc me machuca tanto (…) Bombom, em nome do nosso amor, vc não sabe o quanto dói ser magoado pela pessoa que escolhi amar”

“meu Sol, minha luz, minha princesa, meu amor, minha paixão, mulher da minha vida… Eu te amo e te amarei mesmo depois do fim… Quando não houver mais vida na Terra, e as estrelas, os planetas e todo Universo se transformem em nada”.

Grande parte das pessoas que experimentam o amor patológico, na maioria das vezes, não procura ajuda e se o faz é só quando não suportam mais a amargura, a aflição e frustração devido ao relacionamento.

TRATAMENTO

Segundo Eglacy C. Sophia (2008), o primeiro passo é o paciente ter consciência do problema. O tratamento inclui psicoterapia psicodinâmica, que se fixa aos aspectos conscientes e inconscientes do funcionamento da mente. Esse recurso pode aliviar sintomas que, possivelmente, estão presentes desde a infância.

A psicoterapia é indicada para o desenvolvimento de habilidades mais saudáveis na maneira de amar, assim como são trabalhados os sentimentos de raiva e tristeza, entre outros que possam coexistir.

Tanto a terapia individual quanto a terapia de casal são indicados. Lembrando que quem está envolvido num relacionamento insalubre também precisa de ajuda.

O diagnóstico de um psiquiatra também é considerado importante, pois este pode indicar se a pessoa sofre de algum outro distúrbio, associado ao amor patológico, que poderá ser tratado a partir de medicamentos.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O desejo de saber o que é o amor esbarra com algo inexprimível. De tal modo, o que não pode ser dito e escrito transforma

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