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As instituições da violência - BASAGLIA, Franco

Por:   •  28/11/2018  •  935 Palavras (4 Páginas)  •  416 Visualizações

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Assim, se a comunidade terapêutica pode ser considerada um passo necessário na evolução do hospital psiquiátrico, não pode, entretanto, ser considerada a meta final, mas antes uma fase transitória.

A ação terapêutica nesse contexto se prolongaria na vivência dialética das contradições do real. Se tais contradições não forem ignoradas ou postergadas, na tentativa de construir um mundo ideal e forem enfrentadas dialeticamente, se os abusos cometidos por uns em detrimento dos outros e a técnica do bode expiatório, em vez de serem vistos como inevitáveis, forem dialeticamente discutidos de maneira a permitir-nos que compreendamos as dinâmicas internas, então a comunidade tornar-se-á verdadeiramente terapêutica.

"Se o doente não tem alternativa, se sua vida parece preestabelecida, organizada, e sua participação pessoal consiste na adesão à ordem, sem outra saída possível, ver-se-á prisioneiro do território psiquiátrico da mesma maneira como estava aprisionado no mundo externo, cujas contradições não conseguia enfrentar dialeticamente. Tal como a realidade que não conseguia contestar, a instituição à qual não se pode opor deixa-lhe uma única saída: a fuga através da produção psicótica, o refúgio no delírio, onde não existem nem contradições, nem dialética..."

Portanto, primeiro passo é o da transformação das relações interpessoais entre aqueles que atuam nesse campo. Os técnicos responsáveis pela ação terapêutica terão que assumir a contradição da relação e da realidade e estabelecer com o paciente uma dialética que o provoque e conteste, ao mesmo tempo em que é também controlado e contestado pelo paciente. - Uma ação que fuja da noção de tutela no cuidado e no atendimento.

Com sua representação técnica e social, o médico tem condições de mostrar ao doente o que é a doença e como o tratou a sociedade, que o excluiu.

É através da tomada de consciência de sua condição como excluído e da responsabilidade que teve a sociedade teve nessa exclusão que o vazio emocional em que o doente viveu durante anos será gradualmente substituído por uma carga de agressividade pessoal.

"Portanto, se a instituição do manicômio revelou o caráter profundamente antiterapêutico de suas estruturas, qualquer transformação que não se acompanhe de um trabalho interno que a coloque em discussão a partir da base torna-se inteiramente superficial e de fachada."

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